A Ceia, a última Ceia de Jesus, é a prefiguração de sua entrega a Deus
por nós e a conclusão de sua missão. Nela ele promete a restauração da
humanidade e nos associa ao seu destino. “Fazei isto em memória de mim” é
um mandamento convite para nos identificarmos com ele, para repartirmos
nossa vida com os outros. Quando celebramos a Eucaristia, o “partir o
pão eucarístico” é porque já o fizemos com nosso pão diário e com toda a
nossa vida e pretendemos continuar nesse partilhar nossa vida.
Também
dentro do contexto eucarístico Lucas nos coloca a atitude cristã do
serviço, do ser o último. Jesus diz: “Entre vós o maior seja como o mais
novo, e o que manda, como quem está servindo”. “…estou no meio de vós
como aquele que serve.” Servir, dentro da visão cristã, significa ocupar
mesmo o último lugar, ser autoridade significa servir!
São Lucas, no relato da Paixão, destaca a bondade e a misericórdia do senhor.
Já
no horto Jesus impede que Pedro pague mal com mal, e lhe diz para
“guardar sua espada dentro da bainha”. A atitude dos cristãos para com
seus adversários deverá ser a do perdão. Para Jesus, o seu discípulo não
tem inimigo, aliás, o inimigo, aquele que deverá ser destruído,
esmagado é o demônio. Os demais, os que fazem mal são vistos como
adversários que deverão ser trabalhados para que se libertem do mal e se
salvem.
Mais adiante, dentro do relato da paixão, ao ser negado por
aquele a quem confiaria as suas ovelhas – Pedro -, olha-o com carinho e
compreensão por sua fraqueza e a reação de Pedro foram as lágrimas de
profundo arrependimento. Por isso, por essa experiência e por outras,
Pedro escreveu em sua primeira: “ultrajado, não retribuía com idêntico
ultraje; ele, maltratado não proferia ameaças” (1Pd2, 23).
Antes de dar o último suspiro Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes este pecado, porque não sabem o que fazem!” (Lc 23,34)Em
seu relato São Lucas comenta a atitude de pessoas como Herodes e as
mulheres que estavam pelo caminho do calvário. Herodes vê Jesus como um
proporcionador de benefícios. Mas Jesus não é um mercador, mas sim
alguém que age em nome do Pai. Diante das mulheres que choram pelo
caminho ao ver suas dores, Jesus reconhece nelas e em seus filhos os
frágeis que penam por causa do interesse dos poderosos.
Finalmente
Lucas apresenta Jesus morrendo entre dois bandidos. Ele nasceu entre
animais, em uma estrebaria e suas primeiras visitas foram os pastores,
gente impura para os judeus. Mais tarde chegam os magos, pagãos! Também
ao longo de sua vida Jesus se relaciona continuamente com os desprezados
da sociedade de seu tempo, os considerados impuros, como os publicanos,
as meretrizes, os pecadores. Agora, na hora da morte, seus companheiros
são bandidos! Seus discípulos se mantêm à distância, mas ao lado estão
os dois ladrões. Mas longe de ser demérito, isto é legitimação da
vida do Redentor. Ele não veio para salvar os pecadores? Pois é! Ele
volta para o pai com as mãos cheias! Leva consigo Dimas, o bandido que
foi recuperado na última hora e que ele mesmo, Jesus, garantiu que
estaria com ele no céu, “ainda hoje”. Leva também, só que mais tarde, o
oficial romano que declaro; “De fato! Este homem era justo!” Leva tantos
pecadores convertidos pelos seus gestos de acolhida, de perdão, de
vida!
Fazei isto em minha memória, tomai e comei, partilhar a vida!
Celebremos a Paixão de Jesus, sua Páscoa, acolhendo o pecador,
partilhando nossa fé na vitória da Vida, na certeza da vitória do
perdão! O que recebemos de graça, de graça devemos dar. Recebemos o
perdão de Deus mediante a redenção de Jesus Cristo!
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