quinta-feira, 31 de maio de 2012

Dos Comentários do Bem-aventurado Charles de Foucauld, eremita e missionário no Saara

Maria, minha mãe, hoje é, ao mesmo tempo, uma festa vossa e uma das festas
de Jesus: tal como a Purificação, que é sobretudo a Apresentação de Jesus,
também a Visitação é uma das vossas festas tão doces mas é, acima de tudo,
uma festa de Nosso Senhor, pois é Ele que age em vós e através de vós. A
Visitação é «o amor de Cristo [que] nos urge» (2Co 5,14), é Jesus que, mal
entrou em vós, teve sede de fazer outros santos e outras pessoas felizes.
Pela Anunciação, Ele manifestou-Se e deu-Se a vós, santificou-vos
maravilhosamente. Mas isso não Lhe bastou: no Seu amor pelos homens, quis
de imediato manifestar-Se e dar-Se, através de vós, aos outros homens, quis
santificar outros homens, e fez com que o transportásseis a casa de São
João Baptista. [...]


O que a Virgem santa vai fazer na Visitação não é uma visita à sua prima
para se consolarem e se edificarem mutuamente pela narrativa das maravilhas
que Deus fez nelas; menos ainda é uma visita de caridade material para a
ajudar nos últimos meses da gravidez e no parto. É muito mais do que isso:
ela vai santificar São João, anunciar-lhe a Boa Nova [...], não através de
palavras suas, mas levando-lhe o silêncio de Jesus. [...]


Assim fazem as religiosas e os religiosos votados à contemplação nos países
de missão. [...] Ó minha Mãe, fazei com que sejamos fiéis à nossa missão, à
nossa missão tão bela. Que levemos fielmente até junto dessas pobres almas,
mergulhadas «na sombra da morte» (Lc 1,79), o divino Jesus.

in evangelhoquotidiano.org

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo,presbítero em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla, doutor da Igreja

Ao cobiçar os primeiros lugares, os mais altos cargos e as honras mais
elevadas, os dois irmãos,Tiago e João, queriam, na minha opinião, ter
autoridade sobre os outros.É por isso que Jesus Se opõe à sua pretensão
deles, e põe a nu os seus pensamentos secretos dizendo-lhes: «Quem quiser
ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos.» Por outras palavras:
«Se ambicionais oprimeiro lugar e as maiores honras, procurai o último
lugar, aplicai-vosa tornar-vos os mais simples, os mais humildes e os mais
pequenos detodos. Colocai-vos atrás dos outros. Tal é a virtude que vos
trará a honra a que aspirais. Tendes junto a vós um exemplo notável: «Pois
tambémo Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
Suavida em resgate por todos» (Mc 10,45). Eis como obtereis glória e
celebridade. Olhai para Mim: Eu não procuro honras nem glória e, no
entanto, o bem que faço é infinito.»

Bem sabemos que, antes da Incarnação de Cristo e da Sua vinda a este mundo,
tudo estava perdido e corrompido; mas, depois de Ele Se ter humilhado, tudo
restabeleceu. Aboliu a maldição, destruiu a morte, abriu o paraíso, acabou
com opecado, escancarou as portas do céu para levar para lá as primícias
danossa humanidade. Propagou a fé em todo o mundo. Expulsou o erro e
restabeleceu a verdade. Fez subir a um trono real as primícias da nossa
natureza. Cristo é o autor de bens infinitamente numerosos, que nem a minha
palavra nem nenhuma palavra humana poderiam descrever. Antes da Sua vinda a
este mundo só os anjos O conheciam; mas, depois de Ele Se terhumilhado,
toda a raça humana O reconheceu.

in evangelhoquotidiano.org

terça-feira, 29 de maio de 2012

De São Francisco de Sales, bispo de Genebra e doutor da Igreja

As coisas que possuímos não são nossas. Deus deu-no-las para que as
cultivemos e quer que as tornemos frutuosas e úteis. [...] Prescindi
sempre, portanto, de uma parte dos vossos meios e dai-a aos pobres de bom
coração. [...] É verdade que Deus vo-lo devolverá, não só no outro mundo,
mas também já neste, porque não há coisa que mais nos faça prosperar do que
a esmola; mas, enquanto esperais que Deus vo-lo torne, estareis já mais
pobres daquilo que destes, e como é santo e rico o empobrecimento que advém
de se ter dado esmola!
Amai os pobres e a pobreza, porque por este amor tornar-vos-eis
verdadeiramente pobres, tal como está dito nas Escrituras: tornamo-nos
naquilo que amamos (cf. Os 9,10). O amor torna os amantes iguais: «Quem é
fraco, sem que eu o seja também?», diz São Paulo (2 Co 11,29). Poderia ter
dito: «Quem é pobre, sem que eu o seja também?», porque o amor tornava-o
igual a quem amava. Portanto, se amais os pobres, sereis verdadeiramente
participantes da sua pobreza, e pobres como eles. Assim,se amais os
pobres, ide com frequência para o meio deles: tende prazer em os receber em
vossas casas e em visitá-los; conversai voluntariamente com eles, ficai
felizes por eles se aproximarem de vós na igreja, na rua ou em qualquer
outro local. Sede pobres de língua para com eles,falando-lhes como amigo,
mas sede ricos de mãos, largamente lhes dando dos vossos bens, pois vós os
tendes em muito maior abundância.

