domingo, 8 de fevereiro de 2009

A minoria católica?

Das 4400 paróquias da Igreja Católica Portuguesa, à volta de um quarto (1100) não têm pároco residente. A situação é pior no Norte, onde a população foi sempre mais devota, do que no Sul, onde, pelo menos desde o século XIX, ela sempre tendeu para uma certa indiferença. A falta de párocos faz com que muitos deles sejam encarregados de cinco ou seis paróquias, correndo de um lado para o outro sem, forçosamente, dar muita atenção a ninguém.
Segundo o Diário de Notícias, em alguns sítios já se pensa mesmo em usar a Net. E com frequência os leigos tratam eles próprios das celebrações de Domingo (excepto da missa, como é óbvio). Ainda por cima, a idade e a doença limitam a actividade e a presença de muitos párocos residentes, que não podem ser substituídos.
Pouco a pouco, a Igreja vai desaparecendo do terreno no interior do país como, por outras razões, desapareceu das cidades do litoral. O padre da província, que era o centro da comunidade, o conselheiro, o guia, e frequentemente, a influência política decisiva deixou de existir. "As Pupilas do Sr. Reitor" e "O Crime do Pe. Amaro" pertencem agora a um mundo morto, como o clero militante que criou Salazar e até 1980 ainda se via fulminando o "marxismo" (pseudónimo do PS e do PC) e pedindo o voto na Aliança Democrática. Em balanço, Portugal não ganhou muito com isso. Embora inimiga irreconciliável do jacobino e do comunista -e, pior ainda, da liberdade - a, Igreja trazia uma vida a uma vida local melancólica e estéril uma certa forma e uma certa regra, que a "modernização" acabou por liquidar.
A chamada "crise de vocações" reflecte a nova riqueza, que por cá começou e chegar em 1960, e a genérica tolerância democrática que depois se estabeleceu. O seminário perdeu o extraordinário privilégio de ser o único caminho de promoção social. O padre perdeu o prestígio. E a Igreja perdeu o monopólio ideológico. Quem ia agora aceitar o sacrifício de si mesmo, quando se abriam oportunidades como nunca antes? Quem ia escolher a obscuridade e a renúncia, em nome de uma fé e moral, que cada vez menos gente respeitava ou seguia? O Papa Ratzinger imagina a Igreja do futuro como uma pequena minoria ignorada ou perseguida, à margem da ortodoxia do século. Provavelmente, não se engana. A julgar pelo que se passa, em Portugal, esse grande exílio não está longe.

in "Público" 08/02/2009 - Vasco Pulido Valente