Parvos são aqueles que não respeitam o nosso esforço, que não respeitam a nossa qualidade. Parvos são todos aqueles que não respeitam os nossos canudos.
Amanifestação agendada para o dia 12 de Março deixou-me expectante e orgulhosa. Faço parte da «geração à rasca», que já foi denominada como «rasca», mas que com este gesto revelou que se em parte não o conseguiu até agora está, pelo menos nos seus planos, desenrascar-se.
Não se trata de uma manifestação política, nem obrigatoriamente contra todos os políticos, mas de uma manifestação que pretende mostrar que a «geração rasca» de há dez/quinze anos, provou que as más-línguas estavam erradas e deu origem à geração mais qualificada de sempre. Uma geração que não consegue crescer por inúmeros factores, uns da sua responsabilidade obviamente, outros alheios a si, e nem todos justificados pela crise. Uma geração que, pelo menos agora, resolveu fazer uso da sua formação e utilizar uma ferramenta cívica que pode não mudar o mundo, mas que serve para mostrar que não somos os únicos «parvos» na situação actual. Numa reportagem ouvi um dos jovens dizer «parvos são vocês que não nos aproveitam». Subscrevo totalmente e neste caso esta expressão nem sequer é um insulto. Trata-se apenas da constatação de um facto.
Temos jovens preparados, com experiência a menos para uns empregos e com qualificações a mais para outros, jovens preparados que não conseguem contratos, que têm baixos salários. Jovens preparados com vontade de trabalhar, de crescer, de se tornar independentes e que, por isso, muitas vezes acabam por ter excesso de humildade e aceitam trabalhos em condições que não correspondem à sua formação e à sua preparação. Jovens que, trabalhando honestamente, em condições precárias, com baixos salários, num esforço claro para conquistarem a sua vida, ouvem muitas vezes uma expressão desdenhosa que mata e magoa de «tantos anos a estudar e não conseguiste melhor? Tens o canudo para ficar debaixo do braço!»
Nem só de canudos vive o homem, é verdade, não é por sermos «doutores» que somos melhores que ninguém, mas também não temos culpa de ter estudado, de nos termos qualificado e com toda a certeza não o conseguimos por sermos parvos.
Felizmente não estou «à rasca» mas conto estar presente na manifestação, em apoio à minha geração, porque os parvos não somos nós. Parvos são aqueles que não nos dão valor, aqueles que não respeitam as nossas horas de sono perdidas a estudar, as tabletes de chocolate comidas para vencer o cansaço, as pilhas de nervos nos exames, nas apresentações, e os quilómetros de conhecimento que pusemos cá dentro. Parvos são aqueles que não respeitam o nosso esforço, que não respeitam a nossa qualidade. Parvos são todos aqueles que não respeitam os nossos canudos.
Rita Bruno, in "Família Cristã", 04/03/2011