Durante
este ano de 2012, Braga é a Capital Europeia da Juventude, como já vai sendo do
conhecimento geral. Uma oportunidade, que tem de ir mais além da economia e da
imagem, mas também pensar a juventude,
os jovens e tudo o que lhe está aliado.
Quem são os jovens no inicio deste século? Uma pergunta
que todos os agentes da sociedade civil são eminentemente obrigados a fazer
durante este ano. Numa coisa somos todos unânimes: os jovens do séc. XXI não
são os jovens do séc. XX. Mas o que há de especial nesta afirmação? Na verdade,
existe algo de novo nesta afirmação. Porque em bom rigor, toda a nossa
sociedade de informação, está a gerar uma velocidade vertiginosa na mudança de
paradigmas e de novas movimentações sociais, às quais não podemos deixar de
estar alheios e que as novas gerações não estão a passar ao lado.
Na saudação do actual Arcebispo de Braga, D. Jorge
Ortiga, por ocasião do evento “Braga: Capital Europeia da Juventude 2012”, fica
bem claro esta preocupação: “A cultura
moderna, difundida pelos media e fruto da revolução tecnológica, invade, sem
pedir licença, a interioridade de cada um”. Além disso, acrescenta o
prelado que “sem um horizonte de
esperança, alguns jovens concentram-se na busca de sensações e emoções passageiras,
o que eclipsa o sentido mais profundo da vida e vos torna mais pobres. Simultâneamente, muitos de vós estão
exaustos pelos caos a que essas sensações vos conduziram, apercebeste-vos que
elas não vos resolvem os vossos problemas, as vossas questões, o sentido da
vida. E muito bem, D. Jorge Ortiga, afirma “Vós não sois o problema”.
Por outro lado, os jovens da actualidade, são
confrontados ainda com um outro grande problema que é a entrada no mercado de
trabalho, e a sua consequente entrada na entrada da vida adulta. Se é permitida
a analogia, na década de 60, a sociedade juvenil, sobretudo a portuguesa, era
confrontada com o dilema de ter de enfrentar uma guerra, que dizimou muitos das
suas camadas jovens. Uma geração que ia sendo liquidada ao sabor das armas e do
poder despótico de um regime. Porém, foi esta mesma geração que soube reagir a
tempo, permitindo a gerações futuras saborear ventos de paz e tranquilidade.
Perante, a situação esplanada que se debatem os jovens
actuais, é pertinente perguntar: qual a capacidade de reacção dos jovens
perante este dilema? D. Manuel Linda, bispo auxiliar de Braga, deixou-nos
palavras de alarme, na Sessão de Encerramento da XX Semana de Estudos Teológicos,
às quais somos obrigados a pensar e a reagir as passamos a citar: “Como
sabemos, hoje, os jovens estão na moda, a cultura jornalistica actual
valoriza-os muito, mas não sei se sempre pelas melhores razões, concretamente o
mundo político dedica-lhes muita atenção e recursos. Enormes subsídios a
associações de estudantes, promoções de festas contínuas, incentivos à
mobilidade, Erasmus e similares, o impingir de noções de forma articulada,
falsas e falseadoras. De uma sexualidade presente e descartável, etc, tudo se
usa para atrair a benevolência dos jovens e suas famílias. Porventura, à espera
que isso seja compensado por votos. Ou será antes para os manter anestesiados?
Se não é parece.”
Na verdade, estamos perante uma
geração de jovens que parece estar aniquilada e anestesiada. E esta é a
realidade dos factos, e não podemos pintar quadros a aguarelas. Os factores são
os mais diversos e não compete agora estar a enumerá-los. Basta um pouco de
reflexão da nossa parte. Desde a sociedade de informação, de consumo; uma
sociedade meritocrática que remete para segundo plano o Amor – valor essencial
e que é hoje menosprezado. Em bom rigor temos uma sociedade que descobriu a Liberdade,
mas tem medo de falar de Amor.
Os jovens, no dizer do Sr. D. Jorge
Ortiga, arcebispo primaz de Braga, são
“interlocutores da paz, da esperança e da solidariedade em que se alicerça a
humanidade”, mas o que pensar quando olhamos para o espectro dos nossos
jovens e os sentimos cada vez mais órfãos, no dizer do Pe. Ricardo Tonelli, da
Universidade Salesiana de Roma, em Braga, na referida semana. Onde estão os
adultos, as referências “mais velhas” para os jovens e que lhes podem passar a
sua base educativa? Onde estão os pais? Onde estão os avós? Onde está a
família? Porque na verdade para falar dos jovens temos de saber em que situação
se encontra as suas raízes – a Família. E se as raízes se encontram em degradação
como estarão os ramos da árvore?
Em bom rigor, não podemos apontar
culpas na sua exclusividade à política, à comunidade paroquial, à escola,
enquanto o problema permanecer na base – a Família. E em boa verdade, nestes
últimos anos temos assistido ao delapidar desta instituição da nossa sociedade.
Aliás, por detrás desta delapidação da família, há algo muito mais perverso que
é a tentativa de apagar uma memória e uma história. E em boa verdade, que
melhor anestesia do que viver um presente, sem um passado e um futuro.
Por outro lado, há ainda uma outra
dimensão que se encontra no outro extremo da nossa sociedade. Na verdade, uma
sociedade que se encontra envelhecida e que procura esconder esta sua condição,
na busca da eterna juventude, pela qual os jovens são arrastados. A moda, o
culto pelo corpo, procurando refúgio em referências tentadoras e enganadoras
para a sua identidade. “O ideal da
perfeição humana está colocado ali, no ideal de juventude”, como nos diz o
Dr. João Manuel Duque, professor da Faculdade de Teologia da UCP-Braga. E tudo
isto com a nossa própria permissão. Muitas vezes somos tentados a não ver, a
não querer ver. Certo é, que factos são factos…
E, de repente somos arrastados para
a cultura, a nossa cultura. A este propósito, temos Guimarães como Capital
Europeia da Cultura. E muito mais que eventos, ou imagens, devemos mergulhar
neste conceito e reflecti-lo. O que é a nossa cultura hoje?
A Cultura vai muito além das artes,
da ciência, da religião. A Cultura reflecte o modo como vivemos e como queremos viver. Pensar na cultura é
pensar por exemplo na educação que estamos a passar aos nossos jovens, ou da
forma como estamos a tratar as nossas gerações mais velhas. Pensar na cultura,
é pensar na forma como estamos a viver o nosso quotidiano. E quando falamos em
crise económica, parece que a verdadeira crise (da qual ninguém fala) é mesmo
uma profundíssima crise cultural sem precedentes.
Por isso, Guimarães, não pode ser
vista como uma mera cidade, em que vamos visitar e participar nos eventos que
por lá vão decorrendo. Guimarães, tem de ir mais além neste campo. Ficariamos
muito satisfeitos se Guimarães registasse nos anais da História a mudança da
mentalidade e da cultura em Portugal e no mundo. Uma cultura pela paz, pela
tolerância, pela redescoberta do amor. E aí podíamos registar na memória do
tempo a cidade de Guimarães.
Braga e Guimarães, duas cidades, que
têm nas suas mãos duas grandes pedras basilares, que mais que imagem, têm a
tarefa de fazer despertar uma sociedade adormecida para uma dura realidade. Mas
para além de um discurso pessimista há todo um tempo que se encontra nas nossas
mãos, e que estas duas cidades podem ser o mote para acreditar que é possível a
vida, que é possível a esperança, que é possível o Amor.
josé miguel