terça-feira, 31 de julho de 2012

Da Autobiografia de Santo Inácio, redigida pelo Padre Luís Gonçalves da Câmara

Inácio gostava muito de ler livros mundanos e fantasistas, que costumam chamar-se «de cavalaria». Quando se sentiu livre de perigo, pediu que lhe dessem alguns deste género para passar o tempo. Mas não se tendo encontrado naquela casa nenhum livro desses, deram-lhe a «Vita Christi» e um livro da vida dos Santos, ambos em vernáculo.
Com a leitura frequente destas obras, começou a ganhar algum gosto pelas coisas que ali estavam escritas. Mas deixando de as ler, detinha-se a pensar algumas vezes naquilo que tinha lido e outras vezes nas coisas do mundo em que antes costumava pensar.
Entretanto, Nosso Senhor vinha em seu auxílio, fazendo com que a estes pensamentos se sucedessem outros, sugeridos pelas novas leituras. De facto, lendo a vida de Nosso Senhor e dos Santos, detinha-se a pensar consigo mesmo: «E se eu fizesse como fez São Francisco e como fez São Domingos?». E reflectia em muitas coisas destas, durante longo tempo. Mas sobrevinham-lhe depois os pensamentos mundanos de que acima se fala, e também neles se demorava longamente. E esta sucessão de pensamentos durou muito tempo.
Mas havia esta diferença: quando se entretinha com os pensamentos mundanos, sentia grande prazer; e logo que, já cansado, os deixava, ficava triste e árido de espírito; quando, porém, pensava em seguir os rigores dos Santos, não somente sentia consolação enquanto neles pensava, mas também ficava contente e alegre depois de os deixar.
No entanto, não advertia nem considerava esta diferença, até que uma vez se lhe abriram os olhos da alma e começou a admirar-se desta diferença e a reflectir sobre ela; e compreendeu por experiência própria que um género de pensamentos lhe deixava tristeza e o outro alegria.
Mais tarde, quando fez os Exercícios Espirituais, foi desta experiência que tomou as primeiras luzes para compreender e ensinar aos seus irmãos o discernimento de espíritos.

 (Cap. 1, 5-9: Acta Sanctorum Iulii, 7 [1868] 647) (Sec. XVI)
in Liturgia das Horas

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo

Quando a Virgem concebe, virgem dá à luz e permanece virgem, isso não entra na ordem da natureza, mas dos sinais divinos; não é segundo a razão humana, mas conforme ao poder de Deus; é o Criador que actua, não a natureza humana; não é caso comum, mas único; é obra divina e não humana. O nascimento de Cristo não foi consequência necessária da natureza, mas do poder de Deus. Foi o mistério da piedade, a redenção da humanidade. Aquele que, sem nascer, fez o homem do barro intacto, fez-Se homem nascendo de um corpo também intacto. A mão que se dignou tomar o barro para formar o nosso corpo, também se dignou tomar a nossa carne para nos salvar. Por isso, o facto de o Criador estar na sua criatura e de Deus habitar em carne humana, é uma honra para a criatura e não uma afronta para o Criador.
Ó homem, porque te consideras tão vil, tu que és tão precioso para Deus? Porque é que, sendo tu tão honrado por Deus, tanto te desonras a ti mesmo? Porque perguntas de que é que foste feito e não queres saber para que foste feito? Porventura todo este mundo que vês não foi feito para ser tua morada? Para ti foi criada a luz que dissipa as trevas que te circundam; para ti foi regulada a sucessão dos dias e das noites; para ti foi iluminado o céu com o variado fulgor do sol, da lua e das estrelas; para ti foi ornamentada a terra com flores, bosques e frutos; para ti foi criada a admirável multidão dos seres vivos que habitam nos ares, nos campos e nas águas, a fim de que uma triste solidão te não ensombrasse a alegria do mundo recém-criado.
Mas o teu Criador pensou no modo de aumentar ainda mais a tua glória: gravou em ti a sua própria imagem, para que houvesse na terra uma imagem visível do Criador invisível, e colocou-te como seu representante sobre as coisas terrenas, para que um domínio tão vasto como é o mundo não ficasse privado de um vicário do seu Senhor.
Deus, na sua bondade, assumiu em Si o que para Si tinha feito em ti; quis ser visto realmente no homem, onde antes apenas era contemplado como imagem; quis que nele fosse uma realidade o que antes era apenas uma semelhança.
Cristo nasce, portanto, para renovar com o seu nascimento a natureza corrompida; fez-Se criança, quis ser alimentado, passou pelas diversas idades da vida humana, para restaurar a única idade perfeita e permanente como Ele a tinha criado; toma sobre Si a vida humana, para que o homem não volte a cair; tinha-o feito terreno e torna-o celeste; tinha-lhe dado uma alma humana e agora comunica-lhe o espírito divino; e assim eleva o homem à dignidade divina, para que desapareça tudo o que nele havia de pecado, de morte, de fadiga, de sofrimento, de terreno, pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus e vive e reina com o Pai na unidade do Espírito Santo, agora e sempre e pelos infinitos séculos dos séculos. Amen.

 (Sermão 148: PL 52, 596-598) (Sec. V)
in Liturgia das Horas

domingo, 29 de julho de 2012

No Domingo XVII do Tempo Comum

Cidade do Vaticano (RV) - Para quem diz que a religião deve se preocupar apenas com o espírito, deverá surpreender o tema deste domingo onde na primeira leitura e no Evangelho o pão é multiplicado para que todos se alimentem bem. Aliás, na Sagrada Escritura, o verbo comer aparece quase mil vezes, enquanto que rezar só umas cem.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu não aceita comer, em uma situação de penúria, de fome mesmo, os 20 pães que um devoto de outro lugar lhe traz. Ele diz a esse bom homem que o distribua aos seus cem seguidores. O benfeitor diz ser impossível, que o pão é pouco e os ouvintes são cinco vezes mais. Eliseu ordena, confiando na Palavra de Deus dita a ele. “O homem distribuiu e ainda sobrou” nos diz a Sagrada Escritura.
Naquela época isso aconteceu, bem como outros sinais semelhantes, para que o povo confiasse só em Deus e não nos ídolos. Deus se preocupa com nossas necessidades materiais, mas quer a nossa colaboração. Por isso a multiplicação do que foi trazido, do esforço físico de quem trabalhou, da solicitude de quem o trouxe e da generosidade e fé do profeta, que não reteve o dom para si, mas ensinou o homem a partilhar o que Deus criou para todos.
A atitude de Eliseu faz Deus ser verdadeiro e não mentiroso, já que o Senhor havia dito “Comerão e ainda sobrará”.
Em nossa realidade social somos os primeiros a fazer Deus passar por mentiroso, quando vivemos no Brasil, país que faz parte do grupo G20, e apesar disso temos mais de 10 milhões de pessoas vivendo abaixo da “pobreza absoluta”. País tão rico e população tão pobre! Deus não é mentiroso, nós é que somos egoístas e não queremos abrir mão de nossos pães que sobram para saciar a fome dos irmãos.
E não é só o pão. É a saúde, as vestes, o afeto, a educação, tudo aquilo que depende de nós, porque nós os temos, pouco até, mas os temos. Se confiarmos em Deus, Ele cumprirá sua Palavra e do pouco sobrará bastante. Conta-se que São Vicente de Paulo ao chegar à cidade em que foi destinado como pároco, assistiu a morte de uma senhora e ficou penalizado por ter deixado sua filhinha de pouca idade. Após o sepultamento perguntou à população bastante pobre, quem tinha mais filhos e apareceu uma mãe com seus quatro filhos. Aí São Vicente entregou a ela a pequena órfã e ele acrescentou, mais ou menos assim: quem tem menos posses e mais filhos, sabe dividir e aceita o novo membro como bênção.
No Evangelho, ao mandar as pessoas se sentarem, Jesus quer dizer que todos são cidadãos livres, já que os escravos não se sentavam para comer. Mais ainda, no projeto de Jesus não ensina primeiro acumular para depois dividir, mas partilhar o que cada um possui, para que todos fiquem saciados.
Esta é a autêntica Eucaristia, o dom de Deus, associado ao esforço das pessoas, em vista da partilha, da fraternidade e da igualdade.
E a Carta de Paulo aos Efésios nos diz que há “um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos”.
Que nosso testemunho de crer no Deus único e verdadeiro no leve a colocar as mãos em nosso bolso e partilhar tudo aquilo que recebemos ou produzimos porque dele tudo recebemos para partilhar, para sermos irmãos.

in news.va

sábado, 28 de julho de 2012

Dos Sermoes do Beato John Henry Newman, presbítero

Há escândalos na Igreja, coisas repreensíveis e vergonhosas; nenhum católico poderá negá-lo. Ela sempre incorreu na censura e na vergonha de ser mãe de filhos indignos; ela tem filhos que são bons e tem muitos mais que são maus. [...] Deus poderia ter instituído uma Igreja pura; mas previu que o joio semeado pelo inimigo permaneceria com o trigo até à ceifa, até ao fim do mundo. Afirmou que a Sua Igreja seria semelhante a uma rede de pescador «que apanha toda a espécie de peixes», que apenas são separados à noite (Mt 13,47ss). Indo mais longe, declarou que os maus e os imperfeitos seriam em maior número que os bons, «porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos» (Mt 22,14); e o Seu apóstolo diz que «aqueles que foram reservados segundo a escolha da graça, foram salvos» (Rm 11,5). Percebe-se assim que, na história e na vida dos católicos, há sempre muito para servir os interesses dos contraditores. [...]


