quinta-feira, 5 de julho de 2012

De um Sermão de Santo António Maria Zacarias, presbítero, aos seus confrades

Nós somos loucos por amor de Cristo: isto dizia de si e dos outros Apóstolos e de todos os que professam a doutrina cristã e apostólica, o nosso bem-aventurado guia e santíssimo patrono. Mas isto não é para admirar nem causar temor, caríssimos irmãos: porque o discípulo não é mais que o mestre, nem o servo maior que o seu senhor. Devemos antes ter compaixão e amar do que detestar e odiar aqueles que se nos opõem, porque fazem mal a si mesmos e sobre nós atraem o bem; contribuem para alcançarmos a eterna coroa da glória, ao passo que sobre si provocam a ira de Deus. Devemos, além disso, orar por eles e não nos deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem, e, mediante a nossa benigna generosidade para com eles, amontoar sobre as suas cabeças os carvões ardentes da caridade, como adverte o nosso Apóstolo, para que, ao verem a nossa paciência e mansidão, se convertam a melhor vida e se inflamem no amor de Deus.
Apesar da nossa indignidade, Deus escolheu-nos do mundo pela sua misericórdia, para que, entregues ao seu serviço, vamos progredindo cada vez mais na virtude e, pela nossa paciência, dêmos fruto abundante de caridade, alegrando-nos na esperança da glória dos filhos de Deus e gloriando-nos também nas tribulações.
Considerai a vossa vocação, irmãos caríssimos: se nela meditarmos diligentemente, ser-nos-á fácil ver que, tendo começado a seguir, ainda que de longe, os passos dos santos Apóstolos e dos outros soldados de Cristo, não devemos recusar-nos a participar também nos seus sofrimentos. Corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, o guia da nossa fé, que Ele leva à perfeição.
Por isso, nós que escolhemos este glorioso Apóstolo como modelo e pai e fazemos profissão de o imitar, esforcemo-nos para que a nossa vida seja a expressão fiel da sua doutrina e do seu exemplo; não ficaria bem que às ordens de tão insigne chefe, militassem soldados cobardes ou desertores, nem que um pai tão ilustre tivesse filhos tão indignos dele.

 (J. A. Gabutio, História Congregationis Clericorum
Regularium S. Pauli, 1, 8; ed. 1852) (Sec. XVI)

 in Liturgia das Horas