sexta-feira, 13 de julho de 2012

De uma antiga Vida de Santo Henrique

Este bem-aventurado servo de Deus, depois de ter sido sagrado rei, não se limitou às preocupações do reino temporal, mas querendo alcançar a coroa da imortalidade, decidiu combater pelo Rei supremo, a quem servir é reinar. Para isso manifestou o maior zelo em promover o culto divino, enriquecendo as Igrejas com diversas doações e oferecendo-lhes todo o género de ornamentos e alfaias sagradas. Fundou nos seus domínios o bispado de Bamberg, dedicado aos príncipes dos apóstolos São Pedro e São Paulo, e ao glorioso mártir São Jorge, e confiou-o à jurisdição da santa Igreja Romana de modo especial ; pretendia assim prestar à primeira Sé da cristandade a honra que lhe é devida por instituição divina e dar maior firmeza à sua fundação, colocando-a sob tão alto patrocínio.
Mas, para que fique mais claro aos olhos de todos o cuidado com que este piedosíssimo varão se empenhou em garantir para a sua nova Igreja os bens da paz e da tranquilidade, tendo em vista também os séculos futuros, intercalamos aqui o testemunho duma carta sua.
«Henrique, rei por divina clemência, a todos os filhos da Igreja, tanto aos futuros como aos presentes. As palavras salutares da Sagrada Escritura ensinam-nos e exortam-nos a deixar os bens temporais e a menosprezar as comodidades terrenas, a fim de procurarmos alcançar as moradas eternas, que permanecem para sempre no Céu. Com efeito, a glória presente, enquanto a possuímos, é fugaz e vã, a não ser que pensemos simultaneamente na glória eterna do Céu. A misericórdia de Deus proporcionou contudo ao género humano um remédio eficaz, ao estabelecer que um lugar da pátria celeste fosse adquirido com os bens terrenos.
Por isso, não nos esquecendo Nós da bondade divina e não desconhecendo que fomos elevados à dignidade real por dom gratuito da misericórdia de Deus, julgamos conveniente não só ampliar as igrejas construídas pelos nossos antecessores, mas, para maior glória de Deus, edificar também outras novas e empenhar-nos por engrandecê-las com dádivas da nossa devoção. Portanto, não fechando os ouvidos aos mandamentos do Senhor, mas prestando obediência aos divinos conselhos, desejamos colocar desde já no Céu os tesouros que nos foram outorgados pela riqueza e generosidade de Deus, porque lá os ladrões não os desenterram nem roubam, nem a ferrugem ou a traça os rói; deste modo, ao pensarmos nos bens que lá vamos agora acumulando, durante o tempo presente, o nosso coração vive desde já no Céu pelo desejo e pelo amor.
Por conseguinte, queremos que todos os fiéis saibam que o lugar chamado Bamberg, parte da nossa herança paterna, foi elevado a sede e sólio episcopal. Aí se perpetuará a nossa memória e a dos nossos antepassados, e será oferecido continuamente o sacrifício da salvação por todos os que professam a verdadeira fé».

 (MGH, Scriptores 4, 792-799)
in Liturgia das Horas