Iniciamos nosso tempo quaresmal com a reflexão sobre a gratidão a Deus
pelos frutos recebidos, expressada pela restituição ao Senhor, através
de seus pobres, das primícias dos frutos do trabalho. Essa atitude
reconhecedora de que tudo o que temos vem de Deus, reafirma nossa
absoluta dependência Dele.
No passado, as primícias eram entregues
aos representantes de Deus: os levitas, os estrangeiros, os órfãos, as
viúvas, enfim a todos aqueles que não possuíam terras, que eram
socialmente pobres.Não basta a profissão de fé, mas é imperiosa a
solidariedade e a generosidade em favor dos necessitados. Reconheço a
bondade de Deus, sua generosidade para comigo, partilhando com os pobres
o que Dele recebi.
O Evangelho nos fala das tentações a que o ser
humano é exposto. Lucas nos mostra Jesus, o Homem por excelência,
vivenciando essas tentações e saindo imune dessas ações demoníacas.A
primeira tentação é em relação à comida, à subsistência. Todos
precisamos nos alimentar para viver. Todavia Jesus passa um longo tempo
sem se alimentar e, apesar da fome, não dá vazão aos apelos do próprio
corpo para que se alimente e se mantém fiel a Deus.
Se tivesse usado
seus poderes para saciar suas necessidades, teria sido um vencedor aos
olhos do mundo, mas um derrotado aos olhos do Pai. Jesus rebate o Mal
com um pequeno texto da Sagrada Escritura: “Não só de pão viverá o
homem!”Somente aquele que considera sua vida à luz da Palavra de Deus
está em condições de atribuir às realidades terrenas seu exato valor!
A
segunda tentação está voltada ao modo de nos relacionarmos com as
pessoas. Somos levados a uma escolha entre dominar ou servir, competir
ou solidarizar, explorar ou disponibilizar-se. O intelectual, o rico, o
mais forte, todos esses podem se transformar em opressores daqueles que
não tiveram oportunidades. O nde quer que se espezinhe a dignidade
humana, aí entra a lógica do diabo. Para Jesus, grande não é o bem
sucedido, aquele perante a quem o mundo se ajoelha, mas aquele que se
ajoelha para lavar os pés do irmão mais pobre.A terceira tentação, a que
deturpa o relacionamento entre o homem e Deus. Satanás usa a palavra de
Deus, o famoso “Está escrito ...” para desviar Jesus do caminho. Com
isso o Mal corrói os fundamentos da relação com Deus. Colocar Deus à
prova, incutir no ser humano a dúvida quanto à fidelidade do Senhor,
fazer o homem desejar ter provas da existência e da bondade do Pai.
Jesus se mantêm firme em toda e qualquer situação, inclusive no momento
final da grande provação, a da agonia no horto e crucifixão.
Somos tentados cotidianamente e o seremos também no final de nossa vida, como foi o Mestre.A
segunda leitura nos alenta diante desses espinhos diários, Diz-nos o
Apóstolo: “Se, pois, com tua boca confessares Jesus como Senhor e, no
teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo!” As
obras só têm valor em virtude da união com Cristo. É ele quem dá a
dimensão transformadora dos bens materiais em espirituais.
Nossa
relação com Deus é expressada em relacionamentos fraternos com os homens
e no bom uso dos bens materiais. Se formos livres, já ressuscitados, a
maturidade espiritual falará mais alto, mas se formos imaturos,
escravos de nossos desejos, o egocentrismo ditará nossas escolhas.Que
esta quaresma , tempo de conversão, seja uma caminhada feliz, alegre que
purifique e intensifique nosso relacionamento com Deus!
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