terça-feira, 17 de julho de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo

Considera a sabedoria de Paulo. Que diz ele? Penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de manifestar em nós. Então, diz ele, porque me falais dos tormentos, dos altares, dos algozes, dos suplícios, da fome, do exílio, das privações, das cadeias e das algemas? Embora apresenteis todas as coisas que atormentam os homens, nada podeis mencionar que seja digno daquele prémio, daquela coroa, daquela recompensa. Porque as provações acabam-se com a vida presente, ao passo que a recompensa é imortal, permanece para sempre.
A isto mesmo aludia o Apóstolo noutro lugar: As leves e passageiras tribulações do momento presente. Ele diminui a qualidade com a quantidade e alivia a dureza com a brevidade do tempo. Como as tribulações que então sofriam eram por sua natureza penosas e duras, Paulo serve-se da sua brevidade para diminuir a sua dureza, dizendo: As leves e passageiras tribulações do momento presente preparam-nos, para além de toda e qualquer medida, o peso eterno de uma sublime e incomparável glória. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis; as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas.
Vede como é grande a glória que acompanha a tribulação! Vós próprios sois testemunhas do que dizemos. Ainda antes que os mártires tenham recebido as suas recompensas, os seus prémios, as suas coroas, enquanto se vão ainda transformando em pó e cinza, já nós acorremos com entusiasmo para os honrar, convocamos uma assembleia espiritual, proclamamos o seu triunfo, exaltamos o sangue que derramaram, os tormentos, os golpes, as aflições e as angústias que sofreram; e, deste modo, as próprias tribulações são para eles uma fonte de glória, ainda antes da recompensa final.
Depois de termos reflectido nestas verdades, irmãos caríssimos, suportemos generosamente todas as adversidades que sobrevierem. Se Deus as permite, é porque são para nossa utilidade. Longe de desesperarmos ou perdermos a coragem ante a dureza dos sofrimentos, resistamos com fortaleza e dêmos graças a Deus pelos benefícios que nos concedeu, a fim de que, depois de gozarmos dos seus dons na vida presente, alcancemos os bens da vida futura, pela graça, misericórdia e bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual, com o Pai e o Espírito Santo, pertence a glória e o poder, agora e para sempre e por todos os séculos. Amen.

 (Hom. Sobre a glória nas tribulações 2.4: PG 51, 158-159.162.164) (Sec. IV)
in Liturgia das Horas