sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens

Caros amigos:

Tenho alguma dificuldade em falar do assunto que hoje trago aqui a praça pública. Na verdade, o assunto é de uma extrema complexidade para ser falado tão levianamente.

Ora então lá vai...

Durante esta semana, ficámos a saber afinal a posição da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) face ao casamento homossexual. A verdade é que já sabíamos a sua posição...

No entanto quero deixar aqui duas notas que merecem a reflexão de qualquer cidadão, católico ou não, crente e não crente...

A primeira nota é esta: O tempo que os Senhores Bispos de Portugal andam preocupados com a questão do casamento gay, porque é que não se preocupam com questões internas da própria Igreja e que se travam sobretudo ao nível da vivência da espiritualidade e da religiosidade das pessoas? Até porque ao que me parece não andamos a atravessar um tempo muito fácil para as coisas da fé. As pessoas (e os católicos sobretudo) não precisam de saber qual é a posição da CEP face ao casamento gay, até porque as pessoas têm ideias muito bem definidas acerca deste tema. As pessoas precisam de saber é qual é a posição dos Senhores Bispos face àquilo que se passa na Igreja em Portugal. Desde a perda de fiéis, crise vocacional e por aí fora...
Preocupem-se com os jovens que não têm emprego e que a religião tem uma função social. Preocupem-se com tantos e tantos que neste momento enfrentam o despedimento, o desemprego.
Preocupem-se com tantos e tantos que neste momento estão a pedir esmolas nas ruas (alguns são jovens licenciados). É com esta gente que a religião tem de ouvir e estar presente.
Agora se são contra o casamento gay, ou a favor??? As pessoas não querem saber disso meus caros...
Mais uma vez a Igreja a dar sinais que algo vai mal na sua estrutura...

A segunda nota: como cristão católico apostólico romano afirmo aqui: as celebrações eucarísticas não são para ser transformadas em comícios políticos, como no tempo do Verão Quente...
As pessoas quando vão à missa não vão à espera disso, antes pelo contrário. Vão para ter paz, serenidade e viver a sua fé juntamente com a sua comunidade. Agora não transformem as celebrações eucarísticas em comícios reaccionários, de uma Igreja que já não manda e que perdeu influência.
A Igreja preocupe-se com a fé e a vivência da espiritualidade dos fiéis. Deixe as questões mundanas para os homens. Ou querem que vos cite textos bíblicos quanto a isto?
Só uma citação: "A Deus o que é de Deus, e aos homens o que é dos homens".

Afinal, onde andam todos aqueles que em 1974 e nos anos seguintes proclamavam o comunismo-católico? (Ou era de conveniência dar uma de comunista, quando no fundo compactuavam outras ideologias?)

Quanto ao casamento gay, as pessoas têm ideias muito bem definidas quanto a esta matéria.

Qualquer católico cristão apostólico romano tem o direito de exigir muito mais desta Igreja. Sobretudo saber o que pensa ela fazer com a crise que neste momento está instalada.
As pessoas precisam de uma mão...

Cristo nunca recusou a sua mão aos outros. Neste sentido se o casamento gay é aprovado ou não isso não poderá ser preocupação para a Igreja. Até porque os católicos sabem muito bem e têm uma posição muito bem definida nessa matéria. Até porque qualquer católico formado sabe muito bem que o casamento religioso gay vai contra a doutrina católica.
Os católicos necessitam de outras coisas. Por exemplo, necessitam de saber e ser formados civicamente a integrar os casais homossexuais na sua igreja, na sua comunidade católica. Mas os exemplos deverão de vir de cima...

Enfim, "A Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens..."

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A minoria católica?