Mas não baixamos a cabeça com vergonha, escondendo o rosto entre as mãos: levantamos as mãos e o rosto em direcção ao Redentor. «Assim como os olhos dos servos se fixam na mão dos seus senhores [...], assim também os nossos olhos estão postos no Senhor nosso Deus, até que Ele tenha piedade de nós» (Sl 122,2). [...] Apelamos a Ti, justo juiz, pois és Tu que olhas para nós. Não fazemos caso dos homens enquanto Te tivermos [...], enquanto tivermos a Tua presença nas nossas assembleias, o Teu testemunho e a Tua aprovação no nosso coração.


in evangelhoquotidiano.org

sexta-feira, 27 de julho de 2012

De São Pio de Pietrelcina, presbítero capuchinho

Avança com simplicidade nas vias do Senhor e não te preocupes. Odeia os teus defeitos, sim, mas tranquilamente, sem agitação nem inquietação. Há que ter paciência e tirar proveito deles com santa humildade. Se não houver paciência, em lugar de desaparecerem, as tuas imperfeições apenas crescerão. Pois não há nada que aumente tanto os nossos defeitos como a inquietação e a obsessão de nos libertarmos deles.


Cultiva a tua vinha de comum acordo com Jesus. Cabe-te a ti a tarefa de retirar as pedras e arrancar os espinhos. A Jesus cabe a de semear, plantar, cultivar e regar. Mas mesmo no teu trabalho, é Ele que actua. Porque sem Cristo não conseguirias fazer nada. 

in evangelhoquotidiano.org

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Dos Sermões de São João Damasceno, bispo

Porque estava determinado que de Ana havia de nascer a Virgem Mãe de Deus, a natureza não ousou preceder o germe da graça; mas para dar o seu fruto, esperou que a graça produzisse o seu. Convinha, de facto, que nascesse aquela Primogénita de quem havia de nascer o Primogénito de toda a criatura, no qual subsistem todas as coisas.
Oh bem-aventurados esposos Joaquim e Ana! Toda a criatura vos está obrigada. Porque foi por vosso intermédio que a criatura ofereceu ao Criador o melhor de todos os dons, isto é, a Virgem Mãe, a única que era digna do Criador.
Alegrai-vos, Ana estéril, que não tínheis filhos; soltai brados de júbilo e alegria, Vós que não dáveis à luz. Exultai, Joaquim, porque da vossa filha nos nasceu um Menino e nos foi dado um Filho e o seu nome será Anjo do grande conselho, de salvação para todo o mundo, Deus forte. Este Menino é Deus.
Oh bem-aventurados esposos, Joaquim e Ana, verdadeiramente sem mancha! Sois conhecidos pelo fruto do vosso ventre, como disse uma vez o Senhor: Pelos seus frutos os conhecereis. Estabelecestes as normas da vossa vida do modo mais agradável a Deus e digno d’Aquela que de vós nasceu. No vosso convívio casto e santo educastes a pérola da virgindade, Aquela que havia de ser virgem antes do parto, virgem no parto e ainda virgem depois do parto; Aquela que, de modo único e excepcional, conservaria sempre a virgindade, tanto na sua mente como na sua alma e no seu corpo.
Oh castíssimos esposos, Joaquim e Ana! Guardando a castidade prescrita pela lei natural, conseguistes alcançar, por graça de Deus, o que excede a natureza, porque gerastes para o mundo a Mãe de Deus, Mãe sem conhecer varão. Levando ao longo da existência humana uma vida piedosa e santa, gerastes uma filha que é superior aos Anjos e agora é rainha dos Anjos.
Ó donzela formosíssima e dulcíssima! Ó Filha de Adão e Mãe de Deus! Bem-aventurado o pai e a mãe que Vos geraram! Bem-aventurados os braços que Vos estreitaram em seu regaço e os lábios que Vos beijaram castamente, isto é, unicamente os de vossos pais, para que sempre e em tudo conservásseis a perfeita virgindade! Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai. Levantai a vossa voz; clamai e não temais.

 (Sermão do Nascimento da B. V. Maria, 2.4.5.6: PG 96, 663.667.670) (Sec. VIII)
in Liturgia das Horas

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo, sobre o Evangelho de São Mateus

Os filhos de Zebedeu pedem a Cristo: Concede-nos que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda. Que lhes responde o Senhor? Para mostrar que no seu pedido nada havia de espiritual e se soubessem o que pediam não se teriam atrevido a fazê-lo, responde: Não sabeis o que pedis, isto é, não sabeis como é grande, admirável e superior aos próprios poderes celestes aquilo que pedis. Depois acrescenta: Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber e ser baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado? É como se lhes dissesse: «Na verdade, vós falais-me de honras e de coroas; mas eu falo-vos de lutas e suores. Não é este o tempo dos prémios, nem é agora que se há-de manifestar a minha glória; a vida presente é tempo de morte violenta, de guerras e de perigos».
E reparai como os atrai e exorta, pela maneira de interrogar. Não lhes pergunta se são capazes de morrer, de derramar o seu sangue; mas pergunta: Podeis beber o cálice – e para os animar acrescenta – que Eu hei-de beber? Assim pensava o Senhor que seriam mais decididos, ao considerarem que se tratava de correr a mesma sorte. E chama à sua paixão «baptismo», para dar a entender que os seus sofrimentos haviam de trazer uma grande purificação para o mundo inteiro. Os dois discípulos respondem: Podemos. Prometem imediatamente, cheios de fervor, sem saber o que dizem, mas com a esperança de virem a alcançar o que pediam.
Que disse então o Senhor? Bebereis o cálice que Eu hei-de beber e sereis baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado. Grandes são os bens que lhes anuncia, isto é: «Sereis dignos de receber o martírio e sofrereis comigo, terminareis a vida com morte violenta e assim participareis na minha paixão. Mas sentar-vos à minha direita e à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo, mas é para aqueles para quem foi preparado por meu Pai». Depois de lhes ter levantado o espírito e de os ter tornado mais perfeitos e capazes de superar o sofrimento, só então corrige a sua petição.
Então os outros dez indignaram-se por causa dos dois irmãos. Vede como todos eles eram imperfeitos, tanto os que procuravam obter precedência sobre os outros dez, como os dez que tinham inveja dos dois. Mas, – como já tive ocasião de vos dizer – observai-os mais tarde e vereis como estão livres de todos estes sentimentos. Este mesmo apóstolo João, que se adianta agora por este motivo, cederá sempre o primeiro lugar a Pedro, quer para usar da palavra quer para fazer milagres, como se lê nos Actos dos Apóstolos. Tiago, porém, não viveu muito mais tempo. Desde o princípio [desde o Pentecostes], ele se deixou arrebatar pelo seu ardor e, pondo de parte toda a aspiração humana, ascendeu a tão inefável altura que depressa recebeu a coroa do martírio.

 (Hom. 65, 2-4: PG 58, 619-622) (Sec. IV)
in Liturgia das Horas

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dos Escritos Espirituais de São Rafael Arnaiz Baron, monge trapista espanhol

Querer somente o que Deus quer é lógico para quem está verdadeiramente apaixonado por Ele. Fora dos Seus desejos, nós nada desejamos, e se desejássemos, era apenas o que é conforme à Sua vontade; se assim não fosse, a nossa vontade não estaria unida à Sua. Mas, se estivermos verdadeiramente unidos, por amor, à Sua vontade, não desejaremos nada que Ele não deseje, não amaremos nada que Ele não ame e, abandonados à Sua vontade, ser-nos-á indiferente o que Ele nos envie ou onde nos coloque. Tudo o que Ele quiser de nós ser-nos-á, não apenas indiferente mas, mais do que isso, agradável.


Não sei se me engano em tudo o que digo; submeto-me em tudo Àquele que entende estas coisas; digo somente o que sinto. Na verdade, não desejo mais nada a não ser amá-Lo e tudo o resto entrego nas Suas mãos. Faça-se a Sua vontade! A cada dia me sinto mais feliz, no meu completo abandono nas Suas mãos.

in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Das orações atribuídas a Santa Brígida

Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que predissestes a vossa morte e na última ceia consagrastes maravilhosamente o pão material, transformando-o no vosso Corpo glorioso, e por amor O destes aos Apóstolos como memorial da vossa digníssima paixão, e lhes lavastes os pés com vossas santas e preciosas mãos, manifestando assim a imensa grandeza da vossa humildade.
Honra Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, que suastes sangue do vosso corpo inocente ante o temor da paixão e da morte, prosseguindo no entanto o desígnio de consumar a nossa redenção, mostrando assim claramente o vosso amor para com o género humano.
Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que fostes levado à presença de Caifás e, sendo Vós o juiz de todos, humildemente permitistes que Vos entregassem ao julgamento de Pilatos.
Glória Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, pelo escárnio que sofrestes ao serdes revestido dum manto de púrpura e coroado de agudos espinhos, e por terdes suportado, com infinita paciência, que cuspissem no vosso rosto glorioso, velassem os vossos olhos e Vos batessem brutalmente na face e no pescoço, com mãos sacrílegas e desumanas.
Louvor Vos seja dado, meu Senhor Jesus Cristo, que permitistes com grande paciência ser atado à coluna, ser cruelmente flagelado e conduzido ao tribunal de Pilatos coberto de sangue, aparecendo à vista de todos como inocente cordeiro levado ao matadouro.
Honra Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, que, tendo o vosso glorioso corpo ensanguentado, fostes condenado à morte de cruz, transportastes dolorosamente aos vossos sagrados ombros o duro madeiro e, conduzido com fúria ao lugar do suplício e despojado das vossas vestes, assim desejastes ser cravado no lenho da cruz.
Honra Vos seja dada para sempre, Senhor Jesus Cristo, que no meio de tais angústias olhastes com grande bondade e amor para a vossa Mãe digníssima, que nunca pecou nem consentiu na menor falta; e, a fim de a consolar, a confiastes à protecção do vosso fiel discípulo.
Bendito sejais eternamente, meu Senhor Jesus Cristo, que na vossa mortal agonia destes a todos os pecadores a esperança do perdão, ao prometer misericordiosamente a glória do paraíso ao ladrão arrependido.
Louvor eterno Vos seja dado, meu Senhor Jesus Cristo, por todos os momentos em que por nós pecadores suportastes na cruz as maiores amarguras e angústias; porque as dores agudíssimas das vossas chagas penetravam ferozmente na vossa alma bem-aventurada e trespassavam cruelmente o vosso peito sacratíssimo e, com um estremecimento do coração, exalastes suavemente o espírito; e inclinando a cabeça, entregastes humildemente o espírito nas mãos de Deus Pai, enquanto o vosso corpo cedia à rigidez da morte.
Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que com vosso precioso sangue e a vossa morte sacratíssima remistes as almas e as reconduzistes misericordiosamente deste exílio para a vida eterna.
Bendito sejais, meu Senhor Jesus Cristo, que, para nossa salvação, permitistes que o vosso lado e o vosso coração fossem trespassados pela lança e fizestes brotar abundantemente do vosso peito sangue e água para nossa redenção.
Glória Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, porque quisestes que o vosso bendito corpo fosse descido da cruz pelos vossos amigos e reclinado nos braços da vossa Mãe dolorosíssima, e que ela o envolvesse em panos; que fosse depositado no sepulcro e guardado pelos soldados.
Honra sempiterna Vos seja dada, meu Senhor Jesus Cristo, que ao terceiro dia ressuscitastes dos mortos e Vos manifestastes vivo àqueles que escolhestes e, quarenta dias depois, à vista de muita gente, subistes ao Céu e aí colocastes com toda a honra os vossos amigos que havíeis libertado do limbo.
Louvor e glória eterna a Vós, Senhor Jesus Cristo, que enviastes o Espírito Santo aos corações dos discípulos e comunicastes às suas almas o imenso amor divino.
Bendito, louvado e glorificado sejais pelos séculos, meu Senhor Jesus, que estais sentado sobre o trono do vosso reino dos Céus, na glória da vossa divindade, onde viveis corporalmente com todos os vossos santíssimos membros que assumistes da carne da Virgem. E assim haveis de vir no dia de juízo para julgar as almas de todos os vivos e os mortos: Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amen.

(Oração 2: Revelationum S. Birgittae líbri, 2, Romae 1628, pp. 408-410) (Sec. XIV)
in Liturgia das Horas

domingo, 22 de julho de 2012

No Domingo XVI do Tempo Comum

Cidade do Vaticano (RV) - A primeira leitura nos mostra a repreensão que Deus, através do Profeta Jeremias, fez aos últimos reis de Israel daquele tempo, Joaquim e Sedecias, por não terem cuidado do povo que então foi levado, como escravo, para a Babilônia.
Como sempre, desde o Gênesis, Deus não se deixa derrotar pelas más ações humanas e o amor vence. Imediatamente após a chamada e atenção e ao aviso do castigo, o Senhor anuncia a vinda de pastores de verdade, que zelem pelo rebanho e vai mais além, o Senhor vai suscitar um rei dentre os descendentes de Davi. Esse rei “fará valer a justiça e a retidão na terra”. Isso aconteceu com a vinda de Jesus Cristo, não trazendo de volta o esplendor de Salomão, mas a transformação dos corações. Aí está o diferencial dos novos pastores, não dando primazia àquilo que poderá corromper os humanos e que passa, mas àquilo que os tornará filhos de Deus e irmãos de todos, àquilo que é eterno.
Também nós deveríamos, em um exame de consciência, verificar se não traímos a confiança em nós depositada por Deus, pela família, pelos amigos e até por nós mesmos, quando fomos infiéis aos nossos propósitos. Para sabermos que estamos no bom caminho, se a autoridade, seja ela qual for, tem aprovação divina ou não, deveremos examinar o que é feito em favor da justiça e do direito, se a liderança é usada para servir, mesmo perdendo privilégios.
No Evangelho, São Marcos nos dá uma grande lição: a necessidade de ao terminarmos um trabalho, fazermos sua avaliação à luz de Deus. É isso que significa os discípulos voltarem realizados de suas atividades pastorais e relatarem para Jesus o que havia acontecido. É necessário que o agente pastoral, que o leigo cristão, não sucumba no ativismo, mas o que fizer seja fruto da oração, que tenha escutado Deus. Não basta uma simples reflexão humana, é preciso rezar, dialogar com o Senhor e ouvir o que nos diz, em nossa mente e em nosso coração, de nossas atividades. Também é importante sentir, na oração, a comunidade, a família. Após o exame com Jesus e um breve descanso, os discípulos voltam ao trabalho. É assim nossa vida?
A segunda leitura nos traz São Paulo falando aos Efésios, dizendo que de dois povos, Jesus fez um só, “estabelecendo a paz”. Não existe mais judeus e pagãos. O bom pastor busca e leva à unidade. Ele reconcilia os homens entre si e com Deus. E isso deve ser buscado sempre, mesmo com sacrifícios, pois Jesus a realizou em sua cruz. Nela ele destruiu a inimizade.
Que nada em nossa vida fique sem ser passado pelo filtro da fé, da caridade e que nossa presença seja propiciadora da amizade das pessoas entre si e com Deus. Sejamos bons pastores, conduzamos a ovelhas a nós confiadas ao prado da alegria, da justiça e da caridade. Que elas se sintam realizadas! (CA)

in news.va

sábado, 21 de julho de 2012

Dos Sermões de São Lourenço de Brindes, presbítero

Para viver a vida espiritual, que nós possuímos tal como os Anjos do Céu e os espíritos divinos, pois como eles fomos criados à imagem e semelhança de Deus, é necessário o pão da graça do Espírito Santo e da caridade de Deus. Mas a graça e a caridade nada são sem a fé, porque sem fé é impossível agradar a Deus. E a fé não se alcança sem a pregação da palavra de Deus: A fé vem da pregação, e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo. Portanto a pregação da palavra de Deus é necessária para a vida espiritual, como a sementeira é necessária para a vida corporal.
Por isso dizia Cristo: Saiu o semeador a semear a sua semente. Saiu o semeador a anunciar a justiça. E, como lemos na Escritura, o arauto da justiça foi algumas vezes o próprio Deus: como fez no deserto, quando deu a todo o povo, de viva voz, vinda do céu, a lei da justiça. Outras vezes foi um anjo do Senhor, como aquele que, no «lugar do pranto» repreendeu o povo por causa da transgressão da lei divina; e todos os filhos de Israel, ao ouvirem a exortação do anjo, se arrependeram em seu coração e choraram amargamente com grandes lamentações. Também Moisés pregou a todo o povo a lei do Senhor, nos campos de Moab, como se lê no Deuteronómio. Finalmente, veio Cristo, Deus e homem, para pregar a palavra de Deus. E para esse mesmo fim enviou os Apóstolos, como antes enviara os Profetas.
Por conseguinte, a pregação é um dever apostólico, angélico, cristão, divino. Assim se manifesta por meio da palavra de Deus a multiforme riqueza da sua bondade, porque ela é um tesouro onde se encerram todos os bens. Dela procedem a fé, a esperança e a caridade, todas as virtudes, todos os dons do Espírito Santo, todas as bem-aventuranças do Evangelho, todas as boas obras, todos os méritos da vida, toda a glória do paraíso: Recebei a palavra que em vós foi semeada e que pode salvar as vossas almas.
Na verdade, a palavra do Senhor é luz para a inteligência, fogo para a vontade; por meio dela pode o homem conhecer e amar a Deus. Para o homem interior que, pela graça, vive do Espírito Santo, é pão e água, mas um pão mais doce do que o mel e o favo, e uma água melhor do que o vinho e o leite. É um tesouro de méritos para a alma espiritual, e por isso é comparada ao ouro e à pedra preciosa. É o martelo que abranda a dureza do coração obstinado nos vícios; é espada que mata todo o pecado na luta contra a carne, o mundo e o demónio.

 (Sermão da Quaresma 2: Opera Omnia 5, 1, nn. 48.50.52) (Sec. XVII)
in Liturgia das Horas

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Da Epístola dita de Barnabé

A respeito do sábado está escrito: «As [vossas] celebrações lunares, os sábados, as reuniões de culto, as festas e as solenidades são-Me insuportáveis» (Is 1,13). Considerai esta palavra: «Não são os sábados actuais que Me agradam, mas o sábado que Eu farei quando, tendo posto fim ao universo, fizer surgir um oitavo dia que será a aurora de um mundo novo». Eis por que razão celebramos com alegria este oitavo dia em que Jesus ressuscitou dos mortos, Se manifestou e depois subiu aos céus.


