Em primeiro lugar, qualquer
obra que empreenderes, com instantíssima oração hás-de pedir a Deus que a
leve a bom termo; de modo que havendo-Se dignado contar-nos entre o
número dos seus filhos, não tenha alguma vez de Se entristecer por causa
das nossas más acções. Com efeito, devemos em todo o tempo pôr ao seu
serviço os bens que em nós depositou, para não suceder que Ele, como pai
irado, venha a deserdar os seus filhos, ou como tremendo Senhor
irritado com os nossos pecados, nos entregue a penas eternas, como
servos perversos que O não quiseram seguir para a glória.
Levantemo-nos, então, por uma vez, como nos convida a Escritura: Já é tempo de nos levantarmos do sono. Abramos os olhos para a luz divinizante e, de ouvidos atentos, escutemos a exortação que todos os dias nos dirige a voz divina: Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações; e ainda: Quem tem ouvidos para ouvir, escute o que o Espírito diz às Igrejas. E que diz Ele? Vinde, filhos, escutai-me; ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Correi, enquanto tendes a luz da vida, para que não vos surpreendam as trevas da morte. E o Senhor, ao buscar o seu operário na multidão do povo a quem dirige estas palavras, diz ainda: Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes? E se tu, ao ouvires este convite, responderes: «Eu», Deus te dirá: «Se queres alcançar a verdadeira e perpétua vida, guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios; evita o mal e faz o bem; procura a paz e segue-a. E quando isto fizerdes, estarão então os meus olhos sobre vós e os meus ouvidos atentos às vossas preces; e ainda antes que chameis por Mim, vos direi: Aqui estou». Que há de mais doce para nós, irmãos caríssimos, do que esta voz do Senhor que nos convida? Vede como o Senhor, na sua piedade, nos mostra o caminho da vida. Cinjamos, pois, os nossos rins com a fé e com a prática das boas obras; conduzidos pelo Evangelho, avancemos pelos seus caminhos, a fim de merecermos contemplar Aquele que nos chamou para o seu reino. Se queremos habitar na mansão do seu reino, saibamos que a não poderemos atingir senão pelo caminho das boas obras. Assim como há um zelo mau de amargura, que afasta de Deus e leva ao inferno, assim também há um zelo bom, que aparta dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna. É este zelo que, com ardentíssimo amor, devem exercitar os monges, quer dizer: antecipem-se uns aos outros na estima recíproca; suportem com muita paciência as suas enfermidades, físicas ou morais; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure o que julga útil para si, mas antes o que o é para os outros; amem-se mutuamente com pura caridade fraterna; vivam sempre no temor e no amor de Deus; amem o seu abade com sincera e humilde caridade; nada absolutamente anteponham a Cristo, o qual nos conduza todos juntos à vida eterna.
(Prólogo, 4-22; cap 72, 1-12: CSEL 75, 2-5.162-163) (Sec. VI)
in Liturgia das Horas
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