“Tira
primeiro a trave da tua vista e então verás bem.” Duas palavras que me sugerem
o Evangelho de hoje: “julgar” e “ver”. Etimologicamente a palavra julgar provém
do verbo latino “judico, -as, -aui,
-atum, -are” que significa proferir sentença em juízo, avaliar, emitir
opinião. Juridicamente é pronunciar uma sentença (de condenação ou de
absolvição); sentenciar, por outro lado, julgar é também formar um conceito,
emitir um parecer, uma opinião sobre alguém ou sobre algo. Em bom rigor é
preciso, o verbo julgar, leva-nos ao verbo “ver” que etimologicamente provém do
verbo latino “uideo, -es, uidi, uisum,
-ere”, que significa perceber pela visão, olhar para, contemplar (-se),
distinguir, tomar conhecimento, descobrir, fazer indagação, perguntar ou
investigação sobre. Jesus alerta-nos para que primeiro possamos fazer um juízo
tenhamos a visão de nós próprios. Normalmente apontamos julgamos o outro com a
nossa visão das coisas do mundo e falamos dos outros segundo aquilo que nós
somos interiormente. Neste sentido, é necessário cuidado como falamos dos
outros, porque sem termos intenção poderemos estar a ver-nos num espelho. A
forma como julgamos o outro muitas vezes pode voltar-se contra nós. Por isso,
neste tempo em que falamos imenso de misericórdia, é mesmo preciso usar
misericórdia e irmos ao encontro do outro. Não façamos do Ano da Misericórdia,
um ano de compaixão mundana, da qual estamos cheios. É preciso olhar o outro
nos olhos e perceber, ver mais do que imagens, é preciso ver o outro verbo
“ser” no Outro, caso contrário de nada serve encher a boca com o Ano da
Misericórdia.
jjmiguel