sexta-feira, 29 de junho de 2012

Do Catecismo da Igreja Católica

A Igreja é católica: a palavra «católica» significa «universal» no sentido de «segundo a totalidade» ou «segundo a integralidade» «A Igreja é católica em duplo sentido: é católica porque nela Cristo está presente. 'Onde está Cristo Jesus, está a Igreja católica'.» (Santo Inácio de Antioquia); nela subsiste a plenitude do Corpo de Cristo unido à sua Cabeça (Ef 1,22-23). [...] Neste sentido fundamental, a Igreja era católica no dia de Pentecostes e sê-lo-á sempre, até o dia da Parusia.


Ela é católica porque é enviada em missão por Cristo à universalidade do género humano (Mt 28,19). «Todos os homens são chamados a pertencer ao novo Povo de Deus. Por isso este Povo, permanecendo uno e único, deve estender-se a todo o mundo e por todos os tempos, para que se cumpra o desígnio da vontade de Deus, que no início formou uma natureza humana e finalmente decretou congregar os Seus filhos que estavam dispersos». (Vaticano II, LG 13). [...]


Cada igreja particular é católica. [...] Essas Igrejas particulares «são formadas à imagem da Igreja universal; é nelas e a partir delas que existe a Igreja católica una e única» (LG 23). As Igrejas particulares são plenamente católicas pela comunhão com uma delas: a Igreja de Roma, «que preside à caridade» (Santo Inácio de Antioquia). «Pois com esta Igreja, em razão da sua origem mais excelente, deve necessariamente concordar cada Igreja, isto é, os fiéis de toda a parte» (Santo Ireneu). [...] A rica variedade de disciplinas eclesiásticas, de ritos litúrgicos, de patrimónios teológicos e espirituais próprios das Igrejas locais «mostra mais luminosamente a catolicidade da Igreja indivisa, devido à sua convergência na unidade» (LG 23).

in evangelho quotidiano.org

Na Solenidade de São Pedro e São Paulo, apóstolos

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja

O dia de hoje é para nós dia sagrado, porque nele celebramos o martírio dos apóstolos São Pedro e São Paulo. Não falamos de mártires desconhecidos. A sua voz ressoou por toda a terra e a sua palavra até aos confins do mundo. Estes mártires deram testemunho do que tinham visto: seguiram a justiça, proclamaram a verdade, morreram pela verdade.
São Pedro é o primeiro dos Apóstolos, ardentemente apaixonado por Cristo, aquele que mereceu ouvir estas palavras: E Eu te digo que tu és Pedro. Antes dissera ele: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo. E Cristo respondeu-lhe: E Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Sobre esta pedra edificarei Eu a mesma fé de que tu dás testemunho. Sobre a mesma afirmação que tu fizeste: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo, edificarei Eu a minha Igreja. Porque tu és Pedro. «Pedro» vem de «pedra»; não é «pedra» que vem de «Pedro». «Pedro» vem de «pedra», como «cristão» vem de «Cristo».
O Senhor Jesus, antes da sua paixão, escolheu, como sabeis, os discípulos a quem chamou Apóstolos. Entre estes, só Pedro mereceu representar em toda a parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus. Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja única. Assim se manifesta a superioridade de Pedro, porque ele representava a universalidade e unidade da Igreja, quando lhe foi dito: Dar-te-ei. Era-lhe atribuído nominalmente o que a todos foi dado. Com efeito, para que saibais que a Igreja recebeu as chaves do reino dos Céus, ouvi o que o Senhor diz noutro lugar a todos os seus Apóstolos: Recebei o Espírito Santo. E logo a seguir: Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.
No mesmo sentido, também depois da ressurreição, o Senhor confiou a Pedro o cuidado de apascentar as suas ovelhas. Na verdade, não foi só ele, entre os discípulos, que recebeu a missão de apascentar as ovelhas do Senhor. Mas, referindo-se Cristo a um só, quis insistir na unidade da Igreja. E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque entre os Apóstolos, Pedro é o primeiro.
Não estejas triste, ó Apóstolo. Responde uma vez, responde outra vez, responde pela terceira vez. Vença por três vezes a tua profissão de amor, já que três vezes o temor venceu a tua presunção. Tens de soltar por três vezes o que por três vezes ligaste. Solta por amor o que ligaste pelo temor. E assim, uma vez e outra vez e pela terceira vez, o Senhor confiou a Pedro as suas ovelhas.
Num só dia celebramos o martírio dos dois Apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só; embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; seguiu-o Paulo. Celebramos a festa deste dia para nós consagrado com o sangue dos dois Apóstolos. Amemos e imitemos a sua fé e a sua vida, os seus trabalhos e sofrimentos, o testemunho que deram e a doutrina que pregaram.

