Misericórdia
e Justiça. Duas palavras que me sugerem as palavras de Jesus de hoje. Deus é
misericordioso. Ele compadece-se. Mas Deus usa também de Justiça, porque Ele é
também Justiça. Misericórdia é viver no coração do Outro a sua miséria, o seu
sofrimento. No entanto, onde fica a Justiça? Neste Ano de Misericórdia, onde
fica a Justiça divina. Tem passado uma mensagem que Deus está disposto sempre a
perdoar as nossas faltas e os nossos pecados. Ora significa isto que podemos
pecar infinitamente que Deus perdoa sempre. Significa isto que podemos cometer
adultério, podemos proceder ao aborto, avançar com a eutanásia, ter inveja, ser
orgulhosos, soberbos, viver na lúxuria, glutões, satisfazer todos os nossos
desejos que Deus perdoa tudo, porque afinal até lemos em São Paulo e fica mais
legitimado: “onde abundou o pecado superabundou a graça.” E aí temos os
nossos pecados todos legitimados. Quanto mais pecarmos, maior é a graça. Quanto
mais trevas, maior é a Luz. Bem se assim fôr, estaremos diante de uma
verdadeira liberdade? E no meio disto tudo onde fica a Justiça? Se assim for,
para que serviu a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo? Se assim
for, para que serve o nosso arrependimento interior? A nossa conversão pessoal
onde fica? Deus usa de misericórdia, para isso se fez homem e veio ao mundo,
mas não esqueçamos a Justiça divina. A Justiça divina que nos coloca diante da
nossa mudança de vida e da nossa conversão. Somos uma sociedade que vivemos
muito de “culpas”, de “castigos”, mas não conhecemos o verdadeiro “castigo de
Deus”, que se fundamenta no cair das nossas “culpas” e dos nossos “castigos” e
nos quer somente devolver a liberdade. E daí não vale a pena pensar que Deus
perdoa tudo se não nos arrependermos e mudarmos de vida. Perpetuar o pecado é
fugir à justiça de Deus. Perdoar é amar. Perdoamos pouco, porque amamos pouco.
Preferimos viver mergulhados nos nossos cómodos que sair dos nossos espaços de
conforto e daí que até achemos que Deus perdoa sempre e quanto mais pecarmos
maior é a graça. Uma fantasia e uma irrealidade que está a ser vulgarizada por
aí e é preciso ser denunciada. Por outro lado, o pecador não é um
“coitadinho”... O pecador somos todos nós, a começar por mim. O pecador também
tem dignididade, porque é Deus que lhe confere essa dignidade. Uma dignidade
ontológica de ser. A Igreja é feita de pecadores e não é uma sociedade perfeita
e auto-suficiente e para isso ela terá que o reconhecer primeiro antes de falar
em acolhimento dos pecadores. A Igreja não pode ser adúltera, mas ser o rosto e
o reflexo do Seu esposo – Jesus Cristo. Por isso, ela tem de ser sinal de luz,
vida e esperança na história do Mundo.
jjmiguel