Dos Sermões de São Bernardo, monge cisterciense
Li que Deus é amor (1Jo 4,16) e não que Ele é honra ou dignidade. Não é
que Deus não queira ser honrado, visto que disse: «Se Eu sou Pai, onde
está a honra que me é devida?» (Ml 1,6). Fala aqui como Pai. Mas, se Se
mostrasse como esposo, penso que mudaria o Seu discurso para: «Se Eu sou
Esposo, onde está o amor que Me é devido?» Pois já anteriormente tinha
dito: «Se Eu sou Senhor, onde está o respeito por Mim?» (ib.) Ele pede
pois para ser respeitado como Senhor, honrado como Pai, amado como
Esposo.
Desses três sentimentos, qual é o mais valioso? O amor, sem dúvida. Pois
sem amor o respeito é árduo e a honra fica sem retribuição. O temor é
servil enquanto o amor não o vem validar, e uma honra que não é
inspirada no amor não é uma honra, é adulação. Claro que só a Deus são
devidas a honra e a glória, mas Deus só as aceita temperadas com o mel
do amor.
O amor é auto-suficiente, agrada por si mesmo, é o seu próprio mérito e a
sua recompensa. O amor não quer outra causa, outro fruto, senão ele
próprio. O seu verdadeiro fruto é ser. Amo porque amo. Amo para amar.
[...] De todos os movimentos da alma, de todos os seus sentimentos e
afectos, o amor é o único que permite à criatura responder ao seu
Criador, senão de igual para igual, pelo menos de semelhante para
semelhante (cf Gn 1,26).
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