 (Sermão 295, 1-2.4.7-8: PL 38, 1348-1352) (Sec. V)
in Liturgia das Horas

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Do Tratado de Santo Ireneu, bispo, «Contra as heresias»

A glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus.
Participam da vida os que vêem a Deus, porque é o esplendor de Deus que dá a vida. Por isso, Aquele que é inacessível, incompreensível e invisível, torna-Se visível, compreensível e acessível para os homens, a fim de dar vida aos que O alcançam e vêem. Porque é impossível viver sem a vida; e não há vida sem a participação de Deus, participação que consiste em ver a Deus e gozar da sua bondade.
Portanto, os homens hão-de ver a Deus para poderem viver; por esta visão tornam-se imortais e chegam até à posse de Deus. Isto foi anunciado pelos Profetas, de modo figurado, como disse há pouco: Deus será visto pelos homens que possuem o seu Espírito e aguardam sempre a vinda do Senhor. Assim diz também Moisés no Deuteronómio: Nesse dia veremos, porque Deus falará ao homem e o homem viverá.
Deus, que realiza tudo em todos, é invisível e indescritível, quanto ao seu poder e à sua grandeza, para os seres por Ele criados. Mas não é desconhecido, porque todos sabemos, por meio do seu Verbo, que há um só Deus Pai que abrange todas as coisas e a tudo dá existência, como está escrito no Evangelho: Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai no-l’O deu a conhecer.
Quem desde o princípio nos dá a conhecer o Pai é o Filho, porque desde o princípio está com o Pai: as visões proféticas, a diversidade de graças, os ministérios, a glorificação do Pai, tudo isto, como uma sinfonia bem composta e harmoniosa, Ele o manifestou aos homens, no tempo próprio, para seu proveito. Porque onde há composição há harmonia; onde há harmonia tudo sucede no tempo próprio; e quando tudo sucede no tempo próprio, há proveito.
Por isso o Verbo tornou-Se o administrador da graça do Pai, para proveito dos homens, em favor dos quais Ele pôs em prática a sua tão sublime economia da graça, mostrando Deus aos homens e apresentando o homem a Deus. Manteve, no entanto, a invisibilidade do Pai, para que o homem se conserve sempre reverente para com Deus e tenha um estímulo para o qual deve progredir; mas, ao mesmo tempo, mostrou também que Deus é visível aos homens por meio da economia da graça, para não suceder que o homem, privado totalmente de Deus, chegasse a perder a sua própria existência. Porque a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus. Com efeito, se a manifestação de Deus, através da criação, dá a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá vida a todos os que vêem a Deus.

 (Livro 4, 20, 5-7: SC 100, 640-642.644-648) (Sec. II)
in Liturgia das Horas

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Das Cartas de São Cirilo de Alexandria, bispo

Muito me admiro de que haja quem duvide se efectivamente a Virgem Santíssima deve ser chamada Mãe de Deus. Na verdade, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo é que a Virgem Santíssima, que O deu à luz, não há-de ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, embora não usassem esta mesma expressão. Assim nos ensinaram também os santos Padres. Em particular Santo Atanásio, nosso pai na fé, de ilustre memória, no livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, na terceira dissertação a cada passo dá à Santíssima Virgem o título de Mãe de Deus.
Sinto-me obrigado a citar aqui as suas próprias palavras, que são do teor seguinte: «A Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem como finalidade e característica afirmar de Cristo, nosso Salvador, estas duas coisas: que é Deus e nunca deixou de o ser, uma vez que é o Verbo do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós Se fez homem, assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus».
E continua assim pouco mais adiante: «Houve muitos que foram santos e livres de todo o pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno; e também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria, ao ouvir a voz de Maria, Mãe de Deus». Estas palavras são de um homem inteiramente digno de fé, a quem podemos seguir com toda a confiança, pois seria incapaz de pronunciar uma só palavra contrária à Escritura divina.
E de facto a Escritura, inspirada por Deus, afirma que o Verbo Se fez carne, isto é, Se uniu a uma carne dotada de uma alma racional. Por conseguinte, o Verbo de Deus assumiu a descendência de Abraão e, ao formar para Si um corpo vindo de uma mulher, fez-Se participante da carne e do sangue. Deste modo, já não é somente Deus, mas também homem semelhante a nós, em virtude da sua união com a nossa natureza.
Portanto o Emanuel, Deus-connosco, consta de duas realidades: divindade e humanidade. Mas é um só Senhor Jesus Cristo, um só verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao mesmo tempo Deus e homem. Não é apenas um homem divinizado, como aqueles que pela graça se tornam participantes da natureza divina; mas é verdadeiro Deus que, por causa da nossa salvação, Se fez visível em forma humana, como também testemunha São Paulo com estas palavras: Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sob o jugo da Lei e nos tornar seus filhos adoptivos. 

