terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Nova Ponte Sobre o Rio Tejo (Aeroporto e TGV)

Depois de uma passagem pelos jornais diários de hoje a actualidade volta a fazer referência à crise político-institucional em Timor-Leste, na sequência dos atentados a Ramos Horta e a Xanana Gusmão.

Mas, na verdade, não é sobre isto que irei reflectir hoje. Até porque considero que hoje voltou a estar em cima da mesa um assunto que já há uns bons aninhos a esta parte anda a ser discutido na sociedade portuguesa. Que continua a animar conversas de família, amigos, café e até serve para discussões ao nível académico. Pois hoje também vou trazer para aqui a discussão que está envolta sobre o novo aeroporto de Lisboa, o TGV e a construção de uma nova ponte sobre o Tejo.

Porquê?

Porque hoje num seminário realizado pelo LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) está a ser discutido a construção de uma nova ponte sobre o Tejo.

Na verdade, não é negativo a ideia, pelo contrário, bastante positivo...

Mas antes de falar da nova ponte teremos de falar da construção do novo aeroporto de Lisboa e ainda do TGV.

O que eu penso que seja pertinente trazer para aqui é que há precisamente um século atrás, discutia-se exactamente uma situação semelhante sobre a construção de caminhos-de-ferro e se seria rentável para o país ter ou não comboio.

Volvidos cem anos, discutimos se é rentável ou não um novo aeroporto, a existência de um TGV e até se será preciso a existência de uma nova ponte sobre o Tejo.

Tudo o que é desenvolvimento e coisas novas deverão ser benvindas ao país. Mas o problema não é este... Tudo é olhado com desconfiança.

Actualmente, este assunto é abordado em três vectores: Política, Economia e Sociedade. E os três com o mesmo eixo: interesses.

Senão repare-se:

No campo político tudo serve para legitimar e reivindicar um verdadeiro estudo que possa contribuir para ganhar eleitorado. Senão vejamos a maior parte dos autarcas que vão beneficiar do aeroporto de Alcochete, por acaso, são do PS. Enquanto que na Ota a maior parte são do PSD. Não estou com isto a querer dizer que sou favorável à Ota, ou que sou favorável a Alcochete, respectivamente à localização do aeroporto. Ou que estou a criticar o PS, ou o PSD. A verdade acima de tudo. A verdade é que tudo serve, nem que para isso se tenha que ridicularizar os académicos deste país em nome (sabe-se lá) de que interesses.

No campo económico, passa-se exactamente o mesmo. Quantas são as empresas, indústrias que vão beneficiar com aeroporto de Alcochete? (ou melhor) Qual será a grande empresa nacional que lucrará com aquela localização? Provavelmente mais que na Ota...

No campo social, basta vermos neste momento irmos ao terreno e vermos o que se está por lá a passar. Uma viajem ao concelho de Montijo, Benavente, Coruche e Alcochete para se ver neste momento a quantidade de terrenos, imóveis, que no dia que saiu a decisão (à muito tempo decidido) sobre a localização do aeroporto em Alcochete, muitos proprietários colocaram à venda os seus terrenos e alguns imóveis. Basta olharmos para o caso de Canha (uma freguesia do concelho de Montijo) que se prepara para receber um grande empreendimento patrocinado pelo Sr. Belmiro de Azevedo. O mais inacreditável de tudo é que entre Benavente, Alcochete e Montijo já existe uma discussão feroz, para se saber qual é o concelho que o aeroporto vai estar mais localizado. Se é em Montijo, Alcochete ou Benavente...

E fala-se no aeroporto, como se pode falar a seguir no TGV, já que estão interligados...
E na questão do TGV os três vectores acima indicados estão lá com mais um... o provincianismo e o bairrismo e ainda bem enraízado neste país no príncipio do séc. XXI.
Basta olhar para a discussão por onde vai passar o TGV. As rivalidades entre cidades. Se passa em Évora, se passa em Beja, se passa passa em Santarém. Enfim uma panóplia de soluções feitas em cima do joelho, onde são jogados os interesses dos grandes e que os pequenos vão atrás por arrasto.

E já nem falo do aeroporto internacional de Beja, que está neste momento em construção e que vemos Évora, Portalegre a rivalizarem com Beja por esta ir ter um aeroporto internacional. Que provincianismo, que bairrismo, que clubite. E o país lá vai ficando perdido nos anais da História.

E quando se fala da nova ponte então a história repete-se. Imagine-se estão três locais em cima da mesa para se decidir. Passo a identificá-los: Alcochete-Alverca; Chelas-Barreiro e Beato-Montijo. O que resta saber é qual é a grande empresa, o partido político, ou a autarquia ou a população que sairá beneficiada desta situação. Ou melhor quem jogará mais alto e quem influencirá melhor.

Este é um sinal, talvez, da grande pobreza que assola este país e que ninguém quer reconhcer. Olhamos para Londres, olhamos para Paris ou para Nova York. Porque é que estas cidades são o que são? Porque talvez apostaram naquilo que tinham e não se puseram com imitações baratas. À cem anos Lisboa já era uma aldeia junto das suas congéneres europeias. Não mudou muito.

Um país que no virar do século se encontra cada vez mais pobre e mais desigual. Como há cem anos atrás. De que serviu uma Revolução Liberal, Revolução Republicana, Revolução dos Cravos? E será que existiu mesmo uma revolução, no verdadeiro conceito da palavra em Portugal? Penso que não...

A verdade é que este país, talvez há 800 anos que anda a falar em reformas profundas, que é preciso mudar, que é preciso um D. Sebastião para nos vir salvar.
Um país é aquilo que os cidadãos querem que ele seja.
Acho que dois textos ajudariam a compreender melhor todo este artigo: O capítulo: "A corrida de cavalos", in "os Maias" de Eça de Queiróz e ainda em http://comboios.home.sapo.pt/hist_p.html, poderão constatar que nada mudou, ou que pouco mudou.

Sem dúvida, um sinal do tempo...