Quereis fazer mais, ainda? Tornai-vos servos dos pobres; ide servi-los
[...] com as vossas próprias mãos [...] e a expensas vossas. Maior triunfo
há neste serviço do que o que há na realeza.


"Introdução à vida devota", terceira parte, cap. 15
in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Das Homílias de São João Crisóstomo, presbítero em Antioquia, depois bispo de Constantinopla, doutor da Igreja

Não foi um ardor medíocre que o jovem revelou; estava como que apaixonado.
Enquanto outros se aproximavam de Cristo para O pôr à prova ou para Lhe
falar das suas doenças, das dos seus pais ou ainda de outras pessoas, ele
aproxima-se de Jesus para conversar sobre a vida eterna. O terreno era rico
e fértil, mas estava cheio de espinhos prontos para sufocar as sementes (Mt
13,7). Reparai como o jovem estava disposto a obedecer aos mandamentos:
«Que devo fazer para alcançar a vida eterna?» [...] Nunca nenhum fariseu
manifestou tais sentimentos; pelo contrário estavam furiosos por terem sido
reduzidos ao silêncio. O nosso jovem, porém, partiu de olhos baixos de
tristeza, sinal inegável de que não tinha vindo com más intenções.
Simplesmente, era demasiado fraco; tinha o desejo da Vida, mas deteve-o uma
paixão muito difícil de superar. [...]

«'Falta-te apenas uma coisa, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos
pobres e terás um tesouro no Céu; depois vem e segue-Me.' [...] Ao ouvir
tais palavras, [...]retirou-se pesaroso». O Evangelista mostra qual é a
causa desta tristeza: é que «tinha muitos bens». Os que têm pouco e os que
vivem mergulhados na abundância não possuem os seus bens da mesma maneira.
Nos últimos, a avareza pode ser uma paixão violenta, tirânica; qualquer
nova posse acende neles uma chama mais viva, e os que são atingidos por ela
ficam mais pobres do que antes. Têm mais desejos e, no entanto, sentem com
mais força a sua pretensa indigência. Em todo o caso, reparai como aqui a
paixão mostrou a sua força: [...] «Como é difícil entrar no Reino deDeus!
É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que umrico
entrar no Reino de Deus.» Cristo não condena as riquezas, mas condena
aqueles que as possuem.

in evangelhoquotidiano.org

domingo, 27 de maio de 2012

Na Solenidade de Pentecostes


“Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.” (Jo. 20, 19-23)

A Igreja celebra hoje, a Solenidade de Pentecostes. Com esta Solenidade termina o Tempo Pascal. Um tempo de cinquenta dias em que celebramos a nossa Fé em Cristo Ressuscitado. Nesta solenidade celebramos ainda o início deste caminho peregrinante da Igreja de Cristo, que é animada pelo Espírito Santo. Ainda que este caminho peregrinante seja feito por muitas sombras, mas também por muitas luzes.

            O livro dos Actos dos Apóstolos, relata-nos o episódio de como se manifestou o Espírito Santo aos Apóstolos. Eles que estavam de portas fechadas, com medo. Foi o Espírito que os impulsionou que viessem cá para fora e testemunhar o Evangelho a todos os povos. Também, alguns de nós, Cristãos, vivemos dentro do Cenáculo de portas fechadas com medo de anunciar e testemunhar Cristo que é Vida e Esperança para a Humanidade. Saibamos, abrir as portas do nosso coração aos dons do Espírito a fim de proclamar a todos os povos a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.

            O Evangelho de São João, é o próprio Jesus Cristo que nos fala: “Assim como o Pai me enviou, também Vos envio a vós(…) Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.” (Jo 20, 19-23) Jesus Cristo envia-nos, a sermos testemunho, a ser a Sua Vida, a Sua Verdade, o Seu Caminho, num mundo que cada vez mais procura um sentido para a sua existência. Que cada cristão possa ser esse sinal, esse testemunho nos seus ambientes.

            Porém, São Paulo, fala-nos da diversidade na unidade. “De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.(…) Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo.” (1Cor 12, 3b-7. 12-13) Todos nós, somos diferentes, nas formas de pensar e de agir, mas que esta diferença seja para a unidade deste corpo que é Jesus Cristo. Saibamos, ser sinal de unidade nesta diversidade…

josé miguel

sábado, 26 de maio de 2012

Dos Comentários de Santo Aelredo de Rievaulx, monge cistercense

Algumas pessoas a quem não é concedida uma promoção deduzem daí que não são
amadas; se não são envolvidas nos negócios e nas actividades, lastimam-se
por terem sido postas de lado. E isto é, sabemo-lo bem, uma fonte de grave
desentendimento entre pessoas que passavam por amigas; no cúmulo da
indignação, estas pessoas chegam a separar-se e a maldizer-se. [...]