(Epist. 1: PG 77, 14-18.27-30) (Sec. V)
in Liturgia das Horas

terça-feira, 26 de junho de 2012

Da Regra de São Bento, monge, co-padroeiro da Europa

Ao procurar no meio da multidão um trabalhador ao qual lance o Seu convite, o Senhor diz: «Quem quer a vida e deseja conhecer dias felizes?» (Sl 33,13) Se, ao ouvires isto responderes: «Eu!», Deus diz-te: «Se queres ter a vida, a verdadeira vida eterna, protege a tua língua do mal, e que os teus lábios não digam palavras enganadoras. Afasta-te do mal e faz o bem, procura a paz e persegue-a» (Sl 33,14-15). [...] Não há para nós, irmãos muito queridos, coisa tão doce como esta voz do Senhor que nos convida. Eis que, na Sua bondade, o Senhor nos indica o caminho da vida. Tendo, pois, cingido os nosso rins (Ef 6,14) da fé e da prática de boas obras, sob a direcção do Evangelho, avancemos nos Seus caminhos, para merecermos ver Aquele que nos chamou ao Seu Reino (1Tess 2,12). Se queremos habitar nas tendas deste Reino, a menos que nelas entremos pelas boas obras, não chegaremos lá de outra forma. Com o profeta, interroguemos o Senhor e digamos-Lhe: «Senhor, quem habitará na Vossa tenda? Quem repousará na Vossa montanha santa?» (Sl 14,1) Depois desta pergunta, irmãos, escutemos o Senhor a responder-nos, mostrando-nos o caminho. [...]


Vamos, portanto, estabelecer uma escola de serviço do Senhor, onde esperamos não estabelecer nada de rigoroso, nada de esmagador. Mas, se te aparecer alguma coisa um pouco mais severa, exigida por uma razão de justiça com vista à correcção dos vícios e à manutenção da caridade, não abandones imediatamente, tocado pelo medo, o caminho da salvação, onde temos de passar pela porta estreita. Para além do mais, graças aos progressos da vida e da fé, de coração dilatado na inefável doçura do amor, corremos na via dos mandamentos de Deus (Sl 118,32). Assim, não nos afastando nunca dos Seus ensinamentos e perseverando na Sua doutrina [...] até à morte, participaremos pela paciência nos sofrimentos de Cristo (1Pe 4,13), para merecermos participar também no Seu Reino.

in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Das Encíclicas do Papa Bento XVI

O amor — «caritas» — é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projecto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projecto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (cf. Jo 8, 32).


A caridade é amor recebido e dado; é «graça» («cháris»). A sua nascente é o amor fontal do Pai pelo Filho no Espírito Santo. É amor que, pelo Filho, desce sobre nós. É amor criador, pelo qual existimos; amor redentor, pelo qual somos recriados. Amor revelado e vivido por Cristo (cf. Jo 13, 1), que é «derramado em nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5). Destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade.


A esta dinâmica de caridade recebida e dada, propõe-se dar resposta a doutrina social da Igreja. Tal doutrina é [...] proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade; é serviço da caridade, mas na verdade. [...] O desenvolvimento, o bem-estar social, uma solução adequada dos graves problemas socioeconómicos que afligem a humanidade precisam desta verdade. Mais ainda, necessitam que tal verdade seja amada e testemunhada. Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a actividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade, sobretudo numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os actuais. 

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domingo, 24 de junho de 2012

No Domingo XII do Tempo Comum e Solenidade do Nascimento de São João Baptista

Da Liturgia Bizantina

Neste dia vem ao mundo o grande Percursor,
fruto do seio da estéril Isabel.
É o maior entre os profetas;
nenhum outro surgiu como ele (Mt 11,11),
pois ele é a candeia (Jo 5,35) que antecede de perto a claridade suprema
e a voz (Mt 3,3) que precede o Verbo.
Ele conduz a Cristo a Igreja, Sua noiva (Jo 3,29),
e prepara para o Senhor um povo escolhido,
purificando-o com a água, aguardando o Espírito.


