Não vos posso esconder que escrevo exactamente no dia dos atentados de Bruxelas. Escuto muito profundamente Thomas Tallis. Ao mesmo tempo que leio o Evangelho para este dia. Jesus apareceu aos discípulos junto ao mar de Tiberíades, mas os discípulos não O reconheceram. Porém Jesus exorta: "Lançai a rede..." O Apóstolo reconheceu de imediato que era Jesus. De imediato Pedro foi ter com Jesus. Depois de terem tido uma pesca bastante frutífera, Jesus convida: "Vinde comer." Destaco aqui estes dois convites. Temos medo de lançar a rede, assim como o convite de Jesus para comer também nos assusta. É impressionante como ainda volvidos tantos anos Jesus ainda nos assusta. O evangelista denota um pouco de receio e de dúvida que pairava sobre os apóstolos, pois relata ele que "nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar". Ora, se queriam perguntar era porque havia dúvidas. E também nós duvidamos. No meio de toda esta turbulência mundial perguntamos: "Onde está Deus?" Nesta perda de sentido, não conseguimos vislumbrar a presença de Deus. Perdemos a presença de Deus na nossa vida. A Europa esqueceu Deus. E por isso se esconde envergonhadamente e está atemorizada com o futuro, sobretudo com uma nova cultura com um sentido de identidade muito vincado. Os muçulmanos sabem quem foram, quem são e para onde vão. E esse é um choque civilizacional com o qual a Europa não consegue conviver, porque perdeu a noção da sua história, das suas raízes. A Europa foi construída à sombra do Cristianismo. A Europa e os europeus nunca deveriam ter esquecido isto. Muito provavelmente hoje entenderiam o que era a sã convivência com outras religiões. Deste modo não se fazem diálogos inter-religiosos forçados, porque "fica bem" fazer-se. Nem muito menos se fazem diálogos inter-religiosos fazendo perder o Cristianismo a sua identidade e mensagem evangélica. Porque falar de Jesus Cristo a outras religiões sem o estandarte da Cruz, é falar de um Cristianismo bacoco. Todas as religiões falam do Amor, da Paz, da Justiça, da Tolerância, mas o Cristianismo deve falar destes conceitos à luz da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Jesus. O diálogo inter-religioso não pode, nem deve ser a universalização da religião, porque cada religião tem as suas especificidades. O que aconteceu hoje, 22 de Março de 2016, foi um sinal mais que evidente da debilidade do espírito europeu e cristão. E porquê...? Porque nós, europeus, não aceitamos a exortação de Jesus, nem muito menos aceitamos o convite de Jesus. Não conseguimos perceber a oportunidade de um tempo para o diálogo na defesa dos valores de direitos e deveres, na defesa da vida humana, na dignidade do ser humano. Antes preferimos ficar por aquilo que fizemos no passado que é a soberba e a arrogância de nos querermos impôr ao mundo culturalmente e civilizacionalmente. Querendo até universalizar e globalizar tudo pela bitola europeia. A Europa já deu muito ao mundo. Será tempo agora da Europa recolher as sementes que cultivou na História. As boas e as más. E para isso é preciso que esta não se envergonhe de onde veio, nem para onde vai. A Europa não se tem de envergonhar que nasceu de uma matriz em Jesus Cristo e é aí que tem de se agarrar, a bem da sua identidade, para que possa se manter de pé. A Europa deu mundos ao Mundo e agora tem de saber dialogar nesta aldeia global e para isso é preciso que a Europa caia do seu cavalo e entenda de uma vez que o Outro não pode ser a sua imagem e semelhança com o fez no passado. É tempo de lançar a rede, para que todos possam comer desta mesma Mesa, sem que para isso se tenha que aniquilar seja quem for, porque todos temos espaço nesta Casa Comum.
jjmiguel