Que ninguém diga que foi posto de lado porque não lhe foi atribuída uma
promoção. A este respeito, o Senhor Jesus preferiu Pedro a João; no
entanto, não foi por conferir a primazia a Pedro que retirou a sua afeição
a João. Confiou a Sua Igreja a Pedro; a João entregou a Sua Mãe muito amada
(Jo 19,27). Deu a Pedro as chaves do Seu reino (Mt16,19); a João mostrou
os segredos do Seu coração (Jo 13,25). Por conseguinte, Pedro ocupa um
posto elevado, mas o lugar de João é mais seguro. Embora tivesse recebido o
poder, quando Jesus disse: «um de vós há-de entregar-me» (Jo 13,21), Pedro
treme e assusta-se como os outros; João, instigado por Pedro e encorajado
pela sua proximidade ao Senhor, interroga-O para saber de quem fala. Pedro
entrega-se à acção; João é posto à parte, para testemunhar a sua afeição,
de acordo com a palavra:«Quero que fique até Eu voltar». Ele deu-nos o
exemplo para que tambémnós façamos o mesmo.

in evangelhoquotidiano.org

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Da Encíclica "Ut unum sint" do Beato João Paulo II, papa

O Bispo de Roma é o Bispo da Igreja que conserva o testemunho do martírio
de Pedro e de Paulo. [...] O Evangelho de Mateus traça e especifica a
missão pastoral de Pedro na Igreja. [...] «Também Eu te digo: Tu és Pedro,
esobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja» (16,18). Lucas põe em
evidência que Cristo recomenda a Pedro que confirme os irmãos, mas ao mesmo
tempo dá-lhe a conhecer a sua fraqueza humana e a sua necessidadede
conversão (22,32). É como se, sobre o horizonte da fraqueza humana de
Pedro, se manifestasse plenamente que o seu particular ministério naIgreja
provém totalmente da graça. [...]

Logo aseguir à sua investidura, Pedro é repreendido com rara severidade
porCristo, que lhe diz: «Tu és para Mim um estorvo» (Mt 16, 23). Como não
ver, na misericórdia de que Pedro tem necessidade, uma relação com o
ministério daquela misericórdia que ele foi o primeiro a experimentar?
[...] Também o Evangelho de João sublinha que Pedro recebe o encargo de
apascentar o rebanho com uma tríplice profissão de amor, que corresponde à
sua tríplice negação. [...] Quanto a Paulo, conclui a descrição do seu
ministério com a surpreendente afirmação que lhe foi concedido ouvirdos
lábios do Senhor: «Basta-te a Minha graça, porque é na fraqueza que a Minha
força se revela totalmente», podendo em seguida exclamar: «Quando me sinto
fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 9-10). [...]

Herdeiro da missão de Pedro [...], o Bispo de Roma exerce um ministério que
tem a sua origem na misericórdia multiforme de Deus, a qual converte os
corações e infunde a força da graça onde o discípulo sente o sabor amargo
da sua fraqueza e miséria. A autoridade própria deste ministério está posta
totalmente ao serviço do desígnio misericordioso de Deus e há-de ser vista
sempre nesta perspectiva. É nela que se explica o seu poder. Ligado como
está à tríplice profissão de amor de Pedro, que corresponde à tríplice
negação, o seu sucessor sabe que deve ser sinal de misericórdia. O seu
ministério é um ministério de misericórdia, nascido de um acto de
misericórdia de Cristo. Toda esta lição do Evangelho deve ser
constantemente relida, para que o exercíciodo ministério petrino nada
perca da sua autenticidade e transparência.

in evangelhoquotidiano.org

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dos Discursos do Papa Bento XVI

[Nas relações entre católicos e ortodoxos] a investigação teológica, que
tem de se confrontar com questões complexas ede encontrar soluções não
limitadas, é um compromisso sério, do qual nãonos podemos eximir. Se é
verdade que o Senhor chama vigorosamente os Seus discípulos a construir a
unidade na caridade e na verdade; se é verdade que o apelo ecuménico
constitui um convite urgente a reconstruir, na reconciliação e na paz, a
unidade entre todos os cristãos, gravemente prejudicada; se é verdade que
não podemos ignorar o facto de que a divisão torna menos eficaz a
sacrossanta causa da pregação do Evangelho a todas as criaturas (cf.  Mc
16,15), como nos podemos subtrair à tarefa de examinar com clareza e boa
vontade as nossas diferenças, enfrentando-ascom a íntima convicção que
elas devem ser resolvidas?

A unidade que buscamos não é absorção nem fusão, mas respeito pela
plenitude multiforme da Igreja que, em conformidade com a vontade do seu
Fundador, Jesus Cristo, deve ser sempre una, santa, católica e apostólica.
Este apelo encontrou a plena ressonância na intangível profissão de fé de
todos os cristãos, o Símbolo elaborado pelos Padres dos concílios
ecuménicos de Niceia e de Constantinopla.