De Zacarias nasce essa planta jovem,
a mas bela entre os filhos do deserto,
o arauto do arrependimento,
o que purifica pela água (Lc 3,16) os que se transviavam,
que leva, como percursor (Lc 1,17), o anúncio da ressurreição
até à casa dos mortos (Mc 6,28),
e que intercede pelas nossas almas.


Desde o seio de tua mãe, bem-aventurado João,
tu foste o profeta e o percursor de Cristo:
estremeceste de alegria
vendo a Rainha vir até junto da serva,
levando a ti Aquele que o Pai gera sem mãe desde toda a eternidade (Lc 1,40),
tu, que nasceste de uma mulher estéril e dum velho,
segundo a promessa do Senhor (Lc 1,13)
pede-Lhe para ter piedade das nossas almas. 

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sábado, 23 de junho de 2012

Dos Escritos Espirituais de São Rafael Arnaiz Baron, monge trapista espanhol

Em nome do Deus santo, tomo hoje a pena para que as minhas palavras, que se imprimem sobre a folha branca, sirvam de louvor perpétuo ao Deus bendito, autor da minha vida, da minha alma, do meu coração. Gostaria que o universo inteiro, com os planetas, todos os astros e os inúmeros sistemas estelares, fosse uma imensa extensão, polida e brilhante, onde eu pudesse escrever o nome de Deus. Gostaria que a minha voz fosse mais potente que mil trovões, mais forte que o estrépito do mar, e mais terrível que o bramido dos vulcões, para dizer apenas: Deus! Gostaria que o meu coração fosse tão grande como o céu, puro como o dos anjos, simples como o da pomba (Mt 10,16), para nele pôr Deus! Mas, dado que toda esta grandeza com que sonhaste não se pode tornar realidade, contenta-te com pouco e contigo, que não és nada, Irmão Rafael, porque o nada deve bastar-te [...].


Por quê calar? Por que escondê-lO? Por que não gritar ao mundo inteiro e bradar aos quatro ventos as maravilhas de Deus? Por que não dizer às pessoas e a todos os que quiserem entender: vêem o que sou? Vêem o que fui? Vêem a minha miséria que se arrasta na lama? Pouco importa: maravilhem-se; apesar de tudo, possuo Deus. Deus é meu amigo! Deus ama-me, a mim, com tal amor que, se o mundo inteiro o compreendesse, todas as criaturas ficariam loucas e bramiriam de assombro. Mas isso ainda é pouco. Deus ama-me tanto, que nem os próprios anjos o compreendem! (cf 1P 1,12) A misericórdia de Deus é grande! Amar-me, a mim, ser meu Amigo, meu Irmão, meu Pai, meu Senhor, sendo Ele Deus, e eu o que sou!


Ah, meu Jesus, não tenho nem papel, nem pena. Que posso dizer! Como não enlouquecer?

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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Dos Sermões de São Cesário de Arles, monge e bispo

Deus aceita as nossas ofertas de dinheiro e apraz-lhe que dêmos aos pobres, mas com esta condição: que todo o pecador, quando oferecer a Deus o seu dinheiro, ofereça também a alma. [...] Quando o Senhor diz: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (Mc 12, 17), que quererá Ele dizer, senão: «Tal como dais a César, nas moedas de prata, a sua imagem em efígie, dai também a Deus, em vós mesmos, a imagem de Deus» (cf Gn 1, 26)?


Assim, e como já bastas vezes dissemos, quando distribuirmos dinheiro aos pobres, ofereçamos a nossa alma a Deus de forma a que, onde estiver o nosso dinheiro, possa também estar o nosso coração. De facto, por que nos pede Deus que demos dinheiro? É seguramente porque sabe que lhe temos um apreço especial e que não deixamos de pensar nele; e porque sabe que, onde tivermos o dinheiro, teremos também o coração. Eis porque Deus nos exorta a construir tesouros no céu através de dádivas feitas aos pobres; é para que o nosso coração vá até onde tivermos enviado o tesouro e para que, quando o sacerdote disser: «Corações ao alto», possamos responder de consciência tranquila: «O nosso coração está em Deus».

