Os filhos de Zebedeu pedem a Cristo: Concede-nos que nos sentemos, na
tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda. Que lhes responde o
Senhor? Para mostrar que no seu pedido nada havia de espiritual e se
soubessem o que pediam não se teriam atrevido a fazê-lo, responde: Não
sabeis o que pedis, isto é, não sabeis como é grande, admirável e
superior aos próprios poderes celestes aquilo que pedis. Depois
acrescenta: Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber e ser baptizados
com o baptismo com que Eu vou ser baptizado? É como se lhes dissesse:
«Na verdade, vós falais-me de honras e de coroas; mas eu falo-vos de
lutas e suores. Não é este o tempo dos prémios, nem é agora que se há-de
manifestar a minha glória; a vida presente é tempo de morte violenta,
de guerras e de perigos».
E reparai como os atrai e exorta, pela
maneira de interrogar. Não lhes pergunta se são capazes de morrer, de
derramar o seu sangue; mas pergunta: Podeis beber o cálice – e para os
animar acrescenta – que Eu hei-de beber? Assim pensava o Senhor que
seriam mais decididos, ao considerarem que se tratava de correr a mesma
sorte. E chama à sua paixão «baptismo», para dar a entender que os seus
sofrimentos haviam de trazer uma grande purificação para o mundo
inteiro. Os dois discípulos respondem: Podemos. Prometem imediatamente,
cheios de fervor, sem saber o que dizem, mas com a esperança de virem a
alcançar o que pediam.
Que disse então o Senhor? Bebereis o cálice
que Eu hei-de beber e sereis baptizados com o baptismo com que Eu vou
ser baptizado. Grandes são os bens que lhes anuncia, isto é: «Sereis
dignos de receber o martírio e sofrereis comigo, terminareis a vida com
morte violenta e assim participareis na minha paixão. Mas sentar-vos à
minha direita e à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo, mas é
para aqueles para quem foi preparado por meu Pai». Depois de lhes ter
levantado o espírito e de os ter tornado mais perfeitos e capazes de
superar o sofrimento, só então corrige a sua petição.
Então os outros
dez indignaram-se por causa dos dois irmãos. Vede como todos eles eram
imperfeitos, tanto os que procuravam obter precedência sobre os outros
dez, como os dez que tinham inveja dos dois. Mas, – como já tive ocasião
de vos dizer – observai-os mais tarde e vereis como estão livres de
todos estes sentimentos. Este mesmo apóstolo João, que se adianta agora
por este motivo, cederá sempre o primeiro lugar a Pedro, quer para usar
da palavra quer para fazer milagres, como se lê nos Actos dos Apóstolos.
Tiago, porém, não viveu muito mais tempo. Desde o princípio [desde o
Pentecostes], ele se deixou arrebatar pelo seu ardor e, pondo de parte
toda a aspiração humana, ascendeu a tão inefável altura que depressa
recebeu a coroa do martírio.
(Hom. 65, 2-4: PG 58, 619-622) (Sec. IV)
in Liturgia das Horas