A respeito do Templo, evocarei o erro desses infelizes que puseram a sua esperança no edifício, a pretexto de ser a casa de Deus, em vez de a porem no Deus que os criou. [...] Examinemos se ainda existe um templo para Deus. Sim, existe, e está lá, onde Ele mesmo afirma tê-lo construído e adornado. Porque está escrito : «Edificarão Jerusalém com magnificência, e nela a casa de Deus» (Tb 14,5). Constato então que esse templo existe. Mas como construí-lo em nome do Senhor? Escutai. Antes de termos fé, o nosso coração era uma habitação frágil e caduca, parecida com um templo construído pela mão do homem. Estava cheio de cultos a ídolos, servia de covil aos demónios, de tal forma os nossos empreendimentos iam contra os desígnios de Deus.


Mas «edificarão Jerusalém com magnificência, e nela a casa de Deus». Vigiai para que esse templo seja construído «com magnificência». Como? Recebendo a remissão dos pecados, pondo a nossa esperança no Seu nome, tornando-nos homens novos, recriados como na origem. Então Deus habitará verdadeiramente no nosso coração, que se tornará Sua morada.

in evangelhoquotidiano.org

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Da Beata Teresa de Calcutá

Para nos tornarmos santos, precisamos de humildade e oração. Jesus ensinou-nos a rezar e também nos disse para aprendermos, seguindo o Seu exemplo, a ser mansos e humildes de coração. Só alcançaremos uma e outra coisa se soubermos o que é o silêncio. Tanto a humildade como a oração provêm de um ouvido, de uma inteligência e de uma língua que provaram o silêncio junto de Deus, pois Deus fala no silêncio do coração. Esforcemo-nos verdadeiramente por aprender a lição de santidade de Jesus, cujo coração era manso e humilde. A primeira lição dada por este coração é a de examinarmos a nossa consciência, sendo que o resto – amar, servir – surge logo a seguir. Este exame não é exclusivamente da nossa competência, mas releva de uma colaboração entre nós e Jesus. Não vale a pena perder tempo a contemplar inutilmente as nossas misérias; trata-se, isso sim, de elevar o coração a Deus e deixar que a Sua luz nos ilumine.


Se fores humilde, nada te afectará, nem a lisonja, nem a desgraça, pois saberás o que és. Se te repreenderem, não te sentirás desencorajado; e se alguém te disser que és santo, não te colocarás num pedestal. Se fores santo, agradece a Deus; se fores pecador, não te fiques por aí. Cristo diz-te para aspirares muito alto: não para seres como Abraão ou David, ou como qualquer outro santo, mas como o nosso Pai celeste (Mt 5,48). «Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi» (Jo 15,16).

in evangelhoquotidiano.org

terça-feira, 17 de julho de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo

Considera a sabedoria de Paulo. Que diz ele? Penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de manifestar em nós. Então, diz ele, porque me falais dos tormentos, dos altares, dos algozes, dos suplícios, da fome, do exílio, das privações, das cadeias e das algemas? Embora apresenteis todas as coisas que atormentam os homens, nada podeis mencionar que seja digno daquele prémio, daquela coroa, daquela recompensa. Porque as provações acabam-se com a vida presente, ao passo que a recompensa é imortal, permanece para sempre.
A isto mesmo aludia o Apóstolo noutro lugar: As leves e passageiras tribulações do momento presente. Ele diminui a qualidade com a quantidade e alivia a dureza com a brevidade do tempo. Como as tribulações que então sofriam eram por sua natureza penosas e duras, Paulo serve-se da sua brevidade para diminuir a sua dureza, dizendo: As leves e passageiras tribulações do momento presente preparam-nos, para além de toda e qualquer medida, o peso eterno de uma sublime e incomparável glória. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis; as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas.
Vede como é grande a glória que acompanha a tribulação! Vós próprios sois testemunhas do que dizemos. Ainda antes que os mártires tenham recebido as suas recompensas, os seus prémios, as suas coroas, enquanto se vão ainda transformando em pó e cinza, já nós acorremos com entusiasmo para os honrar, convocamos uma assembleia espiritual, proclamamos o seu triunfo, exaltamos o sangue que derramaram, os tormentos, os golpes, as aflições e as angústias que sofreram; e, deste modo, as próprias tribulações são para eles uma fonte de glória, ainda antes da recompensa final.
Depois de termos reflectido nestas verdades, irmãos caríssimos, suportemos generosamente todas as adversidades que sobrevierem. Se Deus as permite, é porque são para nossa utilidade. Longe de desesperarmos ou perdermos a coragem ante a dureza dos sofrimentos, resistamos com fortaleza e dêmos graças a Deus pelos benefícios que nos concedeu, a fim de que, depois de gozarmos dos seus dons na vida presente, alcancemos os bens da vida futura, pela graça, misericórdia e bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual, com o Pai e o Espírito Santo, pertence a glória e o poder, agora e para sempre e por todos os séculos. Amen.

 (Hom. Sobre a glória nas tribulações 2.4: PG 51, 158-159.162.164) (Sec. IV)
in Liturgia das Horas

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dos Sermões de São Leão Magno, papa

Foi escolhida uma virgem da descendência real de David, que, destinada a receber em seu seio o gérmen sagrado, antes de conceber corporalmente a seu Filho, Deus e homem, concebeu-O em seu espírito. E para evitar que, desconhecendo o desígnio de Deus, Ela se perturbasse perante efeitos tão inesperados, foi informada, no colóquio com o Anjo, sobre o que se ia operar por virtude do Espírito Santo. E acreditou que, estando para ser em breve Mãe de Deus, não sofreria dano a sua pureza. Como podia duvidar deste género de concepção tão original Aquela a quem é prometida a eficácia do poder do Altíssimo? A sua fé e confiança são confirmadas com o testemunho de um milagre precedente, a inesperada fecundidade de Isabel; e esta revelação do Anjo é um sinal do poder divino: quem deu poder a uma estéril de conceber pode concedê-lo também a uma virgem.
Por conseguinte, o Verbo de Deus, que é Deus, o Filho de Deus, que no princípio estava junto de Deus, por quem todas as coisas foram feitas e sem o qual nada foi feito, a fim de libertar o homem da morte eterna, fez-Se homem; desceu para assumir a nossa humildade sem diminuição da sua majestade, de modo que, permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu a verdadeira condição de servo à condição segundo a qual Ele é igual a Deus Pai, e realizou entre as duas naturezas uma aliança tão admirável que nem a inferior foi absorvida por esta glorificação, nem a superior foi diminuída por esta assunção.
E assim, conservando-se a perfeita propriedade de uma e outra natureza, que subsistem numa só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela eternidade; e para pagar a dívida contraída pela nossa condição pecadora, a natureza invulnerável une-se à natureza passível, e a condição de verdadeiro Deus e verdadeiro homem associa-se na pessoa única do Senhor; e assim, o único mediador entre Deus e os homens pôde, como exigia a nossa salvação, morrer segundo uma natureza e ressuscitar segundo a outra. Com razão, portanto, o nascimento do Salvador havia de conservar intacta a integridade virginal de sua Mãe, que salvaguardou a pureza, dando à luz a Verdade.
Tal era, caríssimos, o nascimento que convinha a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus, nascimento pelo qual Ele é semelhante a nós pela sua humanidade e superior a nós pela sua divindade. Na verdade, se não fosse Deus verdadeiro, não nos traria o remédio; se não fosse verdadeiro homem, não nos serviria de exemplo.
Por isso, quando nasceu o Senhor, os Anjos cantaram cheios de alegria Glória a Deus nas alturas e anunciaram paz na terra aos homens de boa vontade. Eles vêem, de facto, a celeste Jerusalém ser construída por todos os povos do mundo. E se tanto rejubilam os coros sublimes dos Anjos, qual não deve ser a alegria da nossa humilde condição humana perante tão inefável prodígio da bondade divina?

(Sermão no Natal do Senhor I, 2.3: PL 54, 191-192) (Sec. V)
in Liturgia das Horas

domingo, 15 de julho de 2012

No Domingo XV do Tempo Comum

Das Mensagens do Beato João Paulo II

Jesus disse a Pedro: «Duc in altum – Faz-te ao largo» (Lc 5,4) Pedro e os seus primeiros companheiros confiaram na palavra de Cristo e lançaram as suas redes. [...] Quem abre o seu coração a Cristo não só compreende o mistério da sua própria existência, mas também o da sua vocação, e amadurece excelentes frutos de graça. [...] Vivendo o Evangelho na sua integralidade, o cristão torna-se cada vez mais capaz de amar à maneira de Cristo, acolhendo a Sua exortação: «Sede perfeitos, como o vosso Pai do céu é perfeito» (Mt 5,48). Empenha-se em perseverar na unidade com os irmãos dentro da comunhão da Igreja, e põe-se ao serviço da nova evangelização para proclamar e testemunhar a maravilhosa verdade do amor salvífico de Deus.


Queridos adolescentes e jovens, é a vós que, de modo particular, renovo o convite de Cristo a «fazer-se ao largo». [...] Confiai-vos a Ele, escutai os Seus ensinamentos, fixai o vosso olhar no Seu rosto, perseverai na escuta da Sua palavra. Deixai que seja Ele a orientar cada uma das vossas buscas e das vossas aspirações, cada um dos vossos ideais e dos desejos do vosso coração. [...] Penso ao mesmo tempo nas palavras que Maria, Sua Mãe, dirigiu aos servos em Caná da Galileia: «Fazei tudo o que Ele vos disser» (Jo 2, 5). Queridos jovens, Cristo pede-vos que aceiteis «fazer-vos ao largo» e a Virgem Maria anima-vos a não hesitardes em segui-l'O. Suba de cada canto da terra para o Pai celeste, sustentada pela intercessão materna de Nossa Senhora, a ardente prece para obter «operários para a Sua seara» (Mt 9, 38).


