Ao amar o teu inimigo, desejas que ele seja para ti um irmão. Não amas o
que ele é, mas aquilo em que queres que ele se torne. Imaginemos um
pedaço de madeira de carvalho em bruto. Um artesão hábil vê essa
madeira, cortada na floresta; a madeira agrada-lhe; não sei o que ele
quer fazer dela, mas não é para a deixar como está que o artista gosta
dela. A sua arte faz com que veja em que é que se pode transformar essa
madeira; o seu amor não é dirigido à madeira em bruto; ele ama o que
fará com ela e não a madeira em bruto.
Foi assim que Deus nos amou quando éramos pecadores. Na verdade, Ele
disse: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os
doentes». Ter-nos-ia Ele amado pecadores para que permanecêssemos
pecadores? O Artesão viu-nos como um pedaço de madeira em bruto, vindo
da floresta, e o que tinha em vista era a obra que nela faria, não a
madeira em si, nem a floresta.
Contigo passa-se a mesma coisa: vês o teu inimigo opor-se-te, encher-te
de palavras mordazes, tornar-se rude nas afrontas que te faz,
perseguir-te com o seu ódio. Mas tu estás atento ao facto de ele ser um
homem. Vês tudo o que esse homem fez contra ti, mas também vês nele
aquilo que foi feito por Deus. Aquilo que ele é, enquanto homem, é obra
de Deus; o ódio que te tem é obra dele. E que dizes tu para contigo?
«Senhor sê benevolente para com ele, perdoa-lhe os pecados, inspira-lhe o
Teu temor, converte-o.» Não amas nesse homem aquilo que ele é, mas
aquilo que queres que ele venha a ser. Assim, quando amas um inimigo,
amas nele um irmão.
in evangelhoquotidiano.org