segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

Cristo tinha de vir na nossa carne: não um outro, anjo ou embaixador, era Cristo Quem tinha de vir, em pessoa, para nos salvar (Is 35,4) [...]. Teve de nascer em carne mortal: eis pois um menino, deitado numa manjedoura, envolto em panos, alimentado ao peito, que havia de crescer com os anos e, por fim, de morrer cruelmente. Tantos testemunhos de profunda humildade. Quem nos dá tais exemplos de humildade? O Altíssimo.


Que grandeza é a Sua? Não a procures na terra, sobe à altura dos astros. Quando chegares às legiões dos anjos, ouvirás dizer: «Sobe mais alto, acima de onde estamos». Quando tiveres subido até aos Tronos, Dominações, Principados e Potestades (Col 1,16), ouvi-los-ás ainda dizer: «Sobe mais alto, que nós próprios somos ainda criaturas», «por Ele é que tudo começou a existir» (Jo 1,3). Eleva-te pois acima de todas as criaturas, de tudo o que foi formado, de tudo o que recebeu existência, de todos os seres que mudam, corporais ou incorporais, numa palavra, acima de tudo. A tua vista não alcança ainda tais alturas; é pela fé que tens de te elevar até lá, é a fé que te deve conduzir ao Criador [...]. Lá, contemplarás o Verbo, que era no princípio [...].


Ora esse Verbo que estava em Deus, esse Verbo que era Deus, por Quem todas as coisas foram feitas, sem Quem nada teria sido feito, e em Quem estava a vida, desceu até nós. Que éramos nós? Mereceríamos que Ele descesse até nós? Não, nós éramos indignos de que Ele tivesse compaixão de nós, mas Ele era digno de ter piedade de nós. 

in evangelhoquotidiano.org

domingo, 30 de dezembro de 2012

No Domingo da Sagrada Família

O perdão dos pecados acontece por causa de uma atitude de amor para com os pais, pois o lar, Igreja doméstica, voltou a ser o local do encontro com Deus.
A misericórdia em todos os relacionamentos, mas especialmente para com os pais, está em referência ao próprio Deus que é o Pai por excelência. Portanto, honrar os pais, respeitá-los, é prestar culto a Deus.
Tanto a primeira leitura quanto a segunda, da liturgia de hoje, não escondem as falhas no relacionamento familiar e humano, mas nos dizem que o importante aos olhos de Deus não está em ser sem defeitos, em ter uma família perfeita, mas sim na capacidade de amar sem medidas, apesar dos limites e das falhas pessoais. Claro que Deus deseja que sejamos perfeitos, mas mais importante para Ele é que nos amemos e nos perdoemos como Ele nos amou e nos perdoou, sem limites, sem restrições.
Dentro desse pensamento sobre o relacionamento familiar, será importante refletir sobre a realidade da família deste início de século, onde e como vive. Certamente a maioria mora em grandes centros urbanos e é constituída pelo casal e por um ou dois filhos. Um terceiro já faz considerá-la família numerosa.
Também a mãe trabalha fora e pais e filhos se encontram à noite, cansados, muitas vezes diante da televisão, ou durante o jantar. Se isso acontece já poderão se classificar felizes, pois em outros lares, muitas vezes quando pais saem para o trabalho, os filhos ainda dormem e quando voltam eles já estão deitados. O encontro, nesse caso, só se dá no final de semana.
Rezar juntos, passar para os filhos a vivência de uma oração em família, mesmo que seja apenas à mesa, só excepcionalmente, pois em muitos casos, para que possam descansar, não cozinham em casa e vão comer fora, em um restaurante ou na casa de parentes ou de amigos.
É difícil passar valores, enfim, formar os filhos. A sociedade pós moderna penetra em suas entranhas e é muito custoso prepará-los para o futuro, para que sejam filhos e irmãos como Deus quer. Só com a graça divina e com a disposição dos pais para uma autêntica renúncia e sacrifico.
Renúncia aos apelos de dar aos filhos tudo o que a sociedade consumista coloca como valores e que os pais enxergam como coisa boa e vantajosa. É preciso renunciar fazer do filho ou da filha pessoas como nos pede o elitismo, relativizar seus códigos. É preciso questionar os valores propostos por ela e crer nos do Evangelho.
Cabe a pergunta: formo minha família para ser cidadã deste mundo ou para ser cidadã do Reino de Deus, mas neste mundo? Jesus rezou ao Pai dizendo que não queria que nos tirasse do mundo, mas nos preservasse do mal.
Sacrifício: sacrificar significa tornar sagrado. Meu filho, minha filha, são do mundo ou de Deus? O batismo os retirou do paganismo e os fez filhos de Deus, sagrados. Respeito a senhoria de Deus sobre eles ou sou conivente com as solicitações consumistas e mundanas?
A imagem da Família de Nazaré como família migrante e pobre nos obriga a refazer a imagem da família atual, retornando às origens e aos valores, ou seja, a abundância de bens materiais não é necessária para ser feliz e amar a Deus e ao próximo.
É importantíssimo não só a simplicidade de vida, mas sobretudo é fundamental a convivência afetiva e efetiva, além do respeito aos idosos como gratidão e como referência à sua experiência de vida que porta sabedoria e os referenciais da autêntica tradição.
A Família de Nazaré nos ensina a cristianizar a família pós moderna, recolocando Deus no centro e nEle reencontrando a verdadeira felicidade.
 Pe. Cesar Augusto dos Santos, S.J.

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sábado, 29 de dezembro de 2012

Da Liturgia Bizantina

Sabendo ler os sinais dos astros, os Magos reconheceram nos braços da Virgem o Criador da humanidade e adoraram o Senhor que tomou a condição de servo (Fl 2,7), oferecendo-Lhe os seus presentes e cantando em louvor da Toda Abençoada [o seguinte hino]:

Rejubila, mãe da Luz sem declínio
Rejubila, reflexo da claridade de Deus
Rejubila, ausência total da corrosão da mentira
Rejubila, estandarte que nos mostra a Trindade.


Rejubila, porque expulsaste o tirano do seu reino
Rejubila, porque nos mostras a Cristo Senhor, Amigo dos homens (Sb 1,6)
Rejubila, porque destronaste os ídolos pagãos
Rejubila, porque nos libertaste das nossas obras vazias.


Rejubila, tu que extinguiste o culto do fogo pagão
Rejubila, tu que nos livraste do fogo das paixões
Rejubila, tu que conduzes os crentes até Cristo, Sabedoria de Deus (1Cor 1,24)
Rejubila, tu que alegras todas as gerações.


Rejubila, Esposa por desposar. [...]


Quando Simeão chegou ao fim da vida, Senhor, apresentaste-Te como bebé de colo a este homem que, reconhecendo em Ti a perfeição da divindade, exclamou, cheio de admiração infinita: «Aleluia, aleluia, aleluia!» [...]


Sem deixar de ser Deus nem abandonar as prerrogativas do Alto, o Verbo que nada pode conter tomou a nossa condição humana e veio habitar connosco este mundo, baixando inteiro ao seio duma Virgem digna de todos os louvores [a quem dizemos]:

Rejubila, templo da imensidão de Deus
Rejubila, pórtico do mistério escondido desde todos os séculos
Rejubila, novidade inacreditável para os descrentes
Rejubila, Boa-Nova para todos os crentes.


Rejubila, carruagem d'Aquele que está sentado sobre os querubins (Sl 80(79),2)
Rejubila, trono d'Aquele que está acima dos serafins (Is 6,2)
Rejubila, ponto de união de todos os contrários 
Rejubila, fusão da virgindade e da maternidade.


Rejubila, propiciadora do perdão dos pecados
Rejubila, restauradora do Paraíso
Rejubila, chave do Reino de Cristo e porta do Céu
Rejubila, esperança dos bens eternos.


Rejubila, Esposa por desposar. [...]


Todos os anjos do céu ficaram abismados com a Tua Encarnação, Senhor, Tu, a Quem os homens nunca dantes haviam visto, e que assim Te mostraste a nós, mortais, e entre nós permaneceste (Jo 1,14.18). A Ti aclama toda a terra: «Aleluia, aleluia, aleluia!»

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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dos Sermões de São Gregório de Nissa, bispo

«Com a notícia do nascimento do Salvador, Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele» (Mt 2,3). [...] É o mistério da Paixão, que aparecia já na mirra dos Magos; os recém-nascidos foram massacrados sem dó nem piedade. [...] O que significa esta matança de crianças? Por quê ousar crime tão horrendo? «É que, dizem Herodes e os seus conselheiros, um estranho sinal apareceu no céu; um sinal que garantiu aos Magos que chegara outro rei.» Entendes tu, Herodes, o que são estes sinais? [...] Se Jesus é senhor dos astros, não estará ao abrigo dos teus ataques? Julgas ter poder de vida e de morte, mas não tens nada a temer de criança tão terna. Se Deus O submeteu ao teu poder; por que conspiras contra ele? [...]


