É preciso amar, acarinhar, dar colo, e ter sentido de família para que ela nos faça sentido.
As últimas imagens de violência que têm sido veiculadas nos órgãos de comunicação social e nas redes sociais quase me conseguiam levar a opinião inflamada que muitas vezes me caracteriza, tal foi o efeito que tiveram em mim.
Não fui capaz de ver nenhuma até ao fim. Se num primeiro momento me revoltaram, num segundo momento, e depois de remoídas, as imagens deixaram-me num estado letárgico, de náusea, de quem se sente mal, mas não se consegue mexer.
Adolescentes num espectáculo animalesco e brutal de violência, jovens a filmar e a ter gozo com uma violência
inqualificável, membros da marinha numa luta desigual e cobarde e uma mulher à estalada contínua a uma criança. Como é que se chega a este ponto? Onde, quando, como e porquê estas pessoas se perderam da sua humanidade? Mais preocupante, haverá muitas mais assim?
Para uma parte da sociedade, sim, porque embora se esteja a banalizar este tipo de episódios, não creio que este seja o retrato da sociedade no geral, apenas de uma parte, mas para essa parte há falta de uma coisa que é a base do ser humano... estrutura. Há falta de uma coluna vertebral vertical, direita, que é o que nos distingue. Naquelas imagens não vislumbrei homens de coluna de vertebral, bípedes. Faltou-lhes estrutura, portanto, humanidade.
E isso encontra-se na família. Há que voltar a dar-lhe o papel que ela realmente deve ter, célula-base da sociedade, local primordial da transmissão de valores.
E isto não é fácil, é um facto; mesmo com a melhor das intenções dos educadores. O equilíbrio custa a alcançar, temos de estar sempre conscientes, alerta. É preciso não facilitar o caminho, é preciso não desculpar o indesculpável, é preciso ser firme e muito importante, é preciso amar, acarinhar, dar colo, e ter sentido de família para que ela nos faça sentido.
E, quando por algum motivo isto falha, é preciso aceitar as instituições e os castigos, mesmo que nos pareçam excessivos! A prisão é uma escola de crime? Até posso concordar em parte, mas neste caso, estes jovens já vão mais a caminho de ser professores do que alunos. Portanto, penso que a justiça funcionou, cumpriu o seu papel.
Agora é preciso que a sociedade e a família cumpram o seu. A primeira, que não desvalorize a segunda e esta última, que chame a si toda a sua importância, que é muita, e não se deixe esbater pela falta de tempo, pela desumanização, pela desvalorização daquilo que nos torna humanos... o amor, os valores e princípios, a relação com o outro, o intelecto, enfim, a estrutura.
E acredito que isto é possível e urgente, porque imagens destas não são de seres humanos.
Rita Bruno,
in www.familiacrista.com, 13/06/2011