Jesus, Filho de Deus,
em Quem habita toda a plenitude da divindade,
Vós chamais todos os baptizados a «fazerem-se ao largo»,
percorrendo o caminho da santidade.
Despertai no coração dos jovens
o desejo de serem no mundo de hoje
testemunhas da força do Vosso amor.
Enchei-os do Vosso Espírito de fortaleza e de prudência
para que sejam capazes de descobrir
a verdade plena sobre si
e sobre a sua própria vocação.
Ó nosso Salvador,
enviado pelo Pai
para nos revelar o Seu amor misericordioso,
concedei à Vossa Igreja
o dom de jovens prontos a fazerem-se ao largo
para serem entre os irmãos uma manifestação
da Vossa presença salvífica e renovadora.
Virgem Santa, Mãe do Redentor,
guia seguro no caminho para Deus e para o próximo,
Vós que guardastes as Suas palavras no íntimo do coração,
protegei com a vossa intercessão materna
as famílias e as comunidades eclesiais,
para que estas saibam ajudar os adolescentes e os jovens
a responder com generosidade ao chamamento do Senhor.
Amen.

in evangelhoquotidiano.org

sexta-feira, 13 de julho de 2012

De uma antiga Vida de Santo Henrique

Este bem-aventurado servo de Deus, depois de ter sido sagrado rei, não se limitou às preocupações do reino temporal, mas querendo alcançar a coroa da imortalidade, decidiu combater pelo Rei supremo, a quem servir é reinar. Para isso manifestou o maior zelo em promover o culto divino, enriquecendo as Igrejas com diversas doações e oferecendo-lhes todo o género de ornamentos e alfaias sagradas. Fundou nos seus domínios o bispado de Bamberg, dedicado aos príncipes dos apóstolos São Pedro e São Paulo, e ao glorioso mártir São Jorge, e confiou-o à jurisdição da santa Igreja Romana de modo especial ; pretendia assim prestar à primeira Sé da cristandade a honra que lhe é devida por instituição divina e dar maior firmeza à sua fundação, colocando-a sob tão alto patrocínio.
Mas, para que fique mais claro aos olhos de todos o cuidado com que este piedosíssimo varão se empenhou em garantir para a sua nova Igreja os bens da paz e da tranquilidade, tendo em vista também os séculos futuros, intercalamos aqui o testemunho duma carta sua.
«Henrique, rei por divina clemência, a todos os filhos da Igreja, tanto aos futuros como aos presentes. As palavras salutares da Sagrada Escritura ensinam-nos e exortam-nos a deixar os bens temporais e a menosprezar as comodidades terrenas, a fim de procurarmos alcançar as moradas eternas, que permanecem para sempre no Céu. Com efeito, a glória presente, enquanto a possuímos, é fugaz e vã, a não ser que pensemos simultaneamente na glória eterna do Céu. A misericórdia de Deus proporcionou contudo ao género humano um remédio eficaz, ao estabelecer que um lugar da pátria celeste fosse adquirido com os bens terrenos.
Por isso, não nos esquecendo Nós da bondade divina e não desconhecendo que fomos elevados à dignidade real por dom gratuito da misericórdia de Deus, julgamos conveniente não só ampliar as igrejas construídas pelos nossos antecessores, mas, para maior glória de Deus, edificar também outras novas e empenhar-nos por engrandecê-las com dádivas da nossa devoção. Portanto, não fechando os ouvidos aos mandamentos do Senhor, mas prestando obediência aos divinos conselhos, desejamos colocar desde já no Céu os tesouros que nos foram outorgados pela riqueza e generosidade de Deus, porque lá os ladrões não os desenterram nem roubam, nem a ferrugem ou a traça os rói; deste modo, ao pensarmos nos bens que lá vamos agora acumulando, durante o tempo presente, o nosso coração vive desde já no Céu pelo desejo e pelo amor.
Por conseguinte, queremos que todos os fiéis saibam que o lugar chamado Bamberg, parte da nossa herança paterna, foi elevado a sede e sólio episcopal. Aí se perpetuará a nossa memória e a dos nossos antepassados, e será oferecido continuamente o sacrifício da salvação por todos os que professam a verdadeira fé».

 (MGH, Scriptores 4, 792-799)
in Liturgia das Horas

quinta-feira, 12 de julho de 2012

De São Boaventura, franciscano, doutor da Igreja

Francisco assistia devotamente à Missa em honra dos apóstolos; o Evangelho era aquele em que Jesus envia os Seus discípulos a pregar e lhes ensina a maneira evangélica de viver: «Não possuais ouro, nem prata, nem cobre em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado». Logo que compreendeu e interiorizou este texto, ficou apaixonado por essa pobreza dos apóstolos e gritou, num transporte de alegria: «É isto que eu quero! É isto que desejo com toda a minha alma!» E, sem mais, tirou os sapatos, deixou cair o cajado, abandonou o alforje e o dinheiro como objectos dignos de repúdio, ficou apenas com uma túnica, e deitou fora o cinto, que substituiu por uma corda: pôs todo o seu empenho em concretizar o que acabara de ouvir e quis conformar-se em tudo com esse código de perfeição, dado aos apóstolos.


Um impulso comunicado por Deus levou-o, desde então, à conquista da perfeição evangélica e a uma campanha de penitência. Quando ele falava [...], as suas palavras eram totalmente impregnadas pela força do Espírito Santo: penetravam até ao mais profundo dos corações e mergulhavam os ouvintes em espanto. Toda a sua pregação era um anúncio de paz, e começava cada um dos seus sermões por esta saudação ao povo: «Que o Senhor vos dê a paz!» «Foi uma revelação do Senhor que me ensinou esta fórmula», declarou mais tarde. [...]


Falava-se cada vez mais do homem de Deus, dos seus ensinamentos tão simples e da sua vida, e alguns, com o seu exemplo, eram tocados por esse espírito de penitência e logo se juntavam a ele e, deixando tudo e vestindo-se como ele, começaram a partilhar a sua vida.

