Este bem-aventurado servo de Deus, depois de ter sido sagrado rei, não
se limitou às preocupações do reino temporal, mas querendo alcançar a
coroa da imortalidade, decidiu combater pelo Rei supremo, a quem servir é
reinar. Para isso manifestou o maior zelo em promover o culto divino,
enriquecendo as Igrejas com diversas doações e oferecendo-lhes todo o
género de ornamentos e alfaias sagradas. Fundou nos seus domínios o
bispado de Bamberg, dedicado aos príncipes dos apóstolos São Pedro e São
Paulo, e ao glorioso mártir São Jorge, e confiou-o à jurisdição da
santa Igreja Romana de modo especial ; pretendia assim prestar à
primeira Sé da cristandade a honra que lhe é devida por instituição
divina e dar maior firmeza à sua fundação, colocando-a sob tão alto
patrocínio.
Mas, para que fique mais claro aos olhos de todos o
cuidado com que este piedosíssimo varão se empenhou em garantir para a
sua nova Igreja os bens da paz e da tranquilidade, tendo em vista também
os séculos futuros, intercalamos aqui o testemunho duma carta sua.
«Henrique,
rei por divina clemência, a todos os filhos da Igreja, tanto aos
futuros como aos presentes. As palavras salutares da Sagrada Escritura
ensinam-nos e exortam-nos a deixar os bens temporais e a menosprezar as
comodidades terrenas, a fim de procurarmos alcançar as moradas eternas,
que permanecem para sempre no Céu. Com efeito, a glória presente,
enquanto a possuímos, é fugaz e vã, a não ser que pensemos
simultaneamente na glória eterna do Céu. A misericórdia de Deus
proporcionou contudo ao género humano um remédio eficaz, ao estabelecer
que um lugar da pátria celeste fosse adquirido com os bens terrenos.
Por
isso, não nos esquecendo Nós da bondade divina e não desconhecendo que
fomos elevados à dignidade real por dom gratuito da misericórdia de
Deus, julgamos conveniente não só ampliar as igrejas construídas pelos
nossos antecessores, mas, para maior glória de Deus, edificar também
outras novas e empenhar-nos por engrandecê-las com dádivas da nossa
devoção. Portanto, não fechando os ouvidos aos mandamentos do Senhor,
mas prestando obediência aos divinos conselhos, desejamos colocar desde
já no Céu os tesouros que nos foram outorgados pela riqueza e
generosidade de Deus, porque lá os ladrões não os desenterram nem
roubam, nem a ferrugem ou a traça os rói; deste modo, ao pensarmos nos
bens que lá vamos agora acumulando, durante o tempo presente, o nosso
coração vive desde já no Céu pelo desejo e pelo amor.
Por
conseguinte, queremos que todos os fiéis saibam que o lugar chamado
Bamberg, parte da nossa herança paterna, foi elevado a sede e sólio
episcopal. Aí se perpetuará a nossa memória e a dos nossos antepassados,
e será oferecido continuamente o sacrifício da salvação por todos os
que professam a verdadeira fé».
(MGH, Scriptores 4, 792-799)
in Liturgia das Horas