A verdadeira novidade do Novo Testamento não reside em novas ideias, mas
na própria figura de Cristo, que dá carne e sangue aos conceitos — um
incrível realismo. Já no Antigo Testamento a novidade bíblica não
consistia simplesmente em noções abstractas, mas na acção imprevisível
e, de certa forma, inaudita de Deus. Esta acção de Deus ganha agora a
sua forma dramática devido ao facto de que, em Jesus Cristo, o próprio
Deus vai atrás da «ovelha perdida» (Lc 15,1ss.), a humanidade sofredora e
transviada. Quando Jesus fala, nas Suas parábolas, do pastor que vai
atrás da ovelha perdida, da mulher que procura a dracma, do pai que sai
ao encontro do filho pródigo e o abraça, não se trata apenas de
palavras, mas de uma explicação do Seu próprio ser e agir. Na Sua morte
de cruz, cumpre-se aquele virar-Se de Deus contra Si próprio, com o qual
Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo — o amor na sua forma
mais radical. O olhar fixo no lado trespassado de Cristo de que fala
João (cf 19,37) compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta
Encíclica: «Deus é amor» (1 Jo 4,8). É aí que esta verdade pode ser
contemplada. E, partindo daí, pretende-se agora definir em que consiste o
amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver
e do seu amar.
Jesus deu a este acto de oferta uma presença duradoura através da instituição da Eucaristia durante a Última Ceia. Antecipa a Sua morte e ressurreição entregando-Se já a Si mesmo naquela hora aos Seus discípulos, no pão e no vinho, Seu corpo e sangue [...]. A Eucaristia arrasta-nos no acto oblativo de Jesus. [...] A «mística» do Sacramento, que se funda no abaixamento de Deus até nós, é de um alcance muito diverso e conduz muito mais alto do que qualquer mística elevação do homem poderia realizar.
in evangelhoquotidiano.org