O Concílio Vaticano II reconheceu com lucidez o tesouro que o Oriente
possui e do qual o Ocidente «auriu muitas coisas»; [...] exortou a não
esquecer os sofrimentos que o Oriente padeceu para conservar a sua fé;
[...] encorajou a considerar o Oriente e o Ocidente como elementos que,em
conjunto, compõem o rosto esplendoroso do Pantocrátor, cuja mão abençoa
toda a Oikoumene. O Concílio foi ainda mais além, afirmando: «Não é, pois,
de admirar que alguns aspectos do mistério revelado sejam concebidos de
modo mais apto e postos sob melhor luz por uns do que por outros, de
maneira que pode dizer-se que essas fórmulas teológicas muito mais se
completam do que se opõem» (Unitatis redintegratio, 17).

in evangelhoquotidiano.org

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Da Constituição sobre a Igreja «Lumen gentium»

A distinção que o Senhor estabeleceu entre os ministros sagrados e o
restante Povo de Deus contribui para a união, já que os pastores e os
demais fiéis estão ligados uns aos outros por uma vinculação comum: os
pastores da Igreja, imitando o exemplo do Senhor, prestem serviço uns aos
outros e aos fiéis:e estes dêem alegremente a sua colaboração aos pastores
e mestres. Deste modo, todos testemunham, na variedade, a admirável unidade
do Corpo místico de Cristo: a própria diversidade de graças, ministérios e
actividades consagra em unidade os filhos de Deus, porque «um só e o mesmo
é o Espírito que opera todas estas coisas» (1 Cor. 12,11).

Os leigos, portanto, do mesmo modo que, por divina condescendência,têm por
irmão a Cristo, o Qual, apesar de ser Senhor de todos, não veio para ser
servido mas para servir (Cf. Mt. 20,28), de igual modo têm por irmãos
aqueles que, uma vez estabelecidos no sagrado ministério,apascentam a
família de Deus ensinando, santificando e governando com a autoridade de
Cristo, de modo que o mandamento da caridade seja por todos observado. A
este respeito diz belissimamente Santo Agostinho: «Aterra-me o ser para
vós, mas consola-me o estar convosco. Sou para vós como bispo; estou
convosco como cristão. Nome de ofício, o primeiro; de graça, o segundo;
aquele, de risco; este, de salvação».

in evangelhoquotidiano.org

terça-feira, 22 de maio de 2012

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo de Hipona e doutor da Igreja

Há pessoas que pensam que o Filho foi glorificado pelo Pai na medida em que
Ele não O poupou, mas O entregou por todos nós (Rom. 8,32). Mas, se Ele foi
glorificado na Sua Paixão,quanto mais o não foi na Sua ressurreição! Na
Paixão, a Sua humildade aparece mais do que o Seu esplendor. [...] A fim de
que «o mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo» (1 Tm 2,5),
fosse glorificado na Sua ressurreição, foi humilhado na Sua Paixão. [...]
Nenhum cristão duvida: é evidente que o Filho foi glorificado sob a forma
de servo, queo Pai ressuscitou e fez sentar à Sua direita (Fil 2,7; Ac
2,34).

Mas o Senhor não diz apenas: «Pai, glorifica o Teu Filho»; acrescenta:
«para que o Teu Filho Te glorifique». Pergunta-se, e com razão, como é que
o Filho glorificou o Pai. [...] Na verdade, a glória doPai, em si mesma,
não pode aumentar nem diminuir. No entanto, era menor entre os homens
quando Deus só era conhecido «na Judeia» e «os Seus servos não louvavam o
nome do Senhor desde o nascer ao pôr do sol» (Sl75,2; 112,1-3). Isto foi
consequência do Evangelho de Cristo, que deu aconhecer às nações o Pai
através do Filho: e foi assim que o Filho glorificou o Pai.

Se o Filho tivesse apenas morrido e não tivesse ressuscitado, não teria
sido glorificado pelo Pai nem o Pai por Ele. Agora, glorificado pelo Pai na
Sua ressurreição, glorifica o Pai pela pregação da Sua ressurreição. Isto
vê-se na própria ordem das palavras: «Pai, glorifica o Teu Filho, para que
o Teu Filho Te glorifique», como se dissesse: «Ressuscita-Me, para que, por
Mim, sejas conhecido em todo o universo». [...] Nesta vida, Deus é
glorificado quando a pregação O dá a conhecer aos homens; e é pregado pela
fé dos que crêem n'Ele.

in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Das Conferências do Bem-aventurado Tito Brandsma, carmelita holandês, mártir

Por muito que amemos a paz e todos tenhamos no fundo do coração a esperança
de que a nossa acção em seu favor não será inútil, nem vós nem eu podemos
escapar à pressão destes tempos. Significa isso que não podemos
libertar-nos da dúvida geral de que, segundo as leis da História, alguma
coisa possa mudar: de cada vez que uma guerra sucede a outra, é um golpe
mortal que a causa da paz recebe. Vivemos ainda demasiado sob a influência
daqueles que defendem que recorrer às armas para vencer a guerra é o melhor
caminho para alcançar a paz. [...]