Mas deixemos o luto, «a queixa amarga de Raquel que chora os seus filhos» ─ porque hoje o Sol de Justiça (Mal 3,20) dissipa as trevas do mal e espalha a Sua luz sobre toda a natureza, Ele que assume a nossa natureza humana. [...] Nesta festa da Natividade «as portas da morte são destruídas, as barras de ferro estão quebradas» (Sl 107,16); agora, «abrem-se as portas da justiça» (Sl 118,19). [...] Já que por um homem, Adão, veio a morte, hoje, por um homem vem a salvação (Rom 5,18). [...] Depois da árvore do pecado está a árvore da bondade, a cruz. [...] Hoje começa o mistério da Paixão.

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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Das Obras de Rupert de Deutz, monge beneditino

De acordo com graça que fez com que Jesus o amasse e o fez inclinar-se sobre o Seu peito na Última Ceia (cf Jo 13,23), João recebeu com abundância os dons do entendimento e da sabedoria (Is 11,2) – o entendimento para compreender as Escrituras, e a sabedoria para escrever os seus próprios livros com arte admirável. Para dizer a verdade, não recebeu este dom no momento em descansou sobre o peito do Senhor, apesar de ter tocado o coração «em que estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento» (Col 2,3). Quando João diz que, ao entrar no túmulo, «viu e acreditou», reconhece que «ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos» (Jo 20,9). Como os outros apóstolos, João recebeu plenamente a sua medida quando o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos [no Pentecostes], quando a graça foi dada a cada um «segundo a medida do dom de Cristo» (Ef 4,7). [...]


O Senhor Jesus amou este discípulo mais do que os outros [...] e abriu-lhe os segredos do céu [...] para fazer dele o escrivão do mistério profundo sobre o qual o homem não é capaz de falar só por si mesmo: o mistério do Verbo, da Palavra de Deus, do Verbo que Se fez carne. É o fruto desse amor. Mas, mesmo amando-o, não foi a ele que Jesus disse: «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja» (Mt 16,18). [...] Embora amasse todos os Seus discípulos, e especialmente Pedro, com um amor espiritual e da alma, Nosso Senhor amou João com um amor do coração. [...] Na ordem do apostolado, Simão Pedro recebeu o primeiro lugar e as «chaves do reino dos céus» (Mt 16,19); João, recebeu outro legado: o Espírito de entendimento, «uma alegria e uma coroa de júbilo» (Sir 15,6).

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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

No Natal de 2012

"Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus" (Sl. 97(98))

Em vésperas de celebrarmos o Natal de Jesus Cristo será necessário voltarmos o nosso olhar para a verdade sobre a festa de Natal. Independentemente se Jesus Cristo nasceu ou não no dia 25 de Dezembro, ou se a festa advém de um dia quer era pagão e que depois foi cristianizado, e tudo isso será importante para uma questão de memória e de estudo para a ciência histórica. No entanto, não pode servir para colocar a nossa Fé em Jesus Cristo. Independentemente se o presépio tem ou não o burro e a vaca, até porque ninguém disse que o presépio tinha burro e vaca e o seu contrário. Simplesmente frases retiradas de contexto para descredibilizar o sentido do Natal e bem sabemos de onde parte este tipo de jornalismo saloio.
No entanto é necessário que se saiba que o Presépio é uma criação do grande São Francisco de Assis, do séc. XIII. Temos pena que as universidades remetam estes assuntos de cultura geral aos futuros jornalistas para segundo plano. Talvez propositadamente... Mas o que importa isso para os Cristãos que acreditam Naquele Menino que nasceu em Belém?
Na verdade, a verdadeira Fé é aquela que é questionada e exposta à dúvida. Tem Fé, quem tem dúvidas. Para quem acha que sabe tudo em matérias de Fé, é questionável essa Fé. No Ano da Fé, é necessário perceber porque afinal celebramos o Natal. Será que celebramos o Natal para dar e receber prendas? Será que celebramos o Natal para ter pena dos mais pobrezinhos, dos que vivem o flagelo do desemprego, ou ter pena de famílias separadas? 
Celebramos a Festa de Natal, porque comemoramos o Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, em Belém. Não há outro sentido para celebrar a Festa do Natal. Não celebramos a vinda do Pai Natal, que por acaso essa tradição advém de um bispo que se chamava São Nicolau. Não celebramos a Leopoldina, nem muito menos a Popota. Símbolos e símbolos que nos são impostos, tentando dar um novo sentido ao Natal, isto porque se quis retirar o Sagrado da festa natalícia. Acho interessante, ter todos os elementos decorativos natalícios, em casa, e não existir um presépio.
O Natal é uma festa sagrada e que se tenta a todo o custo dessacralizar. O Natal é sagrado, é uma festa cristã, e de Fé. Olhar o presépio e contemplar a Família. E teremos que acreditar no bem que é o valor família quando esta sofre ataques vorazes contra a sua instituição. A Família é um tesouro inestimável que não pode ser deitado ao lixo. 
A Família está descredibilizada porque a sociedade vive dois grandes problemas: as relações humanas e o compromisso. Pensar o Natal é pensar nas nossa relações de amor, de amizade. Pensar o Natal é pensar no compromisso. Temos medo de nos comprometer, porque temos medo de amar. Deus ama-nos e por isso tem um compromisso connosco que é amar-nos. Amar é viver, é dar vida. Por isso Deus nos deu o Seu Filho que nos amou morrendo numa cruz. E este Filho abre-nos os braços e a todos acolhe independentemente da raça, cultura ou religião. É preciso olhar e conhecer o Outro...
Deste modo, a tolerância, o respeito, a liberdade, a igualdade e a fraternidade são bens a descobrir o Presépio de Belém. O respeito  pelos direitos da dignidade humana declarados pela Declaração dos Direitos Humanos. O respeito pela vida humana e pelos animais. Tudo está contido ali no Presépio de Belém. A nossa solidariedade, a nossa caridade não podem ser acções do "fica bem" e do "bom tom" e só nesta época do ano. 
Ter Fé que Jesus Cristo nasceu no Presépio de Belém e que dali veio a salvação e a vida ao Mundo é um descobrir o valor real da compaixão, da paz e do amor todos os dias do ano. Só deste modo poderemos recitar o salmo 97 "Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus".
Neste Natal de 2012 possamos dar sentido à Fé a partir do momento em que sabemos que o Natal sem um presépio não faz qualquer sentido (independentemente dos faits-divers). Saber que no Natal um menino nos foi dado para a vida e esperança do Homem e para o Mundo.
No Natal de 2012, o Mundo possa ser cinzento, sem tons brancos, sem tons pretos. E esse é um caminho que tem de começar e podemos começá-lo este ano, para que todos os confins vejam a salvação do nosso Deus.

josé miguel

domingo, 23 de dezembro de 2012

No Domingo IV do Tempo de Advento

A primeira leitura, extraída de Miquéias, nos fala que o poder será popular e não mais aristocrático Deus manterá sua fidelidade à Casa de Davi quando escolheu o caçula de Jessé para ser um grande rei de Israel. Davi, não só venceu o opressor ao derrotar Golias apenas com uma pedrada, mas utilizou sua capacidade de pastor para reorganizar e salvar o povo.
Miquéias, tendo em mente o advento do rei Davi, fala que Belém, a cidade davídica, no momento uma aldeia desprezível para os habitantes da capital, será o berço daquele que governará Israel, de um modo mais grandioso que o realizado pelo filho de Jessé..
Isso irá acontecer quando uma mulher der à luz e os compatriotas voltarem do exílio. Será a formação da nova sociedade de que falamos no domingo passado. Novo rei, segundo o coração de Deus e, consequentemente, nova sociedade.
O versículo 3, do capítulo diz que o novo rei será a paz. Ele se refere ao triunfo da paz em todo o orbe e o domínio da justiça em todos os setores. Não será apenas Israel o beneficiário desta paz, mas o mundo todo.
No Evangelho, Lucas ao falar da visita de Maria a Isabel e, naturalmente, de Jesus a João Batista, revela Deus visitando os pobres e marginalizados. Jesus, o Salvador, é levado por Maria, a escolhida a visitar aqueles que outrora eram desprezados por não terem filhos. É uma visita que celebra a misericórdia do Senhor. Isabel a saúda bendizendo-O pois tem consciência de que a visita que recebe é a de Deus que salva.
Tanto a 1ª leitura quanto o Evangelho nos mostram que o lugar social onde Deus assume posição é no meio dos pobres. O Senhor se identificou com eles e se fez um deles. Para eles veio a plenitude da vida, a Salvação. Quem desejar ser salvo deverá observar que desde o início da História da Salvação, o Senhor escolheu os pobres e eles souberam receber os mandamentos do Senhor como dom de Deus.
Ser pobre é mais que fazer parte de uma categoria social. Ser pobre é também uma opção de vida que coloca no Senhor a sua confiança e não nos bens e nos poderes deste mundo.. Ser pobre é abrir mão de desejos particulares, egocêntricos em favor dos companheiros de caminhada. Ser pobre é abrir mão de ser sábio aos olhos do mundo e acatar a Palavra de Deus como verdade que salva. Ser pobre é abrir mão dos bens deste mundo, de seus privilégios se tais riquezas se contrapõem à vontade de Deus; ser pobre, enfim é buscar a simplicidade de vida porque ela não só foi vivida pela família de Nazaré, mas foi a escolha livre de Jesus. Ser pobre é ser filho e ser irmão!

