Se aprendermos com a nossa História, certamente não iremos ficar a ver navios. Há ainda muito mar para navegar.
Todo o mundo é composto de mudança, escreveu Luís de Camões. O povo, sábio e também poeta, costuma dizer que não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe. Toda a nossa vida é feita de reajustes e adaptações às circunstâncias que vão surgindo pelo caminho. Aquilo que fazemos com essas circunstâncias marca o presente e o futuro.
É chegada a hora de ajustarmos a nossa vida às circunstâncias da situação social, económica e financeira do país. Não é possível voltar atrás. Portugal tem de mudar e não pode repetir os erros do passado.
Um general romano dizia que havia um povo muito estranho na parte Ocidental da Ibéria que não se governava nem se deixava governar. Referia-se aos lusitanos, aos nossos antepassados. Se olharmos com mais atenção para a nossa História, vamos ver outros momentos de desgoverno. A História de Portugal deve ser olhada com mais atenção para que os erros não se repitam tantas vezes.
Recorde-se que há um século, por exemplo, aquando da implantação da República, o país estava pobre e endividado. Passaram cem anos e parece que, em algumas coisas, parámos no tempo. É certo que muita coisa importante mudou, mas os problemas estruturais criaram raiz. Talvez tenha chegado o momento de ver nesta crise a oportunidade para mudar de vida. De reinventar. De criar. Com ética.
O sangue que corre nas veias dos portugueses é o daqueles que se voltaram para o mar e viram nele horizontes de futuro. Se aprendermos com a nossa História, certamente não iremos ficar a ver navios. Há ainda muito mar para navegar, muitas relações lusófonas para aprofundar, outros mundos para explorar e cuidar. Não há que ter medo de passar além do Bojador. É o Cabo da Boa Esperança que podemos alcançar, desde que haja união, como houve outrora, para remarmos todos rumo ao futuro do nosso país.
Sílvia Júlio, in Família Cristã, 11/04/2011