in evangelhoquotidiano.org

quarta-feira, 11 de julho de 2012

2012: Da Juventude à Cultura


Durante este ano de 2012, Braga é a Capital Europeia da Juventude, como já vai sendo do conhecimento geral. Uma oportunidade, que tem de ir mais além da economia e da imagem, mas também pensar a  juventude, os jovens e tudo o que lhe está aliado.
            Quem são os jovens no inicio deste século? Uma pergunta que todos os agentes da sociedade civil são eminentemente obrigados a fazer durante este ano. Numa coisa somos todos unânimes: os jovens do séc. XXI não são os jovens do séc. XX. Mas o que há de especial nesta afirmação? Na verdade, existe algo de novo nesta afirmação. Porque em bom rigor, toda a nossa sociedade de informação, está a gerar uma velocidade vertiginosa na mudança de paradigmas e de novas movimentações sociais, às quais não podemos deixar de estar alheios e que as novas gerações não estão a passar ao lado.
            Na saudação do actual Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, por ocasião do evento “Braga: Capital Europeia da Juventude 2012”, fica bem claro esta preocupação: “A cultura moderna, difundida pelos media e fruto da revolução tecnológica, invade, sem pedir licença, a interioridade de cada um”. Além disso, acrescenta o prelado que “sem um horizonte de esperança, alguns jovens concentram-se na busca de sensações e emoções passageiras, o que eclipsa o sentido mais profundo da vida e vos torna mais pobres. Simultâneamente, muitos de vós estão exaustos pelos caos a que essas sensações vos conduziram, apercebeste-vos que elas não vos resolvem os vossos problemas, as vossas questões, o sentido da vida. E muito bem, D. Jorge Ortiga, afirma “Vós não sois o problema”.
            Por outro lado, os jovens da actualidade, são confrontados ainda com um outro grande problema que é a entrada no mercado de trabalho, e a sua consequente entrada na entrada da vida adulta. Se é permitida a analogia, na década de 60, a sociedade juvenil, sobretudo a portuguesa, era confrontada com o dilema de ter de enfrentar uma guerra, que dizimou muitos das suas camadas jovens. Uma geração que ia sendo liquidada ao sabor das armas e do poder despótico de um regime. Porém, foi esta mesma geração que soube reagir a tempo, permitindo a gerações futuras saborear ventos de paz e tranquilidade.
            Perante, a situação esplanada que se debatem os jovens actuais, é pertinente perguntar: qual a capacidade de reacção dos jovens perante este dilema? D. Manuel Linda, bispo auxiliar de Braga, deixou-nos palavras de alarme, na Sessão de Encerramento da XX Semana de Estudos Teológicos, às quais somos obrigados a pensar e a reagir as passamos a citar: Como sabemos, hoje, os jovens estão na moda, a cultura jornalistica actual valoriza-os muito, mas não sei se sempre pelas melhores razões, concretamente o mundo político dedica-lhes muita atenção e recursos. Enormes subsídios a associações de estudantes, promoções de festas contínuas, incentivos à mobilidade, Erasmus e similares, o impingir de noções de forma articulada, falsas e falseadoras. De uma sexualidade presente e descartável, etc, tudo se usa para atrair a benevolência dos jovens e suas famílias. Porventura, à espera que isso seja compensado por votos. Ou será antes para os manter anestesiados? Se não é parece.”
            Na verdade, estamos perante uma geração de jovens que parece estar aniquilada e anestesiada. E esta é a realidade dos factos, e não podemos pintar quadros a aguarelas. Os factores são os mais diversos e não compete agora estar a enumerá-los. Basta um pouco de reflexão da nossa parte. Desde a sociedade de informação, de consumo; uma sociedade meritocrática que remete para segundo plano o Amor – valor essencial e que é hoje menosprezado. Em bom rigor temos uma sociedade que descobriu a Liberdade, mas tem medo de falar de Amor.
            Os jovens, no dizer do Sr. D. Jorge Ortiga, arcebispo primaz de Braga, são “interlocutores da paz, da esperança e da solidariedade em que se alicerça a humanidade”, mas o que pensar quando olhamos para o espectro dos nossos jovens e os sentimos cada vez mais órfãos, no dizer do Pe. Ricardo Tonelli, da Universidade Salesiana de Roma, em Braga, na referida semana. Onde estão os adultos, as referências “mais velhas” para os jovens e que lhes podem passar a sua base educativa? Onde estão os pais? Onde estão os avós? Onde está a família? Porque na verdade para falar dos jovens temos de saber em que situação se encontra as suas raízes – a Família. E se as raízes se encontram em degradação como estarão os ramos da árvore?
            Em bom rigor, não podemos apontar culpas na sua exclusividade à política, à comunidade paroquial, à escola, enquanto o problema permanecer na base – a Família. E em boa verdade, nestes últimos anos temos assistido ao delapidar desta instituição da nossa sociedade. Aliás, por detrás desta delapidação da família, há algo muito mais perverso que é a tentativa de apagar uma memória e uma história. E em boa verdade, que melhor anestesia do que viver um presente, sem um passado e um futuro.
            Por outro lado, há ainda uma outra dimensão que se encontra no outro extremo da nossa sociedade. Na verdade, uma sociedade que se encontra envelhecida e que procura esconder esta sua condição, na busca da eterna juventude, pela qual os jovens são arrastados. A moda, o culto pelo corpo, procurando refúgio em referências tentadoras e enganadoras para a sua identidade. “O ideal da perfeição humana está colocado ali, no ideal de juventude”, como nos diz o Dr. João Manuel Duque, professor da Faculdade de Teologia da UCP-Braga. E tudo isto com a nossa própria permissão. Muitas vezes somos tentados a não ver, a não querer ver. Certo é, que factos são factos…
            E, de repente somos arrastados para a cultura, a nossa cultura. A este propósito, temos Guimarães como Capital Europeia da Cultura. E muito mais que eventos, ou imagens, devemos mergulhar neste conceito e reflecti-lo. O que é a nossa cultura hoje?
            A Cultura vai muito além das artes, da ciência, da religião. A Cultura reflecte o modo como vivemos  e como queremos viver. Pensar na cultura é pensar por exemplo na educação que estamos a passar aos nossos jovens, ou da forma como estamos a tratar as nossas gerações mais velhas. Pensar na cultura, é pensar na forma como estamos a viver o nosso quotidiano. E quando falamos em crise económica, parece que a verdadeira crise (da qual ninguém fala) é mesmo uma profundíssima crise cultural sem precedentes.
            Por isso, Guimarães, não pode ser vista como uma mera cidade, em que vamos visitar e participar nos eventos que por lá vão decorrendo. Guimarães, tem de ir mais além neste campo. Ficariamos muito satisfeitos se Guimarães registasse nos anais da História a mudança da mentalidade e da cultura em Portugal e no mundo. Uma cultura pela paz, pela tolerância, pela redescoberta do amor. E aí podíamos registar na memória do tempo a cidade de Guimarães.
            Braga e Guimarães, duas cidades, que têm nas suas mãos duas grandes pedras basilares, que mais que imagem, têm a tarefa de fazer despertar uma sociedade adormecida para uma dura realidade. Mas para além de um discurso pessimista há todo um tempo que se encontra nas nossas mãos, e que estas duas cidades podem ser o mote para acreditar que é possível a vida, que é possível a esperança, que é possível o Amor.

josé miguel

Da regra de São Bento, abade

Em primeiro lugar, qualquer obra que empreenderes, com instantíssima oração hás-de pedir a Deus que a leve a bom termo; de modo que havendo-Se dignado contar-nos entre o número dos seus filhos, não tenha alguma vez de Se entristecer por causa das nossas más acções. Com efeito, devemos em todo o tempo pôr ao seu serviço os bens que em nós depositou, para não suceder que Ele, como pai irado, venha a deserdar os seus filhos, ou como tremendo Senhor irritado com os nossos pecados, nos entregue a penas eternas, como servos perversos que O não quiseram seguir para a glória.
Levantemo-nos, então, por uma vez, como nos convida a Escritura: Já é tempo de nos levantarmos do sono. Abramos os olhos para a luz divinizante e, de ouvidos atentos, escutemos a exortação que todos os dias nos dirige a voz divina: Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações; e ainda: Quem tem ouvidos para ouvir, escute o que o Espírito diz às Igrejas.
E que diz Ele? Vinde, filhos, escutai-me; ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Correi, enquanto tendes a luz da vida, para que não vos surpreendam as trevas da morte.
E o Senhor, ao buscar o seu operário na multidão do povo a quem dirige estas palavras, diz ainda: Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes? E se tu, ao ouvires este convite, responderes: «Eu», Deus te dirá: «Se queres alcançar a verdadeira e perpétua vida, guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios; evita o mal e faz o bem; procura a paz e segue-a. E quando isto fizerdes, estarão então os meus olhos sobre vós e os meus ouvidos atentos às vossas preces; e ainda antes que chameis por Mim, vos direi: Aqui estou».
Que há de mais doce para nós, irmãos caríssimos, do que esta voz do Senhor que nos convida? Vede como o Senhor, na sua piedade, nos mostra o caminho da vida.
Cinjamos, pois, os nossos rins com a fé e com a prática das boas obras; conduzidos pelo Evangelho, avancemos pelos seus caminhos, a fim de merecermos contemplar Aquele que nos chamou para o seu reino. Se queremos habitar na mansão do seu reino, saibamos que a não poderemos atingir senão pelo caminho das boas obras.
Assim como há um zelo mau de amargura, que afasta de Deus e leva ao inferno, assim também há um zelo bom, que aparta dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna. É este zelo que, com ardentíssimo amor, devem exercitar os monges, quer dizer: antecipem-se uns aos outros na estima recíproca; suportem com muita paciência as suas enfermidades, físicas ou morais; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure o que julga útil para si, mas antes o que o é para os outros; amem-se mutuamente com pura caridade fraterna; vivam sempre no temor e no amor de Deus; amem o seu abade com sincera e humilde caridade; nada absolutamente anteponham a Cristo, o qual nos conduza todos juntos à vida eterna.
 
 (Prólogo, 4-22; cap 72, 1-12: CSEL 75, 2-5.162-163) (Sec. VI)
in Liturgia das Horas
 
 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo de Hipona e doutor da Igreja

Cristo estava cheio de ardor pela Sua obra e dispunha-Se a enviar trabalhadores [...]. Vai, portanto, enviar ceifeiros. «Nisto, porém, é verdadeiro o ditado: 'um é o que semeia e outro o que ceifa'. Porque Eu enviei-vos a ceifar o que não trabalhastes; outros se cansaram a trabalhar, e vós ficastes com o proveito da sua fadiga» (Jo 4,37-38). Como? Terá enviado ceifeiros sem, primeiro, ter enviado semeadores? Para onde enviou os ceifeiros? Para onde os outros já tinham trabalhado. [...] Para onde os profetas já tinham pregado, porque eles próprios eram os semeadores. [...]


Quem são os que assim trabalharam ? Abraão, Isaac, Jacob. Lede a narrativa dos seus trabalhos: em todos encontramos uma profecia de Cristo; foram eles, portanto, os semeadores. E quanto a Moisés, aos outros patriarcas, e a todos os profetas, o que não terão eles suportado ao frio, ao tempo em que semeavam ? Por conseguinte, na Judeia a messe já estava pronta. E compreende-se que a messe estivesse madura nessa hora em que tantos milhares de homens traziam o produto da venda dos seus bens, o depunham aos pés dos Apóstolos (Act 4,35) e, tirando dos ombros os fardos deste mundo (Sl 81,7), seguiam a Cristo Senhor. A messe tinha, verdadeiramente, chegado à maturidade.


Que resultou daqui ? Desta messe retiraram-se alguns grãos, que fizeram sementeira por todo o universo. E eis que cresce uma outra messe, destinada a ser ceifada no fim dos séculos. [...] Para essa colheita não serão enviados apóstolos, mas anjos. 

in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Do B. Charles de Foucauld, eremita e missionário do Saara

A fé é o que faz com que acreditemos do fundo da alma [...] em todas as verdades que a religião nos ensina, logo, no conteúdo da Sagrada Escritura e em todos os ensinamentos do Evangelho, enfim, em tudo o que nos é proposto pela Igreja. O justo vive realmente desta fé (Rm 1,17) porque, para ele, ela substitui a maior parte dos sentidos da natureza. Ela transforma de tal modo todas as coisas, que os sentidos antigos já mal podem servir à alma: por eles, ela só percebe aparências enganadoras; a fé mostra-lhe as realidades.


