“São-lhe
perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se
perdoa, pouco ama.” Jesus tinha sido convidado para comer em casa de um fariseu
e uma mulher pecadora veio banhar-Lhe os pés, e chorava ao mesmo tempo que
enxugava as lágrimas com os seus cabelos. O fariseu começou a murmurar como é
que Jesus consentia que uma pecadora Lhe banhasse os pés e que Lhe tocasse.
Então Jesus conta uma parábola para nos dar a revelar que a lógica de Deus não
é a nossa. Vivemos numa sociedade farisaica. Uma sociedade cheia de códigos
sociais em que nos esquecemos de amar. Jesus não veio para os que têm saúde,
para aqueles que vivem em mundos perfeitos. A Palavra fez-se carne para nos
libertar das nossas trevas, de tudo aquilo que não nos deixa caminhar. Temos
muito, a começar por mim, a tendência para “apontar dedos”, mas esquecemos os
nossos telhados de vidro. Muito frequentemente estamos a participar na Missa e
temos exactamente as mesmas reacções que este fariseu. O mesmo acontece na
nossa vida social em que na nossa boca todos à nossa volta têm defeitos e pecados,
mas nós nem sequer nos damos ao trabalho de olhar para nós e para o nosso
interior. Muito frequentemente preocupamo-nos muito com a vida dos outros, mas
esquecemos a porcaria (para não dizer outra coisa...) de vida que é a nossa.
Seria tempo de olharmos mais para a saúde do nosso interior, e preocuparmo-nos
menos com a saúde interior dos outros. Na verdade, quando falamos dos outros,
falamos de nós mesmos, porque o coração fala do que vive e de como vive. E
quanta hipocrisia nós temos, não só nas nossas comunidades cristãs, como também
em toda a sociedade. É por isso estar atento e colocar em diálogo com Deus as
nossas falhas, porque se o diálogo com Deus é para falar dos outros, Deus sabe
o que fazer com cada um. Nós, porém, devemos preocupar-nos connosco e com o
nosso caminho espiritual.
jjmiguel