sexta-feira, 28 de setembro de 2012

De Juliana de Norwich, mística inglesa

Na minha ignorância, surpreendia-me que a profunda sabedoria de Deus não tivesse impedido o início do pecado, porque se o tivesse feito, pensava eu, tudo estaria bem. [...] Jesus respondeu-me: «O pecado é inelutável, mas tudo acabará em bem, tudo acabará em bem, todas as coisas, quaisquer que sejam, acabarão em bem».


Com esta pequena palavra «pecado», Nosso Senhor apresentou-me ao espírito tudo o que não é bom: o desprezo ignóbil e as provações extremas que sofreu por nós ao longo da Sua vida e na Sua morte; todos os sofrimentos e as dores, corporais e espirituais, de todas as Suas criaturas. [...] Eu contemplei todos os sofrimentos que existiram ou existirão, e compreendi que a Paixão de Cristo era o maior, o mais doloroso de todos, e que a todos ultrapassa. [...] Mas não vi o pecado. Sei, pela fé, que ele não tem substância nem qualquer espécie de ser; só o poderemos reconhecer pelo sofrimento que causa. Percebi que este sofrimento é temporário: ele purifica-nos, leva-nos a conhecer-nos a nós mesmos e a gritar por misericórdia. A Paixão de Nosso Senhor fortifica-nos contra o pecado e o sofrimento: esta é a Sua santa vontade. No Seu terno amor por todos aqueles que serão salvos, Nosso Senhor reconforta-os pronta e suavemente, como se lhes dissesse: «É verdade que o pecado é a causa de todas estas dores, mas tudo acabará em bem: todas as coisas, quaisquer que sejam, acabarão em bem». Ele disse-me estas palavras com grande ternura, sem a mínima censura. [...]


Nestas palavras vi um mistério profundo e maravilhoso, oculto em Deus. Ele desvendará e far-nos-á conhecer esse mistério plenamente no céu. Quando o conhecermos, entenderemos por que razão permitiu a vinda do pecado a este mundo. E ao ver isto, regozijar-nos-emos por toda a eternidade.

in evangelhoquotidiano.org