O olho mostra-lhe um homem pobre; a fé mostra-lhe Jesus (cf Mt 25,40). O ouvido fá-lo ouvir injúrias e perseguições; a fé canta-lhe: «Alegrai-vos e rejubilai de alegria» (cf. Mt 5,12). O tacto faz-nos sentir o apedrejamento recebido; a fé diz-nos: «Sentiram grande alegria por terem sido considerados dignos de sofrer alguma coisa pelo nome de Cristo» (cf Act 5,41). O olfacto faz-nos sentir o incenso; a fé diz-nos que o verdadeiro incenso «são as orações dos santos» (Ap 8,4).


Os sentidos seduzem-nos pelas belezas criadas; a fé pensa na beleza incriada e compadece-se de todas as criaturas, que são um nada e uma poeira ao lado dessa beleza. Os sentidos têm horror à dor; a fé bendi-la como a coroa do matrimónio que a une ao seu Bem-amado, a caminhada com o Esposo, a mão na Sua mão divina. Os sentidos revoltam-se contra a injúria; a fé abençoa-a: «Abençoai os que vos maldizem» (Lc 6,28) [...], achando-a doce porque significa partilhar o destino de Jesus. [...] Os sentidos são curiosos; a fé nada quer conhecer: anseia por ser sepultada e quereria passar toda a sua vida imóvel ao pé do tabernáculo. 

in evangelhoquotidiano.org

domingo, 8 de julho de 2012

No Domingo XIV do Tempo Comum

Das Mensagens Radiofónicas do B. João XXIII, papa

São José, guardião de Jesus, esposo castíssimo de Maria, que passaste a tua vida a cumprir o teu dever na perfeição, sustentando a Sagrada Família de Nazaré com o trabalho das tuas mãos, digna-te proteger aqueles que se voltam confiadamente para ti. Tu conheces as suas aspirações, as suas angústias, as suas esperanças; eles recorrem a ti porque sabem que em ti encontrarão alguém que os compreende e os protege. Também tu conheceste as provações, a fadiga, o cansaço; mas, mesmo no meio das preocupações da vida material, a tua alma, repleta da paz mais profunda, exultava com uma alegria inexprimível devido à intimidade com o Filho de Deus, confiado aos teus cuidados, e com Maria, Sua doce mãe.


Faz com que também aqueles que procuram a tua protecção compreendam que não estão sós no seu trabalho; que saibam descobrir Jesus a seu lado, acolhê-l'O com a graça, guardá-l'O fielmente como tu o fizeste. Faz com que em cada família, em cada oficina, em cada estaleiro, onde quer que trabalhe um cristão, todas as coisas sejam santificadas na caridade, na paciência, na justiça, na preocupação de fazer o bem, para que desçam sobre todos com abundância os dons do amor de Deus.

in evangelhoquotidiano.org

sábado, 7 de julho de 2012

De São Pedro Crisólogo, bispo de Ravena, doutor da Igreja

 «Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os Teus discípulos não jejuam?» Porquê? Porque, para vós, o jejum pertence à lei e não é um dom espontâneo. O jejum em si mesmo não tem valor, o que conta é o desejo de quem jejua. Que proveito pensais ganhar jejuando contrariados e forçados? O jejum é um arado maravilhoso para lavrar o campo da santidade: converte os corações, desenraíza o mal, arranca o pecado, enterra o vício, semeia a caridade; mantém a fecundidade e prepara a colheita da inocência. Os discípulos de Cristo estão colocados no coração do campo maduro da santidade: recolhem molhos de virtudes e gozam do Pão da nova colheita; por conseguinte, não podem praticar jejuns doravante prescritos. [...]


«Porque é que os Teus discípulos não jejuam?» O Senhor responde-lhes: «Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles?» Aquele que toma mulher põe o jejum de lado, abandona a austeridade; entrega-se totalmente à alegria, participa nos banquetes; mostra-se em tudo afectuoso, delicado e alegre; faz tudo o que a sua afeição pela esposa lhe inspira. Cristo celebrava as Suas núpcias com a Igreja: por isso, tomava parte nas refeições, não recusava convites; cheio de benevolência e de amor, mostrava-Se humano, acessível, amável. É que Ele desejava unir o homem a Deus, e fazer dos Seus companheiros membros da família divina.

in evangelhoquotidiano.org

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Da Homilia de Pio XII, papa, proferida na canonizacão de Santa Maria Goretti

Todos conhecem o terrível combate que esta virgem, indefesa, teve de enfrentar. Contra ela se levantou, inesperadamente, uma tremenda e cega tempestade, que procurava manchar e violar a sua pureza angélica. Mas ao ver-se em tão grave situação, ela podia repetir ao divino Redentor estas palavras de ouro do livro da «Imitação de Cristo»: «Ainda que eu seja tentada e perturbada com muitas tribulações, nada temo, se a vossa graça está comigo. Ela é a minha fortaleza; ela me aconselha e ajuda. Ela é mais forte do que todos os meus inimigos». Assim protegida pela graça celeste, à qual correspondeu com uma vontade forte e generosa, deu a sua vida, mas não perdeu a glória da virgindade.
Na vida desta humilde criança, que apontámos em breves linhas, podemos ver um quadro não só digno do Céu, mas também digno de ser contemplado com admiração e veneração pelos homens do nosso tempo.
Aprendam os pais e as mães de família com quanto empenho devem educar na rectidão, na santidade e na fortaleza os filhos que Deus lhes deu, e formá-los na obediência aos preceitos da religião católica, para que possam, com o auxílio da graça divina, sair vencedores, sem feridas e sem manchas, quando for posta à prova a sua virtude.
Aprenda a alegre infância, aprenda a juventude ardente a não se deixar cair miseravelmente nos prazeres efémeros e ilusórios da paixão, a não ceder ante a sedução do vício, mas antes a combater com alegria, mesmo entre dificuldades e espinhos, para alcançar aquela perfeição cristã de bons costumes, que todos podemos atingir com a força de vontade, ajudada com a graça divina, por meio do esforço, do trabalho e da oração.
Nem todos somos chamados a sofrer o martírio; mas todos somos chamados a adquirir as virtudes cristãs. A virtude, porém, exige energia, que embora não atinja as alturas da fortaleza desta angélica menina, nem por isso obriga menos a um cuidado contínuo e muito atento, que deve ser sempre mantido por nós até ao fim da vida. Por isso, semelhante esforço pode ser considerado um martírio lento e prolongado, ao qual nos convidam estas divinas palavras de Jesus Cristo: O reino dos Céus sofre violência e são os violentos que o arrebatam.
Esforcemo-nos todos por alcançar este objectivo, confiados na graça do Céu. Sirva-nos de estímulo o exemplo da virgem e mártir Santa Maria Goretti. Que ela, lá na mansão celeste, onde goza a felicidade eterna, interceda por nós junto do Divino Redentor, a fim de que todos, cada um segundo a própria vocação, com generosidade, com vontade decidida e com obras de virtude, sigamos o seu caminho glorioso. 

(AAS 42 [1950], 581-582) (Sec. XX)
in Liturgia das Horas

quinta-feira, 5 de julho de 2012

De um Sermão de Santo António Maria Zacarias, presbítero, aos seus confrades

Nós somos loucos por amor de Cristo: isto dizia de si e dos outros Apóstolos e de todos os que professam a doutrina cristã e apostólica, o nosso bem-aventurado guia e santíssimo patrono. Mas isto não é para admirar nem causar temor, caríssimos irmãos: porque o discípulo não é mais que o mestre, nem o servo maior que o seu senhor. Devemos antes ter compaixão e amar do que detestar e odiar aqueles que se nos opõem, porque fazem mal a si mesmos e sobre nós atraem o bem; contribuem para alcançarmos a eterna coroa da glória, ao passo que sobre si provocam a ira de Deus. Devemos, além disso, orar por eles e não nos deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem, e, mediante a nossa benigna generosidade para com eles, amontoar sobre as suas cabeças os carvões ardentes da caridade, como adverte o nosso Apóstolo, para que, ao verem a nossa paciência e mansidão, se convertam a melhor vida e se inflamem no amor de Deus.
Apesar da nossa indignidade, Deus escolheu-nos do mundo pela sua misericórdia, para que, entregues ao seu serviço, vamos progredindo cada vez mais na virtude e, pela nossa paciência, dêmos fruto abundante de caridade, alegrando-nos na esperança da glória dos filhos de Deus e gloriando-nos também nas tribulações.
Considerai a vossa vocação, irmãos caríssimos: se nela meditarmos diligentemente, ser-nos-á fácil ver que, tendo começado a seguir, ainda que de longe, os passos dos santos Apóstolos e dos outros soldados de Cristo, não devemos recusar-nos a participar também nos seus sofrimentos. Corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, o guia da nossa fé, que Ele leva à perfeição.
Por isso, nós que escolhemos este glorioso Apóstolo como modelo e pai e fazemos profissão de o imitar, esforcemo-nos para que a nossa vida seja a expressão fiel da sua doutrina e do seu exemplo; não ficaria bem que às ordens de tão insigne chefe, militassem soldados cobardes ou desertores, nem que um pai tão ilustre tivesse filhos tão indignos dele.