É no entanto extraordinário verificar que, ao longo dos séculos,têm
constantemente surgido heróis e mensageiros de paz. Encontramos estes
mensageiros, estes apóstolos de paz, em qualquer tempo e em qualquer lugar
e, hoje em dia, por sorte que até nem faltam. Mas nenhum desses mensageiros
de paz alcançou eco tão duradouro como Aquele a Quem[...] chamamos
Príncipe da Paz (Is 9,5). Permitai que vos relembre quem é este Mensageiro.
No Domingo de Páscoa, parecia que os Apóstolos haviam perdido toda a
esperança, depois da morte de Cristo na cruz. E, quando aos olhos do mundo
a missão de Cristo estava acabada e mais não era do que um fracasso para
esquecer, eis que Ele lhes aparece, reunidos no Cenáculo com medo dos seus
opositores e, em vez de declarações beligerantes contra os Seus
adversários, ouvem-n'O dizer-lhes: «Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz, e
não é à maneira do mundo que vo-la dou!»(Jo 14,27).

Gostava de repetir-vos esta palavra, de fazê-la ressoar pelo mundo fora,
sem sequer me preocupar com quem a ouvirá. Gostava de repeti-la tantas
vezes que, mesmo que [...] não a aceitássemos, acabaríamos por escutá-la
até chegarmos a compreendê-la.

in evangelhoquotidiano.org

domingo, 20 de maio de 2012

Na Solenidade da Ascensão do Senhor

"E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus." (Mc. 16, 15-20)

Neste Domingo VII do Tempo Pascal, a Igreja contempla a Ascensão de Nosso Jesus Cristo. A Ascensão de Cristo ao Céu é um convite à nossa esperança. Acreditar que somos muito mais que estes simples corpos, esta simples matéria, e que as coisas espirituais, estão ao nosso alcance, a partir desta vida terrena, basta auscultar o espírito. Por isso, o Céu é a nossa participação de homens e mulheres na Vida de Deus, numa relação de Amor e Liberdade. Somos de Deus, aspiramos a Deus, e para Deus voltaremos, porque em bem rigor Ele nos ama, e Ele nos quer para Ele.

Na primeira leitura dos Actos dos Apóstolos sublinha-se a missão dos discípulos e do seu testemunho até aos confins da terra sob a acção do Espírito Santo. Também nós, hoje, Cristãos, somos interpelados a ser este testemunho, este sinal, da presença de Cristo no Mundo. Somos chamados a testemunhar do que "vimos e ouvimos."  (1 Jo 1, 3)

Neste sentido, nos aponta o Evangelho de São Marcos, pelo convite de Jesus. É Jesus Cristo que nos chama... "Ide por todo o Mundo, anunciai o Evangelho a toda a criatura" (Mc. 16, 16). Dar testemunho é estar em comunhão com Cristo, ser sinal deste Cristo na nossa vida, nos nossos ambientes, e anunciar o Evangelho, tal como Paulo no areópago de Atenas. E hoje, são vários os areópagos da nossa vida... Mas que este anúncio não sejam meras palavras, que seja a vida e o viver, que sejam obras, a fim de testemunhar Jesus Cristo que é Caminho, Verdade e Vida. Jesus Cristo que é Amor e Liberdade. Jesus Cristo que é Fé, Esperança e Caridade.

Na sua Carta aos Cristãos de Éfeso, São Paulo, diz-nos que é a Esperança, que fortalece os Cristãos na sua missão evangelizadora no Mundo. Esperança num amanhã que irá ser melhor, porque existe a Vida, porque existe o Amor. E como, estamos sedentos de Amor, de Esperança e de Vida! Temos hoje no meio de nós, muitos que estão vivos, estando mortos. Morreram para a Vida, morreram para o Amor. Pois é, precisamente, para esses que se encontram mortos que Jesus Cristo tem uma palavra: "Eu sou a Ressurreição e a Vida" (Jo 11, 17-27) São palavras revolucionárias, quando as pensamos e as meditamos. Em bom rigor, o Cristianismo é revolucionário e subversivo. Na verdade, uma resposta à mudança que tanto desejamos e ambicionamos nas nossas vidas. A Revolução que tanto queremos e desejamos na nossa Vida!

Por isso, no Mundo os Cristãos, (aqueles que dizem que acreditam num Homem que morreu na Cruz e que ressuscitou dos mortos, e que está vivo hoje), devem ser este testemunho, esta vida, esta esperança. Não precisamos de profetas da desgraça, mas profetas da Esperança, profetas da Vida.