in news.va

sábado, 22 de dezembro de 2012

De São Beda, o Venerável, monge

E Maria disse: «A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador». O Senhor me engrandeceu, diz ela, com um dom tão grande e tão inaudito, que é impossível explicá-lo com palavras humanas, e dificilmente o poderá compreender o sentimento mais íntimo do coração. Por isso entrego-me com todas as forças da minha alma ao louvor e à acção de graças. [...] «Porque fez em mim grandes coisas o Todo-Poderoso; e o Seu nome é Santo». [...] De facto, só aquele em quem o Senhor realiza obras grandiosas pode proclamar dignamente a Sua grandeza e exortar os que participam da mesma promessa e dos mesmos sentimentos: «Engrandecei comigo ao Senhor; exaltemos juntos o Seu nome» (Sl 34 [33],4). [...]


«Acolheu a Israel, Seu servo, lembrado da Sua misericórdia». Com admirável propriedade o cântico chama a Israel servo do Senhor, isto é, obediente e humilde, a quem o Senhor acolheu para o salvar, segundo as palavras do profeta Oseias: «Quando Israel era ainda criança, eu o amei» (11,1; cf. 11,4). Quem não quer humilhar-se não pode ser salvo [...] mas «quem se humilhar como uma criança será o maior no Reino dos Céus» (Mt 18,4).


«Como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Refere-se o texto não à descendência carnal de Abraão, mas à espiritual, isto é, não somente aos nascidos da sua carne, mas aos que seguiam o exemplo da sua fé. [...] O advento do Salvador foi prometido a Abraão e à sua descendência para sempre, isto é, aos filhos da promessa, dos quais se diz: «Se sois de Cristo, também sois descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa» (Gl 3,29).


É de notar que foram as mães, a do Senhor e a de João, que se anteciparam a anunciar profeticamente o nascimento de seus filhos. [...] E se foi pela sedução de uma só mulher que se introduziu no mundo a morte, agora é pela profecia de duas mulheres que se anuncia ao mundo a salvação. 

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dos Comentários de Santo Ambrósio, bispo

É normal que todos os que querem que se acredite neles dêem razões para se acreditar. Foi por isso que o anjo [...] anunciou a Maria, a virgem, que uma mulher idosa e estéril se tornara mãe, mostrando assim que Deus pode fazer tudo o que quiser. Assim que Maria soube disto partiu para as montanhas ─ não por falta de fé na profecia, nem pela incerteza perante este anúncio, nem por dúvida [...], mas na alegria do seu desejo, para cumprir um dever religioso, na urgência da alegria. Doravante cheia de Deus, como poderia Ela não se elevar apressadamente às alturas? Os raciocínios lentos são estranhos à graça do Espírito Santo.


Até então, Maria vivia sozinha, retirada do mundo exterior; mas nem o pudor de partir publicamente, nem as escarpas das montanhas, nem a lonjura do caminho a detiveram no seu desejo de servir. Esta virgem apressa-se a subir às alturas, é uma virgem que pensa em servir e que esquece as dificuldades; a caridade é a sua força [...]; deixa a sua casa e parte. [...] Vós que apreendestes a delicadeza de Maria; apreendei também a sua humildade. A mais nova vem ter com a mais velha [...], a que é superior vem ter com a que é inferior: Maria vai ter com Isabel, Cristo vai ter com João, como mais tarde o Senhor irá ser baptizado por João, para consagrar o baptismo. E imediatamente se manifestam os benefícios da chegada de Maria e da presença do Senhor, porque «quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo». [...] As duas mulheres falam da graça que lhes foi dada; as duas crianças realizam esta graça e arrastam as mães para este mistério da misericórdia. 

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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Dos Sermões de Santo Aelredo de Rielvaux, monge cisterciense

Hoje o Pai soberano enviou-nos o verdadeiro José «para rever os seus irmãos e os rebanhos» (Gn 37,14). Ele é seguramente aquele José amado por seu pai «mais que todos os seus irmãos» (v. 3). [...] É ele, mais amado que todos, mais sábio que todos, mais magnífico que todos; foi realmente ele que Deus Pai enviou hoje. [...] «Quem enviarei Eu, diz Deus Pai, e quem irá por Mim?» (Is 6,8) O Filho responde: «Eis que Eu mesmo cuidarei das Minhas ovelhas e Me interessarei por elas» (Ez 34,11). Vindo do mais alto dos céus, Ele dirige-Se «para o vale de Hebron» (Gn 37,14).


Adão tinha escalado a montanha do orgulho; o Filho de Deus desce para o vale da humildade. Encontra hoje um vale para onde descer. Onde está Ele? Não em ti, Eva, mãe da nossa infelicidade, não em ti [...], mas na bem-aventurada Maria, que é este vale de Hebron devido à sua humildade e por causa da sua força. [...] Ela é forte porque participa na força d'Aquele sobre o qual está escrito: «O Senhor é forte e poderoso» (Sl 23,8). Ela é aquela mulher virtuosa, ardentemente desejada por Salomão, que dizia: «Uma mulher virtuosa, quem a poderá encontrar?» (Pr 31,10). [...]


Eva, se bem que criada no paraíso, sem corrupção, sem enfermidade nem dor, revelou-se fraca e doente. «Quem poderá encontrar a mulher virtuosa?» Poderemos encontrar na infelicidade cá em baixo o que não pudemos encontrar na felicidade do além? Poderemos encontrá-la neste vale de lágrimas, quando não a pudemos encontrar na beatitude do Paraíso? [...] Hoje, sim, hoje ela foi encontrada. Deus Pai encontrou esta mulher para a santificar; o Filho encontrou-a para nela habitar; o Espírito Santo encontrou-a para a iluminar. [...] O anjo encontrou-a para a saudar assim: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo». Ei-la, a mulher virtuosa. Nela, a seriedade, a humildade e a virgindade opõem-se à curiosidade, à vaidade, à voluptuosidade. «O anjo entrou nela», está escrito. Ela não estava virada para o exterior; estava no interior, no seu quarto secreto, onde rezava a seu Pai em segredo (Mt 6,6).

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

São Gregório de Palamas, bispo

Toda a vida do «maior entre os nascidos de mulher» (Mt 11,11) é o milagre dos milagres. E não se trata apenas da vida inteira de João, profeta (Mt 11,9) já antes de ter nascido (Lc 1,44) e o maior dos profetas. Também tudo o que acontece antes do seu nascimento e depois da sua morte ultrapassa todos os milagres. Com efeito, as predições dos profetas a seu respeito, inspiradas por Deus, descrevem-no não como um homem mas como um anjo, como uma chama brilhante, como a estrela da manhã (Nm 24,17) difundindo a luz divina — pois ele precede o Sol da justiça (Ml 3,20) — e como a voz do próprio Verbo de Deus. Ora existirá algo mais próximo do Verbo de Deus do que a voz de Deus?


Quando se aproximava o momento da sua concepção, não foi um homem mas um anjo que desceu do céu para pôr fim à esterilidade de Zacarias e Isabel. [...] Ele predisse que o nascimento desta criança seria causa de grande alegria, pois anunciaria a salvação de todos os homens: «Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe  e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus.[...] Irá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias» (Lc 1, 15.17). Com efeito, João será virgem como Elias (1Rs 18,18), sobretudo porque virá a ser o precursor de Deus: «Irá à frente, diante do Senhor» (Lc 1,17; Ml 3,1). [...]


Vivia só para Deus, atento somente a Deus, tendo a sua alegria em Deus. Vivia, portanto, num sítio isolado, como foi dito: «E vivia em lugares desertos (Is 40,3), até ao dia da sua apresentação a Israel» (Lc 1,80). Tal como, nesses tempos, o Senhor, levado pelo Seu imenso amor, desceu do céu por nós que éramos pecadores, também João, nessa mesma altura, saiu do deserto por nós, de forma a ajudar à realização desse desígnio de amor (Za 3,8, Septuaginta). Porque, para servir o Deus de bondade no Seu extraordinário abaixamento até junto dos homens que estavam mergulhados no abismo do mal (1Rs 21,20), era preciso um homem de virtude inigualável como João (Mc 6,18).

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Dos Sermões do Beato Guerric de Igny, abade cisterciense

És Aquele por quem as nações esperam (Gn 49,10 [Vulg]), e os que Te esperam não ficarão desiludidos. Esperaram-Te os nossos pais e em Ti puseram a sua esperança todos os justos desde o princípio do mundo, e não ficaram desiludidos (cf Sl 22 [21],5). [...]