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

De uma carta de São Luís Gonzaga a sua mãe

A graça e a consolação do Espírito Santo estejam sempre convosco. A vossa carta encontrou-me ainda vivo na região dos mortos; mas agora espero ir em breve louvar a Deus eternamente na região dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo. Se a caridade, segundo São Paulo, ensina a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que estão alegres, muito grande deve ser a alegria de Vossa Senhoria, pela graça que Deus Vos concede na minha pessoa, chamando-me à verdadeira alegria e dando-me a segurança de O não poder perder jamais.
Confesso-vos, ilustríssima Senhora, que me perco e arrebato na contemplação da divina bondade, mar sem praia e sem fundo, que me chama a um descanso eterno por um trabalho tão breve e pequeno; que me convida e chama ao Céu para aí me dar aquele soberano bem que tão negligentemente procurei, e que me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.
Por conseguinte, ilustríssima Senhora, considerai bem e ponde todo o cuidado em não ofender esta bondade de Deus, como certamente aconteceria se viésseis a chorar como morto aquele que vai viver na contemplação de Deus e que maiores serviços vos fará com as suas orações do que em esta terra vos prestava. A nossa separação será breve; lá no Céu nos tornaremos a ver; lá seremos felizes e viveremos para sempre juntos, porque estaremos unidos ao nosso Redentor, louvando-O com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as suas misericórdias. Se Deus toma novamente o que nos tinha dado, não o faz senão para o colocar em lugar mais seguro e ao abrigo de qualquer perigo, e para nos dar aqueles bens que acima de tudo desejamos.
Digo tudo isto para que Vós, Senhora minha Mãe, e toda a família, aceiteis a minha morte como um dom precioso da graça. A vossa bênção de mãe me assista e me ajude a alcançar com felicidade o porto dos meus desejos e esperanças. Escrevo-vos com tanto maior prazer quanto é certo que não me resta outra ocasião para vos testemunhar o respeito e o amor filial que vos devo.

 (Acta sanctorum, Junho, 5, 878) (Sec. XVI)
in Liturgia das Horas

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Do Livro «Sobre o modo de bem viver», atribuído a Tomás do Montefrio, monge

A vida activa é a inocência das boas obras; a vida contemplativa é a aspiração dos bens superiores. A vida activa é para muita gente; a contemplativa é para poucos. A vida activa é o bom uso dos bens terrenos; a contemplativa é a alegria de viver só para Deus.
A vida activa é dar pão aos famintos, ensinar ao próximo a palavra da sabedoria, corrigir os que erram, chamar os soberbos ao caminho da humildade, reconduzir os desavindos à concórdia, visitar os enfermos, sepultar os mortos, libertar os presos e os cativos, socorrer a todos os que precisam de ajuda, prover cada qual do que lhe é necessário.
A vida contemplativa é consagrar-se de todo o coração à caridade para com Deus e para com o próximo, recolher-se da actividade exterior para se entregar exclusivamente às alegrias do Criador, de tal modo que, prescindindo de todos os cuidados do mundo, o espírito nada mais procure senão inflamar-se no desejo de ver a face de Deus; na vida contemplativa, aprende a alma a suportar com paciência o peso da carne corruptível e deseja ardentemente tomar parte no cântico dos coros angélicos, ansiando por entrar na convivência dos cidadãos do Céu e gozar da eterna imortalidade na presença de Deus.
A vida activa serve a Deus nos trabalhos deste mundo: acolhe os pobres e veste-os; dá-lhes comida e bebida; visita-os e consola-os; dá-lhes sepultura e pratica todas as outras obras de misericórdia.
Há duas espécies de contemplativos: uns vivem vida comunitária nos mosteiros; outros levam vida eremítica, isolados de toda a gente.
Mas é mais feliz e perfeita a vida contemplativa do que a vida activa. Assim como a águia, fixando os olhos nos raios do sol, não se volta senão para buscar alimento para o seu corpo, assim os santos se voltam, de vez em quando, da vida contemplativa à vida activa, considerando que, embora aquela seja mais sublime e benéfica, precisam no entanto, em certa medida, destes bens inferiores.
Os homens santos saem, de quando em quando, da intimidade da contemplação para a vida activa; mas voltam novamente, para louvar a Deus no recolhimento do espírito, onde recebem a força interior que lhes permite trabalhar cá fora para a glória do Senhor.
E assim como é da vontade de Deus que os contemplativos se voltem, algumas vezes, da vida contemplativa à vida activa para utilidade do próximo, também é da vontade de Deus que, outras vezes, ninguém os inquiete, para que possam repousar na intimidade suavíssima da contemplação. 