No Mundo que parece sucumbir a um tempo de cansaço e de depressão, Esperança, é a palavra que todos, nós, Crentes e Não-Crentes, que teremos que evidentemente de acreditar.


josé miguel

sábado, 19 de maio de 2012

Das Cartas de São Fulgêncio de Ruspe, bispo no Norte de África

Em conclusão das nossas orações,dizemos: «Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho» e não «pelo Espírito Santo». Esta prática da Igreja universal
não deixa de ter uma razão. A sua causa é o mistério segundo o qual o homem
Jesus Cristo é o mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), Sumo Sacerdote
eterno segundo a ordem de Melquisedec, Ele que pelo Seu próprio sangue
entrou no Santo dos santos, não num santuário feito por mão de homem,
figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, onde está à direita de Deus e
intercede por nós (Heb 6,20; 9,24).

É a pensar no sacerdócio de Cristo que o apóstolo diz: «Por meio d' Ele
ofereçamos sem cessar a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos
lábios que confessam o Seu nome» (Heb 13,15). É por Ele que oferecemos o
sacrifício de louvor e a oração, porque foi a Sua morte que nos reconciliou
quando éramos inimigos(Rm 5,10). Ele quis sacrificar-Se por nós; é por Ele
que a nossa oferenda pode ser agradável aos olhos de Deus. Eis por que
motivo São Pedro nos adverte nestes termos: «E vós mesmos, como pedras
vivas, entrai na construção de um edifício espiritual por meio de um
sacerdócio santo,cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão
agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (1Pe 2,5). É por esta razão que
dizemos a Deus Pai:«Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho».

in evangelhoquotidiano.org

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo de Hipona e doutor da Igreja

«Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos» (Fl 4,4). O
apóstolo Paulo ordena-nos que sejamos felizes, mas no Senhor, e não segundo
o mundo. Como está dito nas Escrituras: «Quem quiser ser amigo deste mundo
torna-se inimigo de Deus!» (Tg 4,4). Tal como não podemos servir a dois
senhores (Mt 6,24), também não podemos ser felizes,simultaneamente, no
mundo e no Senhor. Que a alegria no Senhor prevaleça, portanto, até que
desapareça a alegria pelas coisas do mundo; que a alegria no Senhor aumente
sempre [...]. Não digo isto significando que, porque vivemos no mundo,
nunca nos devamos alegrar; mas para que, mesmo vivendo no mundo, sejamos
felizes no Senhor.

Haverá quem diga, porém: «Estou neste mundo; se sou feliz, sou feliz aqui,
ondeestou.» E então? Porque estás no mundo, não estás no Senhor? Escuta
aindaSão Paulo [...] acerca de Deus e do Senhor, nosso Criador: «É n'Ele,
realmente, que vivemos, nos movemos e existimos» (Act 17,28). Porque Ele
está em todo o lado; haverá lugar onde não esteja? Não era sobre isto que
ele nos exortava? «O Senhor está próximo. Por nada vos deixeis inquietar»
(Fl 4,5-6).

Grande mistério, este: Ele subiu aos céus, e está próximo dos que habitam a
Terra. Quem, portanto, poderá estar simultaneamente longe e tão perto, a
não ser Aquele que, por misericórdia, se aproximou tanto de nós?»

in evangelhoquotidiano.org

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dos Sermões de JeanTauler, dominicano em Estrasburgo

«Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado aoCéu».
[...] Os membros do Corpo de Cristo devem seguir o seu chefe, a suacabeça,
que foi arrebatado hoje. Ele precedeu-nos, para nos preparar umlugar (cf.
Jo 14,2), para que nós, que O seguimos, possamos dizer como anoiva do
Cântico dos Cânticos: «Arrasta-me atrás de ti» (1,4). [...]

Queremos segui-Lo? Devemos ter também em consideração o caminhoque Ele nos
mostrou durante trinta e três anos: caminho de pobreza, dedespojamento,
por vezes muito amargos. Mas temos de seguir esse mesmocaminho se
quisermos chegar, com Ele, acima de todos os céus. Mesmoquando todos os
mestres estiverem mortos e todos os livros queimados,encontraremos sempre,
na Sua santa vida, um ensinamento suficiente, poisEle mesmo é o caminho e
nenhum outro (cf. Jo 14,6). Sigamo-Lo,portanto.

Tal como o íman atrai o ferro, assim o amávelCristo atrai a Si todos os
corações a quem tocou. O ferro tocado pelaforça do íman é elevado acima do
que lhe é natural, sobe, seguindo-o,embora isso seja contrário à sua
natureza. Já não tem repouso até serelevado acima de si próprio. Assim
também, que todos aqueles que sãotocados no mais fundo do coração por
Cristo já não retêm, nem a alegria,nem o sofrimento. Elevaram-se acima de
si próprios até Ele. [...]