A Igreja, porém, tendo esperado a primeira vinda de Cristo na pessoa dos justos de outrora, espera agora a segunda na pessoa dos justos da Nova Aliança. E, como estava certa de que a primeira vinda pagaria o preço da Redenção, agora tem a certeza de que a segunda lhe trará a recompensa. Presa desta expectativa, desta esperança que ultrapassa tudo o que vale a pena esperar na terra, a Igreja anseia tanto com alegria quanto com ardor pela bem-aventurança eterna.


E enquanto uns se apressam a procurar a felicidade nesta vida sem esperar que se realizem os desígnios do Senhor, precipitando-se na voragem das propostas deste mundo, aquele que tiver a felicidade de colocar a sua esperança no Senhor não prende o seu olhar a coisas vãs e enganosas (Sl 40 [39],5) [...], mas sabe que mais vale sentir-se humilhado com os mansos do que partilhar dos despojos deste mundo com os orgulhosos. Desse modo, para se consolar, diz assim: «”O Senhor é a minha herança, por isso espero n'Ele. O Senhor é bom para os que n'Ele confiam, para a alma que O procura. Bom é esperar em silêncio a salvação do Senhor”. Na verdade, meu Deus, “a minha alma desfalece à espera da Tua salvação, mas eu confio com todas as forças na Tua palavra”» (Lm 3,24-26; Sl 119 [118],81 [Vulg]). [...] Estou certo de que «ela aspira pelo seu termo e não falhará»; por isso mesmo, «se tardar, espera por ela igual-mente, que ela cumprir-se-á e com toda a certeza não falhará» (Hab 2,3).

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domingo, 16 de dezembro de 2012

No Domingo III do Tempo de Advento

A primeira leitura, extraída de Sofonias, é marcada pelo otimismo, pela alegria e pela esperança. O motivo está no centro do texto onde se lê que o Senhor é rei de Israel. Após os desmandos de um governo tirano, que levara o povo ao exílio e à ruína, Deus lidera e reorganiza com o pequeno resto, uma nova sociedade.
O Senhor iniciou revogando a sentença de morte que havia sobre o povo, permitiu a volta dos exilados, e o mais importante, Ele é o companheiro que está junto ao povo, em seu meio, amando-o.
O Senhor é o verdadeiro líder, defendendo o povo das ameaças externas e exercendo a justiça dentro da própria nação.
No Evangelho, vemos a pregação de João Batista e o anúncio, feito por ele, de que o Messias - aquele que iria fundar a nova sociedade - estava para chegar. João prepara essa nova realidade. fazendo com que as pessoas se abram umas às outras, e à novidade que está para chegar.Essa abertura ao outro se inicia com a partilha de bens. Não se trata de esmolas, mas de dar metade do que possui, de autêntica partilha. Também é dito não cobiçar os pertences alheios, contentar-se com seus próprios bens e conservar a justiça. O poder se chama serviço!
“ A pá está em sua mão: limpará a sua eira e recolherá o trigo em seu celeiro.” Isso significa que Jesus irá desmascarar a sociedade cujo projeto é de morte. Ele traz a nova sociedade, baseada na justiça, na vida. Exatamente porque é baseada na vida, a nova sociedade não caducará e será eterna. Nós a vivemos já aqui, à medida em que nossas opções são de partilha, de praticar a justiça, mesmo desagradando as estruturas deste mundo, com sua sociedade baseada em estruturas mortais, injustas, anti evangélicas.
Na segunda leitura, São Paulo nos diz que o projeto de Deus, essa nova sociedade, deverá ser o objetivo ao redor do qual a comunidade sempre se reunirá. Para isso ele apela à alegria, ao equilíbrio, e não por último, ao diálogo com Deus (que é oração) e com os irmãos. Com esses elementos não só preservaremos essa nova sociedade, mas faremos sua propaganda, a tornaremos agradável aos olhos daqueles que nos observam.
Como está nossa vida pessoal, comunitária e de responsabilidade pastoral? Transparecemos alegria, equilíbrio, discernimento? Dialogamos com Deus e com os demais?

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sábado, 15 de dezembro de 2012

Dos Discursos de São João Damasceno, monge

Quem obteve o poder de abrir ou de fechar os céus, de reter a chuva ou de fazer chover (cf 1R 17,1)? Quem conseguiu fazer descer fogo sobre um sacrifício inundado de água ou sobre dois exércitos de soldados devido às más acções destes (cf 2R 1,10)? Quem, num ardor inflamado, fez perecer os profetas da vergonha por causa de ídolos ofensivos que veneravam (cf 1R 18,40)? Quem viu Deus numa suave brisa (cf 1R 19,12)? [...] Todos estes feitos são exclusivos de Elias e do Espirito que nele habitava.


Mas poderíamos falar de acontecimentos ainda mais prodigiosos. [...] Elias é aquele que, até aos nossos dias, nem sequer conheceu a morte, mas foi elevado aos céus (cf 2R 2,1) e permanece incorruptível; alguns pensam que vive com os anjos, cuja natureza imperecível e imaterial imitou através de uma vida pura. [...] E, na verdade, Elias apareceu na transfiguração do Filho de Deus (cf Mt 17,3), vendo-O de cara descoberta, estando diante d'Ele face a face. No fim dos tempos, quando se manifestar a salvação de Deus, será ele a proclamar a vinda de Deus antes dos outros e a mostrar-lha; através de muitos sinais extraordinários, confirmará o dia que se mantém secreto. Também nós, nesse dia, se estivermos preparados, esperamos apresentar-nos diante desse homem admirável que nos prepara o caminho conducente a esse dia. Que ele nos faça então entrar nas moradas celestes, em Cristo Jesus, Nosso Senhor, a Quem pertencem a glória e o poder, agora e para sempre e pelos séculos dos séculos.

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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Das Meditações do B. John Henry Newman, presbítero

São João Baptista vivia apartado do mundo, era nazir (cf Lc 1,15; Nb 6,1), consagrado a Deus. Deixou o mundo e com ele se confrontou [...], chamando-o ao arrependimento. Todos os habitantes de Jerusalém iam ter com ele ao deserto (Mc 3,5) e ele confrontava-os face a face. Mas ao ensinar falava de Alguém que havia de vir a eles e falar-lhes de um modo muito diferente. Alguém que não Se separaria deles, que não Se apresentaria como um ser superior, mas como um irmão, feito da mesma carne e dos mesmos ossos, sendo um entre muitos irmãos, um entre a multidão. E, na verdade, Ele já estava no meio deles:  «No meio de vós está Quem vós não conheceis» (Jo 1,26). [...]


Por fim, Jesus começa a mostrar-Se e a «manifestar a Sua glória» (Jo 2,11) através de milagres. Mas onde? Numa boda. E como? Multiplicando o vinho. [...] Comparai tudo isso com o que Ele diz de Si próprio: «Veio João, que não comia nem bebia. Vem o Filho do homem, que come e bebe, e dizem: 'É um bêbado'». Podiam odiar João, mas respeitavam-no; a Jesus, porém, desprezavam-n'O. [...]


Isto porque Tu, oh meu Senhor, amas tanto esta natureza humana que criaste. Não nos amas simplesmente enquanto Tuas criaturas, obra das Tuas mãos, mas enquanto seres humanos. Tu amas tudo, pois tudo criaste, mas amas os homens acima de tudo. Como é isto possível Senhor? Que há no homem que não há nas outras criaturas? «Que é o homem para Te lembrares dele, o filho do homem para com ele Te preocupares?» (Sl 8,5) [...] Não tomaste a natureza dos anjos quando Te manifestaste para a nossa salvação e não tomaste uma natureza humana, nem um papel, nem um cargo acima duma vida humana vulgar — não foste nazir, nem sacerdote, nem levita, nem monge, nem eremita. Vieste, precisa e plenamente, nesta natureza humana que tanto amas, [...] nesta carne que caiu com Adão, com todas as nossas enfermidades, os nossos sentimentos e as nossas afinidades, exceptuando o pecado.

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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Dos Sermões do Beato Guerric de Igny, abade cisterciense

«Alguém lutou com Jacob até ao romper da aurora [...], e ele disse-me: “Não te deixarei partir enquanto não me abençoares”.» (Gn 32,25.27) Para vós, meus irmãos, que decidistes tomar o céu de assalto e que vos empenhastes na luta contra o anjo encarregado de guardar o acesso à árvore da vida (Gn 3,24), para vós, é absolutamente necessário lutar com constância e tenacidade [...], não só até se vos paralisar a anca [...], mas até à morte do vosso ser carnal. Contudo, não podereis fazer a vossa ascese a não ser que sejais tocados pelo poder divino, e que Ele vos conceda a Sua graça. [...]


