segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sermão de São Gregório de Nissa, bispo

Começou o reino da vida e foi dissolvido o império da morte. Apareceu um novo nascimento, uma vida nova, um novo modo de viver; a nossa própria natureza foi transformada. Qual é este novo nascimento? O que não procede do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do homem, mas de Deus.

Como pode ser isto? Escuta-me com atenção; explicá-lo-ei em poucas palavras.

Este novo ser é concebido pela fé; é dado à luz pela regeneração do Baptismo; é sua mãe a Igreja, que o amamenta com sua doutrina e tradições. O seu alimento é o pão celeste; a sua idade perfeita é a santidade; o seu matrimónio é a familiaridade com a sabedoria; os seus filhos são a esperança; a sua casa é o reino; a sua herança e riqueza são as delícias do Paraíso; o seu fim não é a morte, mas aquela vida feliz e eterna que está preparada para os que dela são dignos.

Este é o dia que o Senhor fez, dia muito diferente daqueles que foram estabelecidos desde o ínicio da criação do mundo e que são medidos pelo curso do tempo. Este dia é o ínicio de uma nova criação, porque nele forma Deus um novo céu e uma nova terra, como diz o Profeta. Que céu é este? O firmamento da fé em Cristo. E que terra? O coração bom de que fala o Senhor, a terra que absorve a água das chuvas e produz fruto abundante.

O sol desta nova criação é uma vida sem mancha; as estrelas são as virtudes; a atmosfera é um procedimento digno: o mar é o abismo das riquezas da sabedoria e da ciência; as ervas e as sementes são a boa doutrina e a Escritura divina, onde o rebanho, isto é, o povo de Deus, encontra a sua pastagem e alimento; as árvores frutíferas são a observância dos mandamentos.

Neste dia é criado o verdadeiro homem à imagem e semelhança de Deus. Não é, porventura, um novo mundo que começa para ti neste dia que o Senhor fez? Não diz o Profeta que esse dia e essa noite não têm semelhantes entre os outros dias e noites?

Mas ainda não explicámos o dom mais excelente que recebemos neste dia de graça. Ele destruiu as dores da morte e deu à luz o Primogénito de entre os mortos.

Eu subo para o meu Pai e vosso Pai, diz o Senhor, para o meu Deus e vosso Deus. Oh ditoso e admirável anúncio! Aquele, que sendo Filho Unigénito de Deus, por nós Se fez homem para nos tornar seus irmãos, apresenta-se como homem diante do seu verdadeiro Pai. a fim de levar consigo todos os novos membros da sua família.

Oratio 1 In Christi resurrectionem, PG 46, 603-606.626-627