Quando não somos tocados não devemos imputá-lo a Deus. Deustoca, empurra,
adverte e deseja igualmente todos os homens, quer da mesmamaneira a todos
os homens, mas a Sua acção, a Sua advertência e os Seusdons são recebidos
e aceites de formas muito diversas. [...] Nós amamos eprocuramos outras
coisas que não Ele, por isso os dons que Deus oferecesem cessar a cada
homem ficam muitas vezes por utilizar. [...] Sópoderemos sair desse estado
de alma com um zelo corajoso e decidido e comuma oração muito sincera,
interior e perseverante.

in evangelhoquotidiano.org

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Das Catequeses de Simeão, o Novo Teólogo, monge grego, santo das Igrejas Ortodoxas

A «chave do conhecimento» (Lc 11,52) não é senão a graça do Espírito Santo, que é dada pela fé. Pela iluminação, ela produz um conhecimento muito real, e mesmo o conhecimento completo. Ela abre o nosso espírito fechado na obscuridade, muitas vezes com parábolas e símbolos, mas também com declarações mais claras. [...] Prestai pois muita atenção ao sentido espiritual da palavra. Se a chave não for adequada, a porta não se abrirá. Porque, disse o Bom Pastor, «é a ele que o porteiro abre» (Jo 10,3). Mas, se a porta não se abrir, ninguém entra na casa do Pai, porque Cristo disse: «Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14,6).


Ora, é o Espírito Santo Quem primeiro abre o nosso espírito e nos ensina o que se refere ao Pai e ao Filho. Cristo disse-nos: «O Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar da parte do Pai, dará testemunho a Meu favor, e guiar-vos-á a toda a verdade» (Jo 15,26; 16,13). Vede como, pelo Espírito, ou melhor, no Espírito, o Pai e o Filho Se dão a conhecer inseparavelmente. [...]


Se chamamos ao Espírito Santo uma chave, é porque é primeiramente por Ele e n'Ele que o nosso espírito é iluminado. Uma vez purificados, somos iluminados pela luz do conhecimento. Somos baptizados do alto, recebemos um novo nascimento e tornamo-nos filhos de Deus, como disse São Paulo: «O Espírito Santo intercede por nós com gemidos inefáveis» (Rom 8,26). E ainda: «Deus enviou aos nossos corações o Espírito que clama: 'Abba, Pai'» (Gal 4,6). É por conseguinte Ele que nos mostra a porta, porta que é luz, e a porta ensina-nos que Aquele que habita esta casa é também luz inacessível.

in evangelhoquotidiano.org

terça-feira, 15 de maio de 2012

Dos Sermões de São Bernardo, monge cisterciense e doutor da Igreja

O Espírito Santo estendeu sobre a Virgem Maria a Sua sombra (Lc 1,35) e, no dia de Pentecostes, fortificou os apóstolos; a Ela, fê-lo para suavizar o efeito da vinda da divindade ao seu corpo virginal e a eles, para os revestir com a força do alto (cf. Lc 24,49), isto é, com a mais ardente caridade. [...] Como teriam eles, na sua fraqueza, podido cumprir a sua missão de triunfar sobre a morte sem «esse amor, mais forte que a morte», e de não permitir que «as portas do abismo prevalecessem sobre eles» sem esse amor mais inflexível que o abismo? (cf. Mt 16,18; Ct 8,6) Ora, ao ver esse zelo, alguns julgavam-nos ébrios (cf. Act 2,13). Efectivamente, estavam ébrios, mas de um vinho novo [...], aquele que a «verdadeira videira» deixara derramar do alto do céu, aquele que «alegra o coração do homem» (cf. Jo 15,1; Sl 103,15). [...] Era um vinho novo para os habitantes da terra mas, no céu, encontrava-se em abundância [...], jorrava em golfadas pelas ruas e pelas praças da cidade santa, por onde espalhava a alegria do coração. [...]


Assim, havia no céu um vinho especial que a terra desconhecia. Mas a terra tinha também qualquer coisa que lhe era própria e que era a sua glória — a carne de Cristo — e os céus tinham uma grande sede da presença dessa carne. Quem poderia impedir essa troca tão certa e tão rica em graça entre o céu e a terra, entre os anjos e os apóstolos, de forma que a terra possuísse o Espírito Santo e o céu a carne de Cristo? [...] «Se Eu não for, o Paráclito não virá a vós», disse Jesus. Quer dizer, se não deixais partir aquilo que amais, não obtereis o que desejais. «É melhor para vós que Eu vá» e que vos transporte da terra ao céu, da carne ao espírito; pois o Pai é espírito, o Filho é espírito e o Espírito Santo é também espírito. [...] E o Pai «é espírito; por isso, os que O adoram devem adorá-Lo em espírito e verdade» (Jo 4,23-24).

in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo, sobre os Actos dos Apóstolos