Não tens a impressão de estar a lutar com um anjo, ou até com o próprio Deus, quando Ele Se opõe diariamente aos teus desejos mais fogosos ? [...] Chama-l'O e Ele não te ouve. Queres aproximar-te d'Ele e Ele afasta-te. Decides qualquer coisa, e Ele faz com que aconteça o contrário. E assim, combate com mão rude todos os teus planos. Ó bondade oculta, disfarçada de dureza, com que ternura combates, Senhor, aqueles por quem combates! «Ainda que escondas estas coi¬sas no Teu coração» (Jb 10,13), sei bem que amas aqueles que Te amam (cf Pr 8,17) e que «a bondade que reservas para os que Te são fiéis» (Sl 31,20) não tem limites.


Assim, pois, irmão, não desesperes, age corajosamente, tu que empreendeste lutar com Deus! A bem dizer, Ele gosta que Lhe faças violência, deseja que O venças. Mesmo quando Se irrita e estende o braço para castigar, procura – Ele próprio o diz – um homem semelhante a Moisés, que seja capaz de Lhe resistir. [...] Jeremias bem tentou resistir-Lhe, mas não conseguiu conter a Sua cólera implacável, a Sua sentença inflexível; por isso, rompeu em lágrimas e disse: «Tu me dominaste e venceste» (Jr 20,7).

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo

Ainda hoje Cristo é para nós um Mestre cheio de doçura e de amor. [...] Vede como Ele age. Mostra-Se compassivo para com o pecador que, no entanto, merece as Suas censuras. Aqueles que provocam a Sua cólera deveriam ser aniquilados, mas Ele dirige aos homens culpados palavras cheias de doçura: «Vinde a Mim, tornai-vos Meus discípulos, porque sou manso e humilde de coração». Deus é humilde; o homem é orgulhoso. O juiz mostra-se clemente; o malfeitor arrogante. O artesão profere palavras de humildade; a argila discorre à maneira de um rei (cf Is 29,16; 45,9). «Vinde a Mim, tornai-vos Meus discípulos, porque sou manso e humilde de coração». Ele não traz o chicote para castigar, mas o remédio para curar.


Pensai na Sua bondade inexprimível. Recusareis o vosso amor ao Mestre que nunca castiga e a vossa admiração ao juiz que defende o culpado? As Suas palavras tão simples não vos podem deixar insensíveis: «Sou o Criador e amo a Minha obra; sou o artesão e cuido daquele que formei» (cf Gn 2,7). Se me preocupasse somente com a Minha dignidade, não levantaria o homem caído. Se não tratasse a sua doença incurável com remédios adequados, ele nunca poderia recuperar a saúde. Se não o confortasse, ele morreria. Se apenas o ameaçasse, ele pereceria. Ele jaz no solo, mas vou aplicar nele o bálsamo da bondade (cf Lc 10,34). Compadecido, baixo-Me para o ajudar a levantar-se. Aquele que se mantém de pé não poderá levantar um homem caído no chão sem se inclinar para lhe estender a mão. «Vinde a Mim, tornai-vos Meus discípulos, porque sou manso e humilde de coração.» 

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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

De São João Eudes, presbítero

Foste Tu, Senhor que me fizeste nascer de meu pai e me formaste no seio de minha mãe (Sl 138,13); foste Tu que me trouxeste à luz como uma criança totalmente nua, porque as leis da nossa natureza obedecem perpetuamente às Tuas ordens. A minha vida e a minha existência não se devem à vontade do homem nem a um impulso da carne (Jo 1,13), mas à bênção do Espírito Santo e à Tua graça inexprimível. Tu preparaste o meu nascimento com uma delicadeza que está para além das leis da nossa natureza. Fizeste-me nascer adoptando-me como Teu filho (Gl 4,5), e inscreveste-me entre os membros de Tua Igreja santa e imaculada.


Foste Tu que me alimentaste com o leite espiritual, isto é, o leite de Tuas palavras divinas. Foste Tu que me fortaleceste com um alimento sólido, o corpo de Jesus Cristo, nosso Deus, Teu único Filho, o santo, e me inebriaste com o cálice de Deus, quer dizer, a taça do Seu sangue que dá vida, e que Ele derramou para a salvação do mundo.


Tu amaste-nos, Senhor e deste o Teu Filho por nós, para nossa redenção, que Ele assumiu voluntariamente e sem resistência. [...] Assim, ó Cristo, meu Deus, abaixaste-Te para me carregares nos Teus ombros, a mim, a ovelha perdida (Lc 15,5), e levaste-me a pastar em verdes prados (Sl 22,2); refrescaste-me nas fontes da verdadeira doutrina (ibid.) por intermédio dos Teus pastores, de quem Tu próprio foste pastor antes de lhes confiares o Teu rebanho. 

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

De Santo Ireneu de Lyon, bispo

O Verbo, a Palavra de Deus, veio habitar no homem, tornou-Se «Filho do homem» para habituar o homem a receber Deus e habituar Deus a habitar no homem, como aprouve ao Pai. Portanto, o sinal da nossa salvação, o Emanuel nascido da Virgem, foi dado pelo próprio Senhor (Is 7,14). Na verdade, é o próprio Senhor que salva os homens, já que eles não se podem salvar a si próprios. [...] O profeta Isaías disse: «Fortalecei as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos que têm o coração inde¬ciso: 'Tomai ânimo, não temais!' Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar. Deus vem em pessoa retribuir-vos e salvar-vos» (35,3-4). Pois somente com a ajuda de Deus, e não por nós próprios, podemos ser salvos.


Eis outro texto onde Isaías profetizou que Aquele que nos iria salvar não era meramente um homem, ou um ser incorpóreo, como os anjos: «Não foi um mensageiro nem um enviado que os redimiu, mas foi Ele em pessoa. Com o Seu amor e ternura livrou-os do perigo, sustentou-os e amparou-os cons¬tantemente nos tempos antigos» (63,9). Mas este Salvador, o Verbo, também seria verdadeiramente um homem visível: «Contempla Sião, os teus olhos verão Jerusalém» (cf 33,20). [...] Outro profeta disse: «Uma vez mais, terá compaixão de nós, apagará as nossas iniquidades e lançará os nossos pecados ao fundo do mar» (Mq 7,19). [...] O Filho de Deus, que também é Deus, virá da terra de Judá, em Belém (Mq 5,1), para espalhar o Seu louvor por toda a terra. [...] Por isso, Deus fez-Se homem e o próprio Senhor salvou-nos, dando-nos o sinal da Virgem.

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domingo, 9 de dezembro de 2012

No Domingo II do Tempo de Advento

Dos Sermões do Beato Guerric de Igny, abade cisterciense

«No deserto uma voz clama: Preparai as vias do Senhor!» Irmãos precisamos, antes de mais nada, de reflectir sobre a graça da solidão, sobre a beatitude do deserto que desde o princípio da era da salvação mereceu ser consagrada ao repouso dos santos. Claro que o deserto foi santificado para nós, pela voz do profeta, pela voz daquele que clamava no deserto, que lá pregava e praticava um baptismo de penitência. Antes dele, já os maiores profetas tinham tido a solidão por amiga, como auxiliar do Espírito. Ainda assim, uma graça de santificação incomparavelmente maior ficou ligada a esse lugar quando Jesus sucedeu a João (Mt 4,1).


Por sua vez, antes de pregar aos penitentes, Jesus pensou em preparar um lugar para os receber. Foi ao deserto para consagrar uma vida nova nesse local renovado [...], não tanto para Si próprio como para aqueles que iriam viver depois d'Ele no deserto. Se, portanto, te fixaste no deserto, fica lá, para aí esperares Aquele que te salvará da pusilanimidade de espírito e da tempestade. [...] Mais maravilhosamente que a multidão que O seguiu, o Senhor saciará a tua sede, a ti que O seguiste (Mc 6,34ss.). [...]


Quando começares a achar que Ele te abandonou, será então que, não esquecendo a Sua bondade, Ele virá consolar-te e dir-te-á: «Recordo-me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado, quando me seguias no deserto» (Jr 2,2). O Senhor fará do teu deserto um paraíso de delícias; e tu proclamarás, como o profeta, que lhe foi dada a glória do Líbano, a beleza do Carmelo e do Sarião (Is 35,2). [...] Então, da tua alma saciada brotará um hino de louvor: «Dêem graças ao Senhor pelo Seu amor e pelas Suas maravilhas em favor dos homens. Pois Ele deu de beber aos que tinham sede e matou a fome aos famintos» (Sl 107,8-9). 