Das 4400 paróquias da Igreja Católica Portuguesa, à volta de um quarto (1100) não têm pároco residente. A situação é pior no Norte, onde a população foi sempre mais devota, do que no Sul, onde, pelo menos desde o século XIX, ela sempre tendeu para uma certa indiferença. A falta de párocos faz com que muitos deles sejam encarregados de cinco ou seis paróquias, correndo de um lado para o outro sem, forçosamente, dar muita atenção a ninguém.
Segundo o Diário de Notícias, em alguns sítios já se pensa mesmo em usar a Net. E com frequência os leigos tratam eles próprios das celebrações de Domingo (excepto da missa, como é óbvio). Ainda por cima, a idade e a doença limitam a actividade e a presença de muitos párocos residentes, que não podem ser substituídos.
Pouco a pouco, a Igreja vai desaparecendo do terreno no interior do país como, por outras razões, desapareceu das cidades do litoral. O padre da província, que era o centro da comunidade, o conselheiro, o guia, e frequentemente, a influência política decisiva deixou de existir. "As Pupilas do Sr. Reitor" e "O Crime do Pe. Amaro" pertencem agora a um mundo morto, como o clero militante que criou Salazar e até 1980 ainda se via fulminando o "marxismo" (pseudónimo do PS e do PC) e pedindo o voto na Aliança Democrática. Em balanço, Portugal não ganhou muito com isso. Embora inimiga irreconciliável do jacobino e do comunista -e, pior ainda, da liberdade - a, Igreja trazia uma vida a uma vida local melancólica e estéril uma certa forma e uma certa regra, que a "modernização" acabou por liquidar.
A chamada "crise de vocações" reflecte a nova riqueza, que por cá começou e chegar em 1960, e a genérica tolerância democrática que depois se estabeleceu. O seminário perdeu o extraordinário privilégio de ser o único caminho de promoção social. O padre perdeu o prestígio. E a Igreja perdeu o monopólio ideológico. Quem ia agora aceitar o sacrifício de si mesmo, quando se abriam oportunidades como nunca antes? Quem ia escolher a obscuridade e a renúncia, em nome de uma fé e moral, que cada vez menos gente respeitava ou seguia? O Papa Ratzinger imagina a Igreja do futuro como uma pequena minoria ignorada ou perseguida, à margem da ortodoxia do século. Provavelmente, não se engana. A julgar pelo que se passa, em Portugal, esse grande exílio não está longe.

in "Público" 08/02/2009 - Vasco Pulido Valente

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Várias religiões, uma religião

Caros amigos:

Mais uns apontamentos para colocar a pensar...

No outro dia surgiu a praça pública as palvaras (tiradas de contexto) do Sr. Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. Que passo a citá-las para os mais esquecidos: "As raparigas que se casem com muçulmanos estão metidas numa carga de trabalhos."
Sinceramento acredito (e tenho autoridade suficiente para o dizer) o Sr. D. José Policarpo, não quis nunca deitar lenha para a fogueira. Quem pensa isso não tem noção do que é a religião.
A religião não é uma moda, não é política, não é dinheiro, não é para ser usada. A religião é para ser vivida.
Nenhuma religião procura a guerra ou os interesses.
Não acredito que o islão seja uma religião de guerra como querem para aí vender.
O que existe para o islão, existe para o cristianismo, hinduísmo, budismo.
Hoje existe uma campanha anti-religiosa, contra o espiritual. Querem fazer afastar o Homem do seu caminho espiritual e arrastá-lo para o caminho da matéria.
Andam todos muito preocupados com Direitos Humanos lá para as bandas do Oriente. Alguém já viu o que se passa aqui no Ocidente?
Quanto e quantos ainda não morrem de fome, estão na pobreza?
Alguém já perguntou às mulheres muçulmanas se gostam ou não gostam da burka?
E aqui, no ocidente, já viram quantas e quantas mulheres são maltratadas e ninguém diz nada? ninguém denuncia?
Não me venham essa cambada de jornalistas formatados pelo sistema, que de religião não percebem nada, retirar frases de contexto e só querem instalar o caos.
Digo isto, pois não tem sido só o Cardeal-Patriarca fustigado com isto.
Há muito tempo que defendo uma lei para regular a imprensa. Não é agora porque tenho ódio a alguém ou quero ganhar uns dinheiros a mais que difamo alguém. Onde está afinal o Código Deontológico dos Jornalistas? Que raio de formação tem eles nas universidades?
A religião defende a compaixão, a tolerância, a paz, o amor, a amizade. Não defende a guerra, a não ser que outros interesses ou outras forças o queiram defender, mas esses de espiritual e religioso não têm nada. Aliás não têm mesmo nada na cabeça.
Se de facto querem tolerância religiosa, aprendam através das diferenças de uns e de outros.
A tolerância só existirá de facto na Terra quando soubermos lidar com as diferenças de uns e de outros.
E não é a descarregar os nossos ódios pessoais nos da frente que chegamos lá.
É no nosso dia-a-dia... uns com os outros.

Pensem nisto, pelo menos...