Mostrai-nos, Senhor, quem escolhestes
Naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos discípulos, disse. Pedro, a quem Cristo tinha confiado o rebanho, movido pelo fervor do seu zelo e dado que era o primeiro dentro do grupo, foi o primeiro a tomar a palavra: Irmãos, é necessário escolher de entre nós. Aceita a opinião de todos, a fim de que o escolhido seja recebido com agrado, evitando a odiosidade que se podia insinuar, já que estas coisas, com frequência, são origem de grandes males.
Mas não tinha Pedro autoridade para escolher por si só? É claro que tinha; mas absteve-se, para não mostrar favoritismo. Além disso, ainda não tinha recebido o Espírito Santo. E apresentaram dois, diz a Escritura, José, chamado Bársabas e que tinha o sobrenome de Justo, e Matias. Não foi Pedro que os apresentou, mas todos. O que ele fez foi aconselhar esta eleição, fazendo ver que a iniciativa não era sua, mas anunciada já anteriormente pela profecia. A sua intervenção neste caso foi interpretar a profecia e não impôr um preceito.
E continua: É necessário que de entre os homens que andaram connosco. Reparai como se empenha em que tenham sido testemunhas oculares; embora o Espírito Santo, houvesse de vir depois sobre eles, dá a isso grande importância.
De entre os homens que andaram connosco, todo o tempo que o Senhor Jesus passou no meio de nós. Refere-se àqueles que viveram com Jesus e não aos que eram apenas discípulos. De facto, eram muitos os que O seguiam desde o princípio. Vede como diz o Evangelho: Era um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João e seguiram Jesus.
Todo o tempo que o Senhor Jesus passou no meio de nós, desde que foi baptizado por João. Com razão assinala este ponto de partida, já que ninguém conhecia por experiência o que antes se passara, mas foram ensinados pelo Espírito Santo.
Até ao dia em que nos foi levado para o alto; é necessário, pois, que um deles se torne connosco testemunha da sua ressurreição. Não disse: «Testemunha de tudo o mais»; mas só: Testemunha da ressurreição. Na verdade, seria mais digno de fé quem pudesse testemunhar: «Aquele que vimos comer e beber e que foi crucificado, foi esse que ressuscitou». Não interessava ser testemunha do tempo anterior nem do seguinte nem dos milagres, mas simplesmente da ressurreição. Porque todos os outros factos eram manifestos e públicos; só a ressurreição se tinha realizado secretamente e só eles a conheciam.
E todos juntos rezaram, dizendo: Vós, Senhor, que conheceis o coração de todos, mostrai-nos. Vós, não nós. Com razão O invocam como Aquele que conhece os corações, porque a Ele, e a ninguém mais, competia fazer a eleição. Assim falavam com toda a confiança, porque a eleição era absolutamente necessária. E não disseram: Escolhei; mas: Mostrai-nos quem escolhestes. Bem sabiam que tudo está preestabelecido por Deus. E deitaram sortes sobres eles. Ainda não se julgavam dignos de fazer a eleição por si mesmos; por isso desejaram ser esclarecidos por algum sinal.
 
(Hom. 3, 1.2.3: PG 60, 33-36.38) (Sec. IV)
in Liturgia da Horas

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, bispo

Um só morreu por todos; e é Ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho, imolado nos alimenta, acreditado nos vivifica, consagrado santifica os que O consagram.

Esta é a Carne e o Sangue do Cordeiro: É o mesmo pão descido do Céu que diz: O pão que eu hei-de dar é a minha Carne pela vida do mundo. Também o seu Sangue está significado sob a espécie do vinho. Disse-o Ele mesmo ao afirmar no Evangbelho: Eu sou a verdadeira videira, manifestando com suficiente clareza que é seu Sangue todo o vinho oferecido como sacramento da sua paixão. Por isso, já o santo patriarca Jacob tinha profetizado acerca de Cristo, dizendo: Lavará em vinho a sua veste e no sangue das uvas a sua túnica. De facto, havia de lavar no seu próprio Sangue a túnica do nosso corpo que tinha tomado sobre Si como um vestido.

O Criador e Senhor da natureza, que produz o pão da terra, também transforma o pão no seu próprio Corpo (porque pode fazê-lo e assim o tinha prometido); do mesmo modo, Aquele que transformou a água em vinho, transforma o vinho no seu Sangue.

É a Páscoa do Senhor, diz a Escritura, isto é, a passagem do Senhor. Por isso não julguemos terrestres os elementos que se tornam celestes, porque o Senhor “passou” para estas realidades terrestres e transformou-as no seu Corpo e no seu Sangue.

O que recebes é o Corpo daquele pão do Céu e o Sangue daquela videira sagrada. Com efeito, ao entregar aos discípulos o pão e o vinho consagrados, diz: Este é o meu Corpo; este é o meu Sangue. Acreditemos, portanto, n’ Aquele em quem pusemos a nossa confiança: a Verdade não sabe mentir.

Por isso, quando Ele falava sobre a necessidade de comer o seu Corpo e de beber o seu Sangue, a multidão, desconcertada, murmurou dizendo: São duras estas palavras; quem poderá escutá-las? Querendo purificar pelo fogo do Céu tais pensamentos – que deveis evitar, como já vos disse – o Senhor acrescentou: O espírito é que vivifica, a carne não serve para nada. As palavras que Eu vos disse são  espírito e vida.

(Tract. 2: CSEL 68, 26.29-30) (Séc. IV)
in Liturgia das Horas