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sábado, 8 de dezembro de 2012

A Restauração e a Imaculada Conceição



O início de Dezembro, é marcado por trazer à memória da nobre nação portuguesa dois dias de grande relevo para a história deste Povo-Nação. O primeiro dia de Dezembro recorda-nos a Restauração da Independência, em 1640, e a chegada ao trono de D. João IV, depois de 60 anos de domínio da coroa espanhola.
            Associado ao dia 01 de Dezembro e a todo o movimento da Restauração está o dia 08 de Dezembro, momento em que não só recordamos a coroação de Nossa Senhora, sob o título da Imaculada Conceição, pelo então rei de Portugal, D. João IV, como também meditamos o dogma da Imaculada Conceição de Maria definido pelo papa Pio IX, em 1854.
            Desde os primeiros tempos da nacionalidade que os governantes portugueses têm dispensado grande atenção ao culto da Virgem Santa Maria. Atenção essa que vincula não só uma identidade cultural, mas também uma espiritualidade de um Povo, manifestada ao longo dos anos.
            A justificação, para este facto, poderá ter diversas interpretações à luz da História. O certo é que, o gesto da coroação de Nossa Senhora da Conceição, por D. João IV, na conjuntura político-social da época, é interpretado, pela ciência histórica, não só como uma expressão de Fé, como também, a busca pela legitimidade do poder quer junto do Povo português, quer perante a comunidade internacional, a começar pela Santa Sé. A este propósito diz-nos António H. de Oliveira Marques, que a Santa Sé recusou-se terminantemente a reconhecer a secessão de Portugal.[1] Na verdade, em Portugal, o clero estava dividido. Curas locais e monges humildes parece terem apoiado o duque de Bragança. Dentro das altas hierarquias já o panorama se apresentava muito diferente. Os bispos estavam irremediavelmente divididos quanto às suas tendências políticas.[2]
D. João IV, como novo monarca português não gozava por certo de uma posição invejável. Todo o seu reinado (1640-56) foi uma sucessão de desaires na diplomacia europeia e uma situação pouco próspera na economia interna, só compensados por meia dúzia de triunfos militares em Portugal que impediram uma invasão espanhola em larga escala.[3] Na verdade é errado, pensar-se que o período restauracionista português é um tempo pacifico. Em bom rigor, a este respeito António H. de Oliveira Marques revela-nos que em Junho de 1641 foi descoberta  uma conspiração contra o rei, onde participavam algumas das melhores famílias da aristocracia. Também intervieram na conspiração membros da burguesia, da alta burocracia e do alto clero. Registaram-se outras conspirações; menos ameaçadoras talvez, mas ainda assim reveladoras de certo descontentamento contra o regime.[4] Para além disto a guerra da Restauração mobilizou todos os esforços que Portugal podia depender.[5]
Como podemos perceber, Portugal era um país que vivia um clima de alguma instabilidade, em que o “novo-Rei” teria de ser o garante da estabilidade, o restabelecimento da independência e o factor emergente para a consolidação de um novo regime na Nação agora restaurada.
Na verdade, embora a Coroação de Nossa Senhora da Conceição, como padroeira e rainha de Portugal, em 25 de Março de 1646, em Lisboa, fosse por parte do poder uma procura para confirmar e dar-lhe legitimidade, importa ressalvar que existe aqui uma expressão de Fé, por parte do Rei e da parte do próprio Povo. Por isso o Rei procura que “todas as cidades, vilas e lugares de seus reinos tomassem por Padroeira a Virgem Nossa Senhora da Conceição”.[6]
Assim, em 1646, a Universidade de Coimbra, jura a fidelidade ao dogma da Imaculada Conceição, bem como em 1654, a pedido de El-Rei, as Câmaras de todas as cidades portuguesas mandaram afixar nas portas das respectivas muralhas, lápides alusivas à consagração de Portugal a Nossa Senhora.[7]
A confirmação da eleição de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, surge de Roma, pelo breve Eximia dilectissimi, de 08 de Maio de 1671.
De tal modo a Imaculada Conceição caracteriza a espiritualidade dos portugueses, que durante séculos o dia 08 de Dezembro foi celebrado como "Dia da Mãe" e João Paulo II incluiu no seu inesquecível roteiro da Visita Pastoral de 1982 dois Santuários que unem o Norte e o Sul de Portugal: Vila Viçosa no Alentejo e o Sameiro no Minho. O dia 08 de Dezembro transcende o "Dia Santo" dos Católicos e engloba indubitavelmente a comemoração da Independência de Portugal, que o dia 01 de Dezembro retoma. O feriado do dia 08 de dezembro é religioso, mas é também celebrativo da cultura, da tradição e da espiritualidade da alma e da identidade do povo português.[8]
                josé miguel martins serrão


[1] MARQUES, A. H. de Oliveira, “História de Portugal: Do Renascimento às Revoluções Liberais”, vol. II, Editorial Presença, Lisboa 1998, pág. 188
[2] MARQUES, A. H. de Oliveira, “História de Portugal: Do Renascimento às Revoluções Liberais”, vol. II, Editorial Presença, Lisboa 1998, pág. 185 e 186
[3] MARQUES, A. H. de Oliveira, “História de Portugal: Do Renascimento às Revoluções Liberais”, vol. II, Editorial Presença, Lisboa 1998, pág. 186
[4] MARQUES, A. H. de Oliveira, “História de Portugal: Do Renascimento às Revoluções Liberais”, vol. II, Editorial Presença, Lisboa 1998, pág. 188
[5] MARQUES, A. H. de Oliveira, “História de Portugal: Do Renascimento às Revoluções Liberais”, vol. II, Editorial Presença, Lisboa 1998, pág. 189
[6] VASCONCELOS, António Garcia Ribeiro de, “O Mysterio da Immaculada Conceição e a Universidade de Coimbra”, Coimbra 1904, pág. 92, in Simão Pedro Aguiã, “A Virgem Maria: Padroeira e Rainha de Portugal e de todos os povos de língua portuguesa”, Civilização Editora, Porto 1996, pág. 115
[7] AGUIÃ, Simão Pedro, “A Virgem Maria: Padroeira e Rainha de Portugal e de todos os povos de língua portuguesa”, Civilização Editora, Porto 1996, pág. 119.

[8] COUTO, Francisco e COELHO, Francisco Senra, “Fé e Cultura: A Imaculada Conceição e a História de Portugal”, in http://www.snpcultura.org/imaculada_conceicao_e_historia_portugal.html, 12/09/2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Hino do séc. IX para o Advento

Que o sol, os astros, a terra e os mares
Ressoem solenemente a chegada do Deus altíssimo;
Que o rico e o pobre unam seus cantos
Para celebrar o Filho do Criador supremo!


O Seu nascimento precede a estrela da manhã:
É o Salvador outrora prometido a nossos pais,
O fruto glorioso de uma Virgem,
O Filho do Deus poderoso.


É o Rei de glória
Que devia vir reinar sobre os reis,
Esmagar sob Seus pés o inimigo cruel
E curar o mundo doente.


Que também os anjos rejubilem; 
Que todos os povos estremeçam de alegria:
O Todo-Poderoso vem em humildade
Para salvar o que estava perdido. [...]


Elevem os profetas suas vozes e profetizem:
Emanuel já está próximo de nós!
Solte-se a língua dos mudos
E vós, coxos, correi ao Seu encontro (cf Is 7,14; 35,6). [...]


Todas as nações e ilhas,
Aclamai este grande triunfo.
Vinde, correi como os cervos:
Eis que chega o Redentor.


Que os olhos dos cegos,
Até aqui fechados à luz,
Aprendam então a romper as trevas da noite
Para se abrirem à verdadeira luz. [...]


Louvor, honra, poder e glória
A Deus Pai e ao Filho
Na unidade do Espírito Santo
Pelos séculos dos séculos!

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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Da Beata Teresa de Calcutá, religiosa

Todos nós devemos consagrar tempo ao silêncio e à contemplação, especialmente se vivemos em grandes cidades como Londres e Nova Iorque, onde só há agitação. Foi por isso que eu decidi abrir a nossa primeira casa de irmãs contemplativas, cuja vocação é rezar durante a maior parte do dia, em Nova Iorque e não nos Himalaias, porque senti que são as cidades que mais precisam de silêncio e de contemplação.


Começo sempre a minha oração pelo silêncio, porque é no silêncio do coração que Deus fala. Deus é o amigo do silêncio: devemos escutar Deus, porque não são as nossas palavras que contam, mas o que Ele nos diz e o que Ele diz através de nós. A oração alimenta a alma: o que o sangue é para o corpo, é a oração para a alma. Ela aproxima-nos de Deus; dá-nos um coração purificado e limpo. Um coração puro pode ver a Deus (Mt 5,8), falar com Ele e ver o Seu amor na pessoa de cada um dos nossos irmãos. Se o vosso coração é puro, sois transparentes diante de Deus, não dissimulais nada, e Ele pode retirar do vosso coração o que quiser. 

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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Das Homilias de Bento XVI, papa

Queridos amigos [...], temos de redescobrir a alegria do domingo cristão. Temos de redescobrir com orgulho o privilégio de poder participar na Eucaristia, que é o sacramento do mundo renovado. A ressurreição de Cristo aconteceu no primeiro dia da semana, que nas Escrituras é o dia da criação do mundo. Precisamente por isto o domingo era considerado pela comunidade cristã dos primeiros tempos como o dia em que teve início o novo mundo, aquele no qual, com a vitória de Cristo sobre a morte, começou a nova criação. Recolhendo-se em volta da mesa eucarística, a comunidade ia-se modelando como novo povo de Deus.


