Cidade do Vaticano (RV) - A liturgia nos convida,
especialmente hoje, a um exame de consciência em relação ao nosso modo
de nos relacionarmos com nossos irmãos. Deus é o único Pai, o único
Mestre, o único Senhor e, para nos ensinar como queria que fôssemos,
como deverá ser a nova sociedade, se fez servo, servo de todos. Assim,
seremos mais cristãos, mais semelhantes a Jesus Cristo, à medida em que
tomarmos posição de servos e nossa vida for um serviço, através de
nossas ações e de nosso modo de ser, isto é, do modo de tratar as
pessoas, de nos vestir, de nos postar.
No Evangelho Jesus diz aos
seus discípulos que eles não devem seguir os exemplos dos líderes que
gostam de serem tratados como senhores, ao contrário, os discípulos,
quanto mais alta a função, deverão vivê-la na atitude de servo, não
apenas nas ações, mas em todos os sentidos.
Desejar ocupar os
primeiros lugares, receber cumprimentos cerimoniosos, usar roupas
luxuosas, ser chamado por títulos honoríficos, tudo isso deverá estar
longe do coração e da vida do autêntico discípulo. Jesus propõe: “...
entre vós não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e
quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos.”
O servo está
sempre disponível, acessível ao seu senhor, de prontidão. Jesus condena a
atitude dos mestres que permitem ou até exigem que seus discípulos lhes
lavem os pés, ao contrário será ele a lavar os pés dos discípulos.
Inclusive irá vivenciar isso de modo excepcional na cruz, quando nos
lavará a todos do pecado.
Como poderei ser servo? Se sou casado, não
me considerar superior ao meu cônjuge; se desempenho uma profissão de
prestígio, não por isso considerar-me superior aos outros; se sou
comerciante, não visar só meu lucro, mas apresentar boa mercadoria e com
preço justo; se sou um religioso, ser acessível, disponível, simples e
misericordioso no trato com os fiéis; enfim, o cristão segue em tudo a
pessoa do Mestre.
Devo aprender com o episódio dos filhos de Zebedeu.
O batismo me introduziu em uma nova sociedade. É necessário permitir ao
Espírito Santo que construa em minha vida um novo homem, uma nova
mulher. Minha alegria deverá estar não em posicionamentos de honra
segundo este mundo caduco, mas com o mundo dos ressuscitados no batismo.
Aceitar beber o cálice de Jesus, receber o seu batismo significa
aceitar sofrer por causa da justiça, da verdade, pela construção de uma
nova humanidade.
Conforta-nos as palavras do autor da Carta aos
Hebreus, em um trecho anterior ao proposto hoje à nossa reflexão, quando
escreve: “...embora fosse Filho de Deus, aprendeu, com o seu
sofrimento, como é difícil para o homem obedecer e aceitar a vontade de
Deus”. Isso nos conforta ao reconhecermos como nos é difícil sermos
servos e também faz sermos compreensivos com tantas pessoas,
especialmente com aquelas que são religiosas. Por outro lado, sirva-nos
de exemplo e elevação a Deus, para glorificá-lo, o que foi relatado por
uma agente da saúde, de Campala, Uganda, na época do Sínodo para a
África, em 2009: um grupo de doentes de AIDS, gente muito pobre, que
sobrevive vendendo pedras para construtores, quando soube das
devastações causadas pelo furacão Kathrina, nos EUA, e do recente
terremoto na região do Abruzzo, fez uma coleta de dinheiro e enviou às
cidades italianas e americanas atingidas. Por quê? “Porque o coração do
homem é internacional, não tem raça e nem cor”, disse Rose.
“Vi um
povo nascer e mudar na fé” – disse. “Estas pessoas quebram pedras e
comem uma vez por dia. Quando pedimos para rezarem pelas vítimas destas
tragédias, responderam que sabiam muito bem o que significa viver sem
casa e sem comida. “Se pertencem a Deus, pertencem a nós também”...
Assim, organizaram-se em grupos, quebraram mais pedras, e no final,
haviam recolhido dois mil dólares, que enviaram à embaixada americana”.
Concluamos
nossa reflexão com a palavra de Jesus: “ Eu te bendigo, Pai, Senhor do
céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e
as revelastes aos pequeninos.” Mt 11, 25.
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