quarta-feira, 20 de abril de 2016

Eu vim ao mundo como luz

Misericórdia e Justiça. Duas palavras que me sugerem as palavras de Jesus de hoje. Deus é misericordioso. Ele compadece-se. Mas Deus usa também de Justiça, porque Ele é também Justiça. Misericórdia é viver no coração do Outro a sua miséria, o seu sofrimento. No entanto, onde fica a Justiça? Neste Ano de Misericórdia, onde fica a Justiça divina. Tem passado uma mensagem que Deus está disposto sempre a perdoar as nossas faltas e os nossos pecados. Ora significa isto que podemos pecar infinitamente que Deus perdoa sempre. Significa isto que podemos cometer adultério, podemos proceder ao aborto, avançar com a eutanásia, ter inveja, ser orgulhosos, soberbos, viver na lúxuria, glutões, satisfazer todos os nossos desejos que Deus perdoa tudo, porque afinal até lemos em São Paulo e fica mais legitimado: “onde abundou o pecado superabundou a graça.” E aí temos os nossos pecados todos legitimados. Quanto mais pecarmos, maior é a graça. Quanto mais trevas, maior é a Luz. Bem se assim fôr, estaremos diante de uma verdadeira liberdade? E no meio disto tudo onde fica a Justiça? Se assim for, para que serviu a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo? Se assim for, para que serve o nosso arrependimento interior? A nossa conversão pessoal onde fica? Deus usa de misericórdia, para isso se fez homem e veio ao mundo, mas não esqueçamos a Justiça divina. A Justiça divina que nos coloca diante da nossa mudança de vida e da nossa conversão. Somos uma sociedade que vivemos muito de “culpas”, de “castigos”, mas não conhecemos o verdadeiro “castigo de Deus”, que se fundamenta no cair das nossas “culpas” e dos nossos “castigos” e nos quer somente devolver a liberdade. E daí não vale a pena pensar que Deus perdoa tudo se não nos arrependermos e mudarmos de vida. Perpetuar o pecado é fugir à justiça de Deus. Perdoar é amar. Perdoamos pouco, porque amamos pouco. Preferimos viver mergulhados nos nossos cómodos que sair dos nossos espaços de conforto e daí que até achemos que Deus perdoa sempre e quanto mais pecarmos maior é a graça. Uma fantasia e uma irrealidade que está a ser vulgarizada por aí e é preciso ser denunciada. Por outro lado, o pecador não é um “coitadinho”... O pecador somos todos nós, a começar por mim. O pecador também tem dignididade, porque é Deus que lhe confere essa dignidade. Uma dignidade ontológica de ser. A Igreja é feita de pecadores e não é uma sociedade perfeita e auto-suficiente e para isso ela terá que o reconhecer primeiro antes de falar em acolhimento dos pecadores. A Igreja não pode ser adúltera, mas ser o rosto e o reflexo do Seu esposo – Jesus Cristo. Por isso, ela tem de ser sinal de luz, vida e esperança na história do Mundo.

jjmiguel