Santo Inácio de Antioquia qualificava os cristãos como «aqueles que alcançaram a nova esperança», e apresentava-os como pessoas «que vivem segundo o domingo (iuxta dominicam viventes)».  Nesta perspectiva o Bispo antioqueno perguntava: «Como poderemos viver sem Aquele pelo qual também os profetas esperaram?» (Epist. ad Magnesios,  9, 1-2) «Como poderemos viver sem Ele?» Sentimos ressoar nestas palavras de Santo Inácio a afirmação dos mártires de Abitene: «Não podemos viver sem o domingo (Sine dominico non possumus)». Precisamente disto brota a nossa oração: que também os cristãos de hoje reencontrem a consciência da importância decisiva da celebração dominical e saibam tirar da participação na Eucaristia o estímulo necessário para um novo compromisso no anúncio ao mundo de Cristo, «nossa paz» (Ef 2, 14). Amém!

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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Das Meditações de Santo Afonso Maria Ligório, bispo

Tenhamos em conta que, depois de tantos séculos, tantos suspiros e orações, o Messias que nem os patriarcas nem os profetas viram, o «Desejado das nações» (Ag 2,7 Vulg.), o Desejo das colinas eternas, o nosso Salvador, veio por fim: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Is 9,5). O Filho de Deus fez-Se pequenino para nos dar a Sua grandeza; deu-Se a nós, para que nos demos a Ele; veio testemunhar-nos o Seu amor, para que correspondamos com o nosso. Acolhamo-Lo com afecto, amemo-Lo, recorramos a Ele em todas as nossas necessidades. [...]


Jesus veio sob a forma de uma criança, para nos mostrar o Seu grande desejo de nos cumular de todos os Seus bens. Ora «n'Ele estão escondidos todos os tesouros» (Col 2,3); Seu Pai celeste «tudo colocou nas Suas mãos» (cf Jo 3,35; 13,3). Queremos a luz? Ele veio iluminar-nos. Queremos mais força, para resistir aos nossos inimigos? Ele veio fortificar-nos. Queremos o perdão e a salvação? Ele veio perdoar-nos e salvar-nos. Queremos, enfim, o dom supremo, o dom do amor divino? Ele veio incendiar os nossos corações. Foi sobretudo para isso que Ele Se tornou menino: quis mostrar-Se-nos num estado de tal pobreza e humildade para [...] banir todo o medo e melhor ganhar o nosso afecto. [...] Todas as crianças suscitam o afecto de quem olhe para elas; quem, pois, não amaria com extrema ternura um Deus que contempla como menino, alimentado com um pouco de leite, tremendo de frio, pobre, desprezado, desamparado, a chorar e a gemer numa manjedoura, deitado sobre a palha? Este espectáculo levou São Francisco a exclamar: «Amemos o Menino de Belém!» Vinde, almas cristãs, vinde amar um Deus feito criança, tornado pobre por vós, um Deus todo amor, descido do céu para Se nos dar inteiramente. 

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

De Santo Ambrósio, bispo de Milão

Ouviste a voz do Verbo, a Palavra de Deus. [...] Levanta-te e prepara o fundo da tua alma pela oração. Vai de baixo para cima, esforça-te por abrir a porta do teu coração. Quando ergueres as mãos para Cristo, as tuas acções exalarão o perfume da fé. [...]


Eis como Cristo te desejou, eis como te escolheu. Se te abrires para Ele, Ele entrará; não deixará de o fazer pois prometeu-o. Abraça então Aquele que procuraste (Ct 3,4); aproxima-te d'Ele e receberás a Sua luz (Sl 33,6); demora-O, pede-Lhe que não Se vá embora tão depressa, suplica-Lhe que não Se afaste. Com efeito, a palavra de Deus corre rapidamente (Sir 43,5), não se deixa prender pela frouxidão, a preguiça não a detém. Que a tua alma, à Sua chamada, vá ao Seu encontro e persevere no caminho traçado pela Sua palavra celeste, pois Ele passa rapidamente. [...]


No caso de Ele Se ter ido embora muito depressa, não penses que Lhe desagradaste por tê-Lo chamado e Lhe teres implorado, abrindo-te a Ele: Ele permite muitas vezes que sejamos postos à prova. Quando as multidões Lhe pediam para não Se ir embora, que diz Ele nos Evangelhos? «Tenho também de anunciar a Boa Nova do Reino de Deus às outras cidades, pois para isso é que fui enviado» (Lc 4,43). Portanto, mesmo que Ele pareça ter partido, continua a procurar (cf Ct 5,6). [...] Quem procura Cristo desta maneira, quem assim implora, não é abandonado por Ele; mais, Ele vem visitá-lo com frequência, pois está connosco até ao fim do mundo (Mt 28,20). 

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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dos Sermões de Basílio de Selêucia, bispo

André foi o primeiro dos apóstolos a reconhecer o Senhor como seu mestre [...]; deixou o ensinamento de João Baptista para frequentar a escola de Cristo. [...] À luz da lâmpada (Jo 5,35), procurava a luz verdadeira; sob o seu brilho incerto, acostumou-se ao esplendor de Cristo. [...] De mestre que era, João Baptista tornou-se servo e arauto de Cristo, presente diante dele: «Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1:29). Aqui está Aquele que livra da morte; aqui está Aquele que destrói o pecado. Eu não fui enviado como esposo, mas como aquele que o acompanha (Jo 3,29). Eu vim como servo e não como senhor.


Tocado por estas palavras, André deixa o seu antigo mestre e precipita-se para Quem ele anunciava. [...] Precipita-se para o Senhor, o seu desejo é evidente no seu empenho [...], e traz consigo o evangelista João; os dois deixam a lâmpada para avançarem em direcção ao Sol. André é a primeira planta do jardim dos apóstolos, é ele que abre a porta ao ensinamento de Cristo, é ele o primeiro a colher os frutos do campo cultivado pelos profetas. [...] Ele foi o primeiro a reconhecer Aquele de quem Moisés disse: «O Senhor teu Deus suscitará em teu favor um profeta saído das tuas fileiras, um dos teus irmãos, como eu: é a ele que escutarás» (Dt 18,15). [...] Ele reconheceu Aquele que os profetas anunciaram, e levou até ele o seu irmão Pedro. Mostrou a Pedro o tesouro que este ainda não conhecia: «Encontrámos o Messias» (Jo 1,41), Aquele que desejávamos. Esperávamos a Sua vinda: vem agora desfrutar da Sua presença. [...] André levou seu irmão a Cristo [...]; foi seu primeiro milagre.

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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Dos Discursos de Santo Agostinho, bispo de Hipona

«Então, todas as árvores da floresta saltarão de alegria diante do Senhor, porque Ele vem para julgar a terra» (Sl 95,12-13). O Senhor veio da primeira vez e virá de novo. Veio da primeira vez «sobre as nuvens» (Mt 26,64), na Sua Igreja. Que nuvens O trouxeram? Os apóstolos, os pregadores. [...] Veio da primeira vez trazido pelos Seus pregadores e encheu toda a terra. Não oponhamos resistência à Sua primeira vinda, se não queremos temer a segunda [...]
 
  
Que deve pois fazer o cristão? Aproveitar este mundo mas não o servir. Em que consiste tal atitude? Em «possuir como se não se possuísse». É o que diz S. Paulo: «Irmãos, o tempo é breve. [...] Desde já, aqueles que choram seja como se não chorassem, os que são felizes, como se o não fossem, os que compram, como se nada possuíssem, os que tiram proveito deste mundo, como se não se aproveitassem dele. Porque este mundo, tal como o vemos, vai passar. Quereria ver-vos livres de toda a preocupação» (1Co 7,29-32). Quem está livre de toda a preocupação espera com segurança a vinda do seu Senhor. Será que se ama o Senhor quando se receia a Sua vinda? Meus irmãos, não nos envergonhamos disso? Amamo-Lo e receamos a Sua vinda? Amamo-Lo verdadeiramente ou amamos mais os nossos pecados? Odiemos pois os nossos pecados e amemos Aquele que há-de vir. [...]


«Todas as árvores da floresta saltarão de alegria diante do Senhor, porque Ele vem» da primeira vez [...] «Todas as árvores da floresta saltarão de alegria diante do Senhor, porque Ele vem» para julgar a terra, Então, encontrará cheios de alegria, «porque Ele vem», todos os que tiverem acreditado na Sua primeira vinda.

in evangelhoquotidiano.org

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Dos Sermões de Santo Ambrósio, bispo de Milão

Em que é que os julgamentos de Deus são justos? No sentido em que é pelo esforço e pelas dificuldades que chegamos à recompensa do céu. Assim como, pelo julgamento dos homens, é atribuída a coroa de um prémio aos atletas que lutam, assim também a palma da vitória é concedida pelo juízo de Deus aos cristãos que combatem (cf 1 Cor 9,25). «Ao que vencer, farei que se sente Comigo no meu trono» diz o Senhor (Ap 3,21).


