“Quem é
fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes.” Amizade e fidelidade são
duas palavras que nos sobressaltam na Palavra do Nosso Mestre e Senhor. A
Palavra terá de ser viva e eficaz e actualizada para os dias de hoje, e por
isso a Palavra que hoje lemos no Evangelho de São Lucas são palavras que nos
fazem interrogar como nos relacionamos com os outros. Hoje assistimos à quebra
de uma moral no trato com os nossos semelhantes e sinceramente é preciso ter
muita clarividência na forma como nos damos. Somos assim chamados, como
Cristãos, a cultivar o valor da amizade e da fidelidade entre nós. A amizade é
o nascer do Sol para o despontar do Amor e na amizade está implicito a
fidelidade e o compromisso. A amizade, o Amor, a fidelidade, o compromisso são
sentimentos que nos libertam e não devem ser sinal de prisão e de medo. Uma
relação nunca deve prender, mas deve libertar. Uma relação deve trazer e
dar-nos a paz que precisamos. Somos hoje uma sociedade que temos todas as
possibilidades para estarmos próximos e podermos disfrutar deste valor que é a
amizade e o Amor entre nós, mas eis que por incrível que pareça somos uma
sociedade em que se está a cultivar a solidão, a depressão, a tristeza e a
morte... Porquê? Porque na verdade a velocidade da informação leva-nos também à
superficialidade do conhecimento e isto reproduz-se no nosso modo de agir entre
nós. Uma amizade só pode florescer, quanto mais conhecermos o Outro que está ao
nosso lado. Quanto mais eu souber acerca de quem é o meu Outro que me acompanha
tanto mais sou chamado a amá-lo e a ser-lhe fiel, com os seus defeitos e
virtudes. Deste modo, somos chamados a observar os pequenos gestos, as pequenas
atitudes, os pequenos olhares... Porque a amizade e a fidelidade advêm de
gestos pequenos, que depois se tornam grandes. Não podemos viver de amizades
com base em imagens, porque as imagens podem na verdade desfocalizar do
essencial e podem-nos levar à desilusão e ao desalento. Somos assim convidados
a tornar as nossas relações mais profundas para que possam ser mais
consistentes. Os fins justificam todos os meios em ordem à construção da
civilização do Amor, da Paz e da Concórdia. Alguém me dizia que o Amor é como
uma rosa: muito bonito, mas que contém muitos espinhos. São esses espinhos que
terão ser sinal não de separação, mas de fortalecimento da beleza e da grandeza
deste sentimento. Por isso devemos saber ir até ao fundo do que podemos
conhecer no que diz respeito ao Outro e não nos ficarmos apenas pela imagem e
pela superficialidade de um rosto. Porque um rosto muitas vezes pode não dizer
nada...
jjmiguel