Todos conhecem o terrível combate
que esta virgem, indefesa, teve de enfrentar. Contra ela se levantou,
inesperadamente, uma tremenda e cega tempestade, que procurava manchar e
violar a sua pureza angélica. Mas ao ver-se em tão grave situação, ela
podia repetir ao divino Redentor estas palavras de ouro do livro da
«Imitação de Cristo»: «Ainda que eu seja tentada e perturbada com muitas
tribulações, nada temo, se a vossa graça está comigo. Ela é a minha
fortaleza; ela me aconselha e ajuda. Ela é mais forte do que todos os
meus inimigos». Assim protegida pela graça celeste, à qual correspondeu
com uma vontade forte e generosa, deu a sua vida, mas não perdeu a
glória da virgindade.
Na vida desta humilde criança, que apontámos em
breves linhas, podemos ver um quadro não só digno do Céu, mas também
digno de ser contemplado com admiração e veneração pelos homens do nosso
tempo.
Aprendam os pais e as mães de família com quanto empenho
devem educar na rectidão, na santidade e na fortaleza os filhos que Deus
lhes deu, e formá-los na obediência aos preceitos da religião católica,
para que possam, com o auxílio da graça divina, sair vencedores, sem
feridas e sem manchas, quando for posta à prova a sua virtude.
Aprenda
a alegre infância, aprenda a juventude ardente a não se deixar cair
miseravelmente nos prazeres efémeros e ilusórios da paixão, a não ceder
ante a sedução do vício, mas antes a combater com alegria, mesmo entre
dificuldades e espinhos, para alcançar aquela perfeição cristã de bons
costumes, que todos podemos atingir com a força de vontade, ajudada com a
graça divina, por meio do esforço, do trabalho e da oração.
Nem
todos somos chamados a sofrer o martírio; mas todos somos chamados a
adquirir as virtudes cristãs. A virtude, porém, exige energia, que
embora não atinja as alturas da fortaleza desta angélica menina, nem por
isso obriga menos a um cuidado contínuo e muito atento, que deve ser
sempre mantido por nós até ao fim da vida. Por isso, semelhante esforço
pode ser considerado um martírio lento e prolongado, ao qual nos
convidam estas divinas palavras de Jesus Cristo: O reino dos Céus sofre
violência e são os violentos que o arrebatam.
Esforcemo-nos todos por
alcançar este objectivo, confiados na graça do Céu. Sirva-nos de
estímulo o exemplo da virgem e mártir Santa Maria Goretti. Que ela, lá
na mansão celeste, onde goza a felicidade eterna, interceda por nós
junto do Divino Redentor, a fim de que todos, cada um segundo a própria
vocação, com generosidade, com vontade decidida e com obras de virtude,
sigamos o seu caminho glorioso.
(AAS 42 [1950], 581-582) (Sec. XX)
in Liturgia das Horas