quinta-feira, 26 de maio de 2016

Na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

“Mandai-os sentar.” Nesta solenidade somos convocados a sentar-nos à Mesa da Vida e a comungar deste Pão e deste Vinho que são Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Em cada Eucaristia, em cada Missa, actualizamos a Paixão, a Morte e a Ressurreição do Senhor. “Fazei isto em memória de Mim...” diz-nos o Senhor! Durante um retiro espiritual que tive o prazer de realizar, durante uma das meditações fui confrontado com a denúncia de casos de algumas pessoas que se apresentam à comunhão (dizem-se cristãos...) e guardam a hóstia consagrada para os actos mais hediondos e escabrosos que possamos pensar. O pregador, fez questão de relatar alguns casos como exemplo, mas não vou descrever aqui para não chocar quem possa ser mais sensível. Sinceramente, fiquei chocado perguntava-me como é possível tal coisa em pleno séc. XXI e como é possível isto acontecer pelas mãos de cristãos batizados em alguns dos casos? O Pão e o Vinho são Corpo e Sangue de Jesus Cristo pelo sacramento da Eucaristia pelas mãos do sacerdote. Por isso estamos a falar de algo muito sério. Não podemos banalizar o que é Sagrado. Vivemos hoje uma total e completa banalização do Sagrado, resultado de uma sociedade pós-moderna secularizada. O que é Sagrado é sagrado e merece respeito. Por isso, não percebo como muitas vezes são tratados os objectos litúrgicos, não percebo porque se banaliza o papel e a função sacerdotal! Deixámos de ter a noção do símbolo. O simbolo religa-nos, faz-nos transcender, faz-nos penetrar no mistério de nós mesmos e por isso nos identificamos, e é por isso que é símbolo. Concordaria se a Santa Sé declarasse obrigatório o uso do hábito eclesiástico, fosse de que forma fosse. O sacerdote é um homem do sagrado e vive para o sagrado e deve demonstrar e não ter vergonha de ser sinal do sagrado no mundo. A sua vida é de Deus e para Deus. Assim como o hábito eclesiástico não é usado para impôr autoridade, nem muito menos para ser reconhecido, nem muito menos por vaidade. O hábito eclesiástico é usado em qualquer circunstância da vida do sacerdote, esteja onde estiver, porque o sacerdote vive Deus na sua vida, vive o sagrado. Ele deve inspirar e expirar do sagrado. Porém, não quero entrar em discussão nessas discussões que muito frequentemente animam muitas conversas clericais. Porém, digo e reitero, as pessoas têm necessidade de simbolos e de se identificar com o que lhes possa dar sentido. O Pão e o Vinho, são muito mais que símbolos do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, ou um faz de conta (como já ouvi numa catequese), são a presença real de Jesus Cristo no meio do Mundo. Além disso, damos muita importância ao acontecimento eucarístico, mas pouca importância ao acontecimento da proclamação da Palavra. A Palavra também deve ser para nós comunhão. Também dela nos devemos alimentar e muitas vezes muito pouca importância lhe damos. Tudo na Eucaristia é Vida e Luz. Penetrar no mistério eucaristico é deixarmo-nos mergulhar no Deus que faz parte da nossa história, fazendo-se um de nós e deixando-nos um memorial que em cada Eucaristia actualizamos à luz da nossa vida. Por isso, a Eucaristia, tal como a Palavra é viva, eficaz e actual e não meros teatros do passado. 

jjmiguel