terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Dai-lhes vós mesmo de comer

"Naquele tempo, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor." Lia estas primeiras palavras do evangelho e pensava hoje na importância dos nossos pastores de almas. Pensava na sua missão e na fidelidade à sua missão. Os cristãos hoje têm o direito e o dever de pedir bons pastores para os dirigir. Confunde-se muitas vezes o ser-se padre como uma profissão qualquer. Mas não é, nunca foi e nunca será. Ser padre é antes de mais uma vocação, um mandato e um compromisso. Ser padre é passar, sofrer e amar, como me disse um sacerdote um dia. Ser padre não é ser-se profissional da religião, para isso já há muitos profissionais noutros ramos. Colocamos cada vez mais a questão do celibato sacerdotal em causa, isto porque esquecemos a dimensão da vida espiritual. Ser-se padre é acima de tudo vida espiritual, a vida profissional vem depois. Ser-se padre é dar a vida tal como o Sumo Pastor, Jesus Cristo. A esposa do padre é a Igreja e as comunidades cristãs, e não tem mais nenhuma esposa. Tal como um homem casado que opta por uma e só uma mulher, a vida sacerdotal é a opção por Jesus Cristo, a Igreja e pelas comunidades a que está vinculado em qualquer circunstância. Poderão-me dizer que existem sacerdotes que em traição não são fiéis a esse celibato. Com legitimidade o dirão, mas também existem homens casados que não são fiéis às suas esposas. Então onde está o problema? O problema está em dois vectores essenciais: vida espiritual e formação. Para se ser padre é preciso vida espiritual, vocação e formação. Mas para se ser casado também é preciso vida espiritual, vocação e formação. Os cristãos-leigos não devem exigir à instituição Igreja o fim do celibato, antes uma boa formação de Seminário para que os futuros pastores possam ser bons pastores de almas. Todos acusamos os padres de muitas atitudes, sobretudo as más, mas não exigimos que durante o seu período de formação, possam ter uma boa formação. Todos ficamos espantados quando algum candidato sai do Seminário, e acusamos logo: "Não tinha vocação..." Pergunto eu: "Será só porque não tinha vocação?" "E quem somos nós para julgar a vocação sacerdotal de alguém?" É legitimo perguntar, como é hoje feita a formação nos  nossos Seminários aos futuros pastores de almas? Por outro lado, também teremos que afirmar que se um candidato ao sacerdócio, durante o seu percurso no Seminário, chega a conclusão que não tem vocação ao sacerdócio, teremos que louvar a coragem e o seu amor à Igreja, porque essa é uma atitude de amor à Igreja e em última instância a Jesus Cristo. Quantos e quantas de nós não apontamos dedos a possíveis candidatos ao sacerdócio que pura e simplesmente desistiram do seu percurso durante o tempo de Seminário? Por outro lado, quantos e quantas de nós não acusam o padre que afinal não cumpre com o celibato? Afinal, o que  será mais legítimo? Sair porque de facto o caminho não é aquele, ou continuar a queimar etapas dentro de um Seminário e um dia, quando estiver numa casa paroquial ser causa de escândalo para a Igreja e para todos? Jesus diz aos discípulos no evangelho de hoje: "Dai-lhes vós mesmo de comer..." Em bom rigor para dar de comer a alguém teremos que ter alimento, porque ninguém pode dar aquilo que não tem. Desta forma o alimento do sacerdote deverá ser a sua vida espiritual, uma vida feita com a comunidade e para a comunidade, num dar-se continuamente e isso é senão só Amor, e esse Amor já terá que vir de um Amor experimentado na comunidade de Seminário, caso contrário poderemos ter a manutenção de um ciclo vicioso. Rezemos pelos nossos padres, pelos nossos seminaristas e suas equipas formadoras.

jjmiguel