 (J. A. Gabutio, História Congregationis Clericorum
Regularium S. Pauli, 1, 8; ed. 1852) (Sec. XVI)

 in Liturgia das Horas

quarta-feira, 4 de julho de 2012

De um Sermão atribuído a São Pedro Crisólogo, bispo

Diz o Evangelista: Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. Com razão florescem as virtudes cristãs naquele que possui a harmonia da paz cristã, porque não merecem o nome de filhos de Deus senão os que trabalham pela paz.
É a paz, caríssimos, que liberta o homem da sua condição de escravo e lhe dá o título de livre, que muda a sua condição perante Deus, transformando-o de servo em filho, de escravo em homem livre. A paz entre os irmãos é a realização da vontade de Deus, a alegria de Cristo, a perfeição da santidade, a norma da justiça, a mestra da doutrina, a guarda dos bons costumes e a justa ordem em todas as coisas. A paz é a recomendação das nossas orações, o caminho mais fácil e eficaz para as nossas súplicas, a realização perfeita de todos os nossos desejos. A paz é a mãe do amor, o vínculo da concórdia e o claro indício da pureza da alma, capaz de exigir de Deus tudo o que quer: pede tudo o que quer e recebe tudo o que pede. A paz deve conservar-se a todo o custo, segundo os mandamentos do nosso Rei. É o que diz Cristo nosso Senhor: Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. O que equivale a dizer: «Deixo-vos em paz, em paz vos quero encontrar». Ele quis dar, ao partir, aquilo que deseja encontrar em todos no seu regresso.
É mandamento do Céu conservarmos a paz que nos foi dada; uma só palavra resume o que desejou Cristo na despedida: voltar a encontrar o que nos deixou. Plantar e enraizar a paz é obra de Deus; arrancá-la de raiz é obra do Inimigo. Porque, assim como o amor fraterno provém de Deus, assim o ódio vem do demónio. Por isso devemos apartar de nós toda a espécie de ódio, pois está escrito: Quem odeia o seu irmão é homicida.
Vedes portanto, amados irmãos, a razão por que devemos amar a paz e estimar a concórdia: são elas que geram e alimentam a caridade. Sabeis, como diz o Apóstolo, que a caridade vem de Deus. Está, portanto, longe de Deus quem não tem caridade.
Por conseguinte, irmãos, guardemos estes mandamentos que são fonte de vida, Procuremos conservar-nos sempre unidos no amor fraterno pelos laços duma paz profunda e fortalecer o amor recíproco mediante o salutar vínculo da paz, que cobre a multidão dos pecados. Seja a maior aspiração da nossa alma este amor fraterno, que traz consigo todo o bem e todo o prémio. A paz é virtude que devemos conservar com grande empenho, porque onde há paz aí habita Deus.
Amai a paz e em tudo encontrareis tranquilidade de espírito. Deste modo assegurareis o nosso prémio e a vossa alegria, e a Igreja de Deus, fundada na unidade da paz, manter-se-á fiel aos ensinamentos de Cristo.

(Sobre a paz: PL 52, 347-348) (Sec. V)
in Liturgia das Horas

terça-feira, 3 de julho de 2012

Das Homilias de São Gregório Magno, papa, sobre os Evangelhos

Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Só este discípulo estava ausente; e, ao voltar e ouvir contar o que acontecera, negou-se a acreditar no que ouvia. Veio outra vez o Senhor e apresentou ao discípulo incrédulo o seu lado para que lhe pudesse tocar, mostrou-lhe as mãos e, mostrando-lhe também a cicatriz das suas chagas, curou a ferida daquela incredulidade. Que pensais, irmãos caríssimos, de tudo isto? Julgais porventura ter acontecido por acaso que aquele discípulo estivesse ausente naquela ocasião, que ao voltar ouvisse contar, que ao ouvir duvidasse, que ao duvidar tocasse e que ao tocar acreditasse?
Tudo isto não aconteceu por acaso, mas por disposição da providência divina. A bondade de Deus actuou de modo admirável, a fim de que aquele discípulo que duvidara, ao tocar as feridas do corpo do seu Mestre curasse as feridas da nossa incredulidade. Mais proveitosa foi para a nossa fé a incredulidade de Tomé do que a fé dos discípulos que não duvidaram; porque, enquanto ele é reconduzido à fé porque pôde tocar, a nossa alma põe de parte toda a dúvida e confirma-se na fé. Deste modo, o discípulo que duvidou e tocou, tornou-se testemunha da realidade da ressurreição. Tocou e exclamou: Meu Senhor e meu Deus. Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, acreditaste. Ora, como o apóstolo Paulo diz: A fé é o fundamento dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se vêem, torna-se claro que a fé é a prova da verdade daquelas coisas que não podemos ver. Pois aquilo que se vê já não é objecto de fé, mas de conhecimento directo. Então, se Tomé viu e tocou, porque é que lhe diz o Senhor: Porque me viste, acreditaste? É que ele viu uma coisa e acreditou noutra. A divindade não podia ser vista por um mortal. Ele viu a humanidade de Jesus e fez profissão de fé na sua divindade exclamando: Meu Senhor e meu Deus. Portanto, tendo visto acreditou, porque tendo à sua vista um homem verdadeiro, exclamou que era Deus, a quem não podia ver.
Muita alegria nos dá o que se segue: Felizes os que não viram e acreditaram. Por esta frase, não há dúvida que somos nós especialmente visados, pois não O vimos em sua carne, mas possuímo-l’O no nosso espírito. Somos nós visados, desde que as obras acompanhem a nossa fé. Na verdade só acredita verdadeiramente aquele que procede segundo a fé que professa. Pelo contrário, daqueles que têm fé apenas de palavras, diz São Paulo: Professam conhecer a Deus, mas negam-n’O por obras. A este respeito diz São Tiago: A fé sem obras é morta.

 (Hom. 26, 7-9: PL 76, 1201-1202) (Sec. VI)
in Liturgia das Horas

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Dos Discursos de Santo Afonso-Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja

Jesus Cristo nasceu pobre, e pobre viveu toda a Sua vida; e não pobre, apenas, mas indigente, mendigo, para usarmos a expressão de São Paulo (2Co 8,9). [...] Em Nazaré, Jesus vive de forma pobre: «uma casa pobre, com uns móveis pobres, assim é o alojamento que o Criador do mundo escolheu». Ali vive de maneira humilde, ganhando o pão com o suor do Seu rosto, trabalhando arduamente, como todos os operários e filhos de operários. Ainda assim, não é verdade que os judeus não acreditavam n'Ele, e que lhe chamavam «o filho do carpinteiro»? (Mc 6,3; Mt 13,55).


Depois, aparece em público para pregar o Evangelho. Durante esses três últimos anos da Sua vida, longe de melhorar a Sua forma de subsistência, pratica uma pobreza ainda mais rigorosa, e sobrevive de esmolas. A um homem que O queria seguir na esperança de passar a viver com maiores comodidades, responde: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» Homem, quer Ele dizer, se, por Me seguires, pensas que vais conseguir ter uma vida mais abastada, enganas-te, porque eu vim à Terra ensinar a pobreza. Nesse propósito, tornei-Me mais pobre do que as raposas e os pássaros, que pelo menos têm abrigos; neste mundo, não tenho de Meu a mais ínfima parcela de terra onde possa repousar, e quero que os Meus discípulos sejam como Eu. [...]


«Um servo de Jesus Cristo possui a Jesus Cristo e nada mais», afirma São Jerónimo. Nem sequer deseja possuir o que quer que seja, mas apenas a Jesus. Em suma, Jesus viveu sempre pobre, e pobre morreu: pois não teve de ser José de Arimateia a dar-Lhe o túmulo, e outros ainda a fazerem-Lhe a esmola de uma mortalha para o corpo?

in evangelhoquotidiano.org

domingo, 1 de julho de 2012

Em Domingo XIII do Tempo Comum

Dos Discursos do Bem-aventurado João Paulo II

Cristo entrou na casa onde a menina se encontrava, pegou-lhe na mão e disse: «Menina, Eu te digo, levanta-te!» [...] Queridos jovens, o mundo precisa da vossa resposta pessoal às palavras de vida do Mestre: «Eu te digo, levanta-te!» Vemos como Jesus vem ao encontro da humanidade nas situações mais difíceis e mais dolorosas. O milagre na casa de Jairo mostra-nos o Seu poder sobre o mal. Ele é o Senhor da vida, o vencedor da morte. [...]


Mas não podemos esquecer que, de acordo com o que nos ensina a fé, a raiz do mal, da doença, da própria morte, é o pecado nas suas diversas formas. No coração de todos e de cada um de nós esconde-se uma doença que nos afecta a todos: o pecado pessoal, que se enraíza mais e mais nas consciências à medida que se perde o sentido de Deus. Sim, queridos jovens, vigiai para não deixar enfraquecer em vós o sentido de Deus. Não podemos vencer o mal com o bem se não tivermos esse sentido de Deus, da Sua acção, da Sua presença, que nos convida a apostar sempre na graça, na vida, contra o pecado, contra morte. É o destino da humanidade que está em jogo. [...]


Daqui se conclui que temos de conhecer as implicações sociais do pecado para construirmos um mundo digno do homem. Há males sociais que criam uma verdadeira «comunhão do pecado» porque, juntamente com a alma, afundam a Igreja e, de certo modo, o mundo inteiro. [...] Queridos jovens, combatei o bom combate da fé (1Tm 6,12), pela dignidade humana, pela dignidade do amor, por uma vida nobre, uma vida como filhos de Deus. Vencer o pecado através do perdão de Deus é uma cura, é uma ressurreição. Não tenhais medo das exigências do amor de Cristo. Pelo contrário, temei o medo, a timidez, a ligeireza, a procura dos vossos próprios interesses, o egoísmo, tudo o que quer calar a voz de Cristo que, dirigindo-se a cada um de nós, repete: «Eu te digo, levanta-te.» 

in evangelhoquotidiano.org