A Igreja tem o direito e o dever de apelar «com grande clamor» para o
Deus da misericórdia (Heb 5,7). Este «grande clamor» há-de caracterizar a
Igreja do nosso tempo [...], um clamor a suplicar a misericórdia
segundo as necessidades do homem no mundo contemporâneo. [...] Deus é
fiel a Si próprio, à Sua paternidade e ao Seu amor! Como os Profetas,
apelamos para este amor que tem características maternais e que, à
semelhança da mãe, vai acompanhando cada um dos Seus filhos, cada ovelha
desgarrada – ainda que houvesse milhões de extraviados, ainda que no
mundo a iniquidade prevalecesse sobre a honestidade e ainda que a
humanidade contemporânea merecesse pelos seus pecados um novo dilúvio,
como outrora sucedeu com a geração de Noé.
Recorramos, pois, a tal amor, que permanece amor paterno, como nos foi
revelado por Cristo na Sua missão messiânica, e que atingiu o ponto
culminante na Sua Cruz, morte e ressurreição! Recorramos a Deus por meio
de Cristo, lembrados das palavras do Magnificat de Maria, que proclamam
a Sua misericórdia «de geração em geração» (Lc 1,50). Imploremos a
misericórdia divina para a geração contemporânea [...]: elevemos as
nossas súplicas, guiados pela fé, pela esperança e pela caridade que
Cristo implantou no nosso coração.
Esta atitude é, ao mesmo tempo, amor para com este Deus que o homem
contemporâneo por vezes afastou tanto de si que O considera um estranho e
de várias maneiras O proclama supérfluo. É amor para com este Deus, em
relação ao Qual sentimos profundamente quanto o homem contemporâneo O
ofende e O rejeita. E por isso estamos prontos para clamar com Cristo na
cruz: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,24). Tal
atitude é também amor para com os homens, para com todos os homens, sem
excepção e sem qualquer discriminação: sem diferenças de raça, de
cultura, de língua, de concepção do mundo, e sem distinção entre amigos e
inimigos.
in evangelhoquotidiano.org