quinta-feira, 27 de setembro de 2012

De Discursos Esprituais de Santo Isaac, o sírio, monge de Nínive

Como podiam os seres criados contemplar a Deus? A visão de Deus é tão terrível que o próprio Moisés afirma que teme e treme. Com efeito, quando a glória de Deus apareceu no monte Sinai (Ex 20), a montanha fumegava e tremia de medo sob o efeito da revelação; e os animais que se aproximavam das suas encostas morriam. Os filhos de Israel prepararam-se: obedecendo à ordem de Moisés, purificaram-se durante três dias a fim de serem dignos de ouvir a voz de Deus e de ver a Sua revelação. Ora, quando chegou o momento, não conseguiram assumir a visão da Sua luz nem receber a força da Sua voz de trovão.


Mas, agora que Ele espalhou a Sua graça pelo mundo com a Sua vinda, não foi através de um tremor de terra, nem através do fogo, nem anunciando-Se com uma voz tonitruante que apareceu, mas antes como o orvalho sobre o velo (Jz 6,37), como uma gota que cai docemente no solo. Foi sob outra forma que Ele veio até nós. Com efeito, cobriu a Sua grandeza com o véu da carne e fez desta um tesouro; viveu entre nós nessa carne que a Sua vontade havia formado no seio da Virgem Maria, a Mãe de Deus, para que, ao vê-Lo semelhante a nós e a viver entre nós, não ficássemos atormentados pelo medo ao contemplá-Lo. Foi por isso que aqueles que se cobriram com as vestes nas quais o Criador apareceu, com esse corpo de que Ele se revestiu, se revestiram do próprio Cristo (Gl 3,27). Porque desejaram ter no seu homem interior (Ep 3,16) a mesma humildade com que Cristo Se revelou na Sua criação e nela viveu, como Se revela agora aos Seus servos. Em lugar das vestes de honra e glórias exteriores, eles adornaram-se com essa humildade.

in evangelhoquotidiano.org