Nós somos loucos por amor de Cristo: isto dizia de si e dos outros
Apóstolos e de todos os que professam a doutrina cristã e apostólica, o
nosso bem-aventurado guia e santíssimo patrono. Mas isto não é para
admirar nem causar temor, caríssimos irmãos: porque o discípulo não é
mais que o mestre, nem o servo maior que o seu senhor. Devemos antes ter
compaixão e amar do que detestar e odiar aqueles que se nos opõem,
porque fazem mal a si mesmos e sobre nós atraem o bem; contribuem para
alcançarmos a eterna coroa da glória, ao passo que sobre si provocam a
ira de Deus. Devemos, além disso, orar por eles e não nos deixar vencer
pelo mal, mas vencer o mal com o bem, e, mediante a nossa benigna
generosidade para com eles, amontoar sobre as suas cabeças os carvões
ardentes da caridade, como adverte o nosso Apóstolo, para que, ao verem a
nossa paciência e mansidão, se convertam a melhor vida e se inflamem no
amor de Deus.
Apesar da nossa indignidade, Deus escolheu-nos do
mundo pela sua misericórdia, para que, entregues ao seu serviço, vamos
progredindo cada vez mais na virtude e, pela nossa paciência, dêmos
fruto abundante de caridade, alegrando-nos na esperança da glória dos
filhos de Deus e gloriando-nos também nas tribulações.
Considerai a
vossa vocação, irmãos caríssimos: se nela meditarmos diligentemente,
ser-nos-á fácil ver que, tendo começado a seguir, ainda que de longe, os
passos dos santos Apóstolos e dos outros soldados de Cristo, não
devemos recusar-nos a participar também nos seus sofrimentos. Corramos
com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando
os olhos em Jesus, o guia da nossa fé, que Ele leva à perfeição.
Por
isso, nós que escolhemos este glorioso Apóstolo como modelo e pai e
fazemos profissão de o imitar, esforcemo-nos para que a nossa vida seja a
expressão fiel da sua doutrina e do seu exemplo; não ficaria bem que às
ordens de tão insigne chefe, militassem soldados cobardes ou
desertores, nem que um pai tão ilustre tivesse filhos tão indignos dele.
(J. A. Gabutio, História Congregationis Clericorum
Regularium S. Pauli, 1, 8; ed. 1852) (Sec. XVI)
in Liturgia das Horas