A propósito do 27º Encontro da Pastoral Social, promovido pela Comissão Episcopal de Pastoral Social e a realizar-se em Fátima, remete o pensamento para o 120º aniversário da publicação da Encíclica "Rerum Novarum" do Papa Leão XIII.
Mas o que tem de extraordinário este texto?
Em boa verdade, é uma pedra no charco, à época em que é escrito, para não dizer um autêntico tornado, dentro da Igreja, como fora dela.
A Igreja responde à emergência de um Socialismo, que rejeita Deus da Sociedade, e a uma Sociedade que carece de uma política social equitativa e igualitária, mergulhada numa ideia em que só pela luta de classes é possível a Liberdade, a Fraternidade e a Igualdade.
Porém, é pela "Rerum Novarum" que a Igreja diz que é possível a Liberdade com Deus, a Fraternidade com Deus, a Igualdade com Deus. E aqui está a Revolução, aqui está a luta...
É possível o direito e o dever na propriedade
É possível o direito e o dever no trabalho
É possível o direito e o dever no salário
É possível o direito e o dever no patronato
É possível o direito e o dever no Estado
É possível o Homem ser homem com direitos e deveres.
É possível a vida...
Estavam assim lançadas as armas para a Doutrina Social da Igreja. Uma mesma Igreja que anos antes tinha condenado todas as ideias do Liberalismo, através da "Syllabus errorum" de Pio IX. É nestes momentos em que se vê e se sente que a Igreja não está atrasada no tempo, antes pelo contrário, com um avanço extraordinário, capaz de supreender. Simplesmente o seu "modus operandi" não é o da Sociedade... E mal vai a barca de Pedro, quando esta barca não fôr resposta aos problemas da Sociedade, como foi em 1891, e como é agora actualmente. Porque, ao fim de contas, a Igreja é de Deus...
Apesar, de muitos defenderem que o objectivo final da "Rerum Novarum" era um aproximar da Igreja às novas ideias que emergiam na época, para não perder influência política, económica ou social. Na verdade, enganam-se redondamente. Porque afinal quem faz afirmações destas, não sabe, não conhece o que fala. Se a Igreja pensasse dessa forma a esta hora seria uma instituição desfeita em escombros.
Hoje, ler e analisar, "Rerum Novarum", é um imperativo que se coloca a qualquer governante, ou a qualquer cidadão mais preocupado com estas questões.
Muitas são as comparações temporais que possamos fazer com a sociedade de 1891, algumas semelhantes, e por isso é hora, não de reescrever uma "Rerum Novarum", mas de construir a sociedade da "Rerum Novarum", porque os alicerces estão lançados.
Aqui fica o link para quem tomar a liberdade de ler:
josé miguel