Tal como a prata se purifica pelo fogo, assim também a nossa vida é provada pelo fogo, a fim que a força da nossa virtude se manifeste nos combates. [...] Na verdade, fazemos alguma coisa de especial louvando a Deus no bem-estar, quando nada de desagradável nos perturba? O que é admirável é louvares o juízo de Deus no meio de dificuldades e aflições, não te revoltares nas privações, não permitires que estas te impeçam de louvar a Sua justiça. Quanto maior for a provação, maior o consolo que te está reservado. No entanto, para não caíres, quanto mais estiveres exposto às rudes dificuldades, mais deverás rezar ao Verbo de Deus para que te dê forças.

in evangelhoquotidiano.org

terça-feira, 27 de novembro de 2012

De Santa Teresa Benedita da Cruz, carmelita

Já na Antiga Aliança havia uma certa compreensão do carácter eucarístico da oração. A prodigiosa construção da Tenda da Aliança (cf Ex 25ss), tal como mais tarde a do Templo de Salomão (cf 1Rs 5-6), é imagem de toda a Criação agrupando-se em torno do seu Senhor para O adorar e servir. [...] Da mesma forma que, segundo a narração da Criação, o céu foi desdobrado como um toldo (cf Sl 104 [103],2), assim também a Tenda foi constituída por painéis de tecido; do mesmo modo que as águas que estavam sob o firmamento foram separadas das que estavam por cima (cf. Gn 1,7), assim também o véu do Templo separava o Santo dos Santos dos espaços envolventes. [...] O candelabro de sete braços era igualmente símbolo dos luzeiros do céu, tal como cordeiros e pássaros representavam a abundância de seres vivos que habitam as águas, os solos e os ares. E do mesmo modo que a terra foi confiada ao homem (cf Gn 1, 28), cabia ao Sumo Sacerdote permanecer no Santuário (Lv 21,10ss). [...]


Em lugar do Templo de Salomão, Cristo edificou um templo de pedras vivas (cf 1Pe 2,5), a comunhão dos santos, no centro do qual Ele permanece como Sumo Sacerdote eterno e sobre cujo altar é Ele próprio o sacrifício oferecido eternamente. E desta liturgia é participante toda a Criação: os frutos da terra, a ela associados em misteriosa oferenda, assim como as flores, as lâmpadas, as tapeçarias e o reposteiro do templo, o sacerdote consagrado, a unção e a bênção da casa de Deus.


Nem sequer os querubins estão ausentes, eles cujas figuras esculpidas montavam guarda ao Santo dos Santos: agora são os monges que, semelhantes aos anjos, não cessam de louvar a Deus dia e noite, na terra como no céu. [...] Os seus cânticos de louvor convidam desde a aurora toda a Criação a enaltecer em uníssono o Senhor: montanhas e colinas, rios e cursos de água, mares e terra firme e tudo o que aí habita, nuvens e ventos, chuva e neve, todos os povos da terra, homens de todas as raças e condições, habitantes do Céu, todos os Santos e Anjos de Deus (cf Dn 3, 57-90). [...] Devemos associar-nos, na nossa liturgia, a este louvor eterno de Deus. Nós, quem? Não apenas os religiosos regulares [...], mas todo o povo cristão.

in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Do B. Tiago Alberione, presbítero

Depois, de iniciada a Família Paulista, introduziu nela este costume: somente o adaptou à necessidade especial dando lugar à devoção a São Paulo, Apóstolo e ao Mestre Divino, que resume toda a devoção a Jesus Cristo; consideramo-lo: criança no presépio, operário em Nazaré, doutor na vida pública, crucificado para a redenção, eucaristia no sacrário, coração amante nos dons prodigalizados à humanidade.

A devoção à Rainha dos Apóstolos foi também inculcada primeiramente no seminário: estavam sob o seu patrocínio as conferências de pastoral (1910-1915), a aula de sociologia, os primeiros passos dos neo-sacerdotes no ministério. Maria é co-apóstola como é co-redentora.

(Abundante Divitiae Gratiae Suae, nº 180 e 181)

domingo, 25 de novembro de 2012

Na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Cidade do Vaticano (RV) - Jesus é rei, mas de que modo? Seu agir e suas palavras não deixam dúvidas: seu reino não é como os homens entendem. Ele é um rei diferente.
Em primeiro lugar, para tê-lo como rei é necessário que as pessoas tenham fé e exatamente por isso sejam comprometidas com ele. É uma adesão profunda à sua pessoa e ao seu modo de ser: pacificador, libertador, servidor a ponto de dar sua vida em favor de seus súditos.
Ele nos diz no versículo 37 do Evangelho de hoje: “..nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade”, e a verdade aí significa “fidelidade plena”. Portanto Jesus é rei para nos testemunhar até o fim, através da cruz, que o amor de Deus é fiel, que é dom de vida para as pessoas. Em seguida Jesus fala: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Ser da verdade significa reconhecer a fidelidade de Deus e aderir ao serviço de proclamá-la, se necessário com o sacrifício da própria vida, como Jesus.
A segunda leitura, tirada do Apocalipse, diz que “Jesus é a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos”. Jesus confirma a fidelidade do Pai e sua primazia em ser o primeiro dos homens novos, da nova humanidade, descentralizada de si mesma, mas voltada para o serviço, para a luta pela dignidade do ser humano, mesmo que para isso tenha de se sacrificar.
Concluindo nossa reflexão, celebrar Jesus Cristo, Rei do Universo, não é celebrar um poder que subjuga pessoas e se faz servir, mas, pelo contrário, é celebrar um rei que respeita e adora Deus-Pai e, por isso mesmo, coloca-se a seu serviço, no serviço do ser humano, lutando para que este seja mais fraterno, mais parecido com o próprio Deus. Ser súdito de Cristo é deixar-se elevar à dignidade de filho de Deus, de companheiro do Rei. É deixar os andrajos de escravo e revestir-se das vestes reais da justiça, da verdade e da paz.

in news.va

sábado, 24 de novembro de 2012

Do Catecismo da Igreja Católica

Desde o início que a fé cristã na ressurreição tem sido alvo de incompreensões e oposições. «Não há nenhum outro tema da fé cristã que seja objecto de mais contradição do que a ressurreição da carne» (Santo Agostinho). É muito comummente aceite que, após a morte, a vida da pessoa humana continue de forma espiritual. Mas como acreditar que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar para a vida eterna?


O que é «ressuscitar»? Na morte, a separação da alma e do corpo, o corpo do homem entra em corrupção enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser reunida com o seu corpo glorificado. Deus Todo-Poderoso dará definitivamente a vida incorruptível ao nosso corpo, unindo-o à nossa alma através do poder da ressurreição de Jesus.


Quem ressuscitará? Todos os homens que morreram: «Os que tiverem praticado boas obras sairão, ressuscitando para a vida, e os que tiverem praticado o mal hão-de ressuscitar para a condenação» (Jo 5,29).


Como? Cristo ressuscitou com o Seu próprio corpo: «Vede as Minhas mãos e os Meus pés ; sou Eu mesmo» (Lc 24,39); mas Ele não regressou a uma vida terrena. Do mesmo modo, n' Ele «todos ressurgirão com o próprio corpo que têm agora» (Concílio de Latrão IV), mas esse corpo será «tornado conforme ao Seu corpo glorioso» (Fl 3,21), um «corpo espiritual» (1Co 15,44). «Mas dirá alguém: Como ressuscitam os mortos? Com que espécie de corpo voltam eles? Insensato! O que semeias não toma vida se primeiro não morrer. E o que semeias não é o corpo que há-de vir, mas um simples grão de trigo, por exemplo. [...] Semeia-se na corrupção e ressuscita-se na incorrupção [...]; os mortos ressuscitarão incorruptíveis. [...] É necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, e que este corpo mortal se revista de imortalidade» (1Cor 15,35-53). Este «como» ultrapassa a nossa imaginação e a nossa compreensão; só é acessível pela fé. Mas a nossa participação na Eucaristia dá-nos já um antegosto da transfiguração do nosso corpo por Cristo: «Assim como o pão que vem da terra, depois de ter recebido a invocação de Deus, não é mais pão comum mas Eucaristia, constituída por duas realidades, uma terrena e a outra celeste, da mesma forma o nosso corpo que participa da Eucaristia deixa de ser corruptível, pois têm a esperança da ressurreição» (Santo Ireneu)


Quando? Definitivamente, «no último dia» (Jo 6,39-40), «no fim do mundo». Com efeito, a ressurreição dos mortos está intimamente associada à Parusia de Cristo.

in evangelhoquotidiano.org