domingo, 24 de janeiro de 2016

No III Domingo do Tempo Comum

Na verdade faz pouco dias que a liturgia nos apontava este episódio da vida de Jesus. Jesus foi à sinagoga de Nazaré, onde proclamou uma leitura do Livro de Isaías, onde leu: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor." A esta passagem da Escritura comentou Jesus :"Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir." Vai para uns dias que lia numa revista "cor-de-rosa" um comentário de uma figura pública da nossa praça acerca da sua experiência de como encarou o cancro que quase lhe retirou a vida. Dizia esta figura pública: "Fiz de tudo, recorri a todas as religiões e deuses." Fiquei por momentos a pensar e partilho convosco o que pensei: se esta figura pública conhecesse o dom de Deus, de certo que não teria recorrido a todas as religiões e deuses. Porque senão existe um sentido e um único caminho na nossa vida, podemos recorrer a todas as religiões e a todos os deuses que eles nada fazem. Se na nossa vida cristã não tivermos Jesus Cristo como único sentido na nossa vida, de nada nos servirá, até mesmo no nosso sofrimento. Poderão me dizer que falo assim porque nunca atravessei nenhum processo patológico com uma doença cancerígena. Graças a Deus, é verdade, mas se esse sofrimento não for visto e revisto na Cruz para mim e para os Outros estarei condenado a que esse sofrimento seja maior. Também ao sofrimento teremos que dar sentido na nossa vida. Reconheço que são palavras simples e fáceis de serem ditas, para quem sofre, sobretudo desse flagelo que é o cancro, mas também reconheço que não podemos perder a esperança na superação do mal. A resposta está em Jesus Cristo, que na Cruz denunciou o mal de toda a humanidade, com vista a que o mal fosse superado pela vida e pelo Amor. Podemos nos perder neste mar de deuses e religiões, mas se não tivermos um caminho espiritual no nosso interior realizado, podemos buscar muitas coisas para nos dar sentido ao nosso sofrimento, mas falta-nos o essencial - Jesus Cristo. Depois deste comentário desta figura pública entendi-o como um sinal deste vazio espiritual em que a nossa sociedade se encontra. Desta forma, deixa-me um pouco apreensivo a forma como se está a realizar o diálogo inter-religioso, promovido pelo Papa Francisco, e bem, no entanto, cuidado para não nos baralharmos em valores universais como a Paz, o Amor, a Vida com valores identitários do Cristianismo. Com toda a certeza que todas as religiões mundiais terão que cada vez mais lutar contra ao indiferentismo e fanatismo religioso, mas no entanto será necessário guardar as identidades próprias de cada religião, e neste caso do Cristianismo, e para isso compete a cada Cristão fazer valer os valores cristãos no Mundo com o seu testemunho de vida, nos seus ambientes e na sua vivência pessoal, para que possa ser proclamado na vida do Mundo o ano da graça do Senhor, que é senão o ano da Vida, o ano da Misericórdia, o ano do Amor.

jjmiguel