(125-128: PL 184, 1276-1278) (Sec. XII)
in Liturgia das Horas

terça-feira, 19 de junho de 2012

Da Bem-aventurada Teresa de Calcutá, fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Todos sabemos que há um Deus que nos ama e que nos fez. Podemos voltar-nos
para Ele e pedir-Lhe: «Meu Pai, ajuda-me agora. Quero ser santo, quero ser
bom, quero amar». A santidade não é um luxo destinado a uma elite; ela não
está reservada só a alguns. Estamos destinados a ela, tu, eu e toda a
gente. É uma tarefa simples porque, se aprendermos a amar, aprendemos a ser
santos.


A primeira etapa é querê-lo. Jesus quer que nós sejamos santos como o Seu
Pai é santo. A minha santidade consiste no cumprimento da vontade de Deus
na alegria. Dizer : «Quero ser santo» significa: «Vou despojar-me de tudo o
que não é Deus. Vou despojar-me e esvaziar o meu coração de todas as coisas
materiais. Vou renunciar à minha vontade, aos meus gostos, às minhas
fantasias, à minha inconstância; tornar-me-ei um escravo generoso da
vontade de Deus. Com toda a minha vontade vou amar Deus, vou escolher em
Seu favor, vou correr para Ele, vou chegar até Ele e vou possuí-Lo». Mas
tudo depende destas palavrinhas: «Eu quero» ou «Eu não quero». Devo aplicar
toda a minha energia nestas palavras: «Eu quero».



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segunda-feira, 18 de junho de 2012

De São Cipriano, bispo de Catrágo e mártir

«Suportai-vos uns aos outros no amor, esforçando-vos por manter a unidade
do espírito mediante o vínculo da paz» (Ef 4,2). Não é possível manter a
unidade e a paz, se os irmãos não se encorajarem uns aos outros para o
apoio mútuo, mantendo um bom entendimento graças à paciência. [...]


Perdoar ao irmão que nos ofende, não só setenta vezes sete vezes, mas todas
as faltas, amar os inimigos, rezar pelos adversários e pelos perseguidores
(Mt 5,39.44; 18,22) – como chegar aí se não formos firmes na paciência e na
benevolência? É o que vemos em Estêvão [...]: em vez de pedir a vingança,
pediu o perdão para os seus carrascos, dizendo: «Senhor, não lhes imputes
este pecado» (Ac 7,60). Eis o que fez o primeiro mártir de Cristo [...],
que se tornou, não só pregador da Paixão do Senhor, mas também imitador da
Sua paciente doçura.


Que dizer da cólera, da discórdia, da rivalidade? Que não têm lugar entre
os cristãos. A paciência deve preencher o seu coração; nele não se
encontrará nenhum destes males. [...] O apóstolo Paulo avisa-nos: «Não
entristeçais o Espírito Santo de Deus [...]: fazei desaparecer da vossa
vida tudo o que é amargura, raiva, cólera, gritos ou insultos» (Ef
4,30-31). Se o cristão foge dos assaltos da nossa natureza caída como de um
mar em fúria, e se estabelece no porto de Cristo, na paz e na calma, não
deve admitir no seu coração nem a cólera nem a desordem. Não lhe é
permitido pagar o mal com o mal (Rm 12,17), nem conceber o ódio.



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domingo, 17 de junho de 2012

Em Domingo XI do Tempo Comum

Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo de Ravena, doutor da Igreja

Irmãos, ouvistes que o Reino dos céus, em toda a sua grandeza, é parecido a
um grão de mostarda. [...] É apenas isto que os crentes esperam? É isto que
os fiéis aguardam? [...] É isto «o que o olho não viu, nem o ouvido ouviu,
nem jamais veio ao coração do homem»? É isto que o apóstolo Paulo promete,
e que está reservado no mistério inexprimível da salvação àqueles que amam?
(1Cor 2,9) Não nos deixemos desconcertar pelas palavras do Senhor. Se, de
facto, «a fraqueza de Deus é mais forte do que o homem, e a loucura de Deus
é mais sábia do que o homem» (1 Cor 1,25), essa pequena coisa que é o bem
de Deus é mais esplêndida do que a imensidão do mundo.


Possamos nós semear no nosso coração esta semente de mostarda, de modo que
ela venha a ser a grande árvore do conhecimento (Gn 2,9), elevando-se em
toda a sua altura para elevar os nossos pensamentos para o céu, e
desenvolvendo todos os ramos da inteligência. [...]


Cristo é o Reino. Como se fosse um grão de mostarda, ele foi lançado num
jardim, o corpo da Virgem. Cresceu e tornou-Se a árvore da cruz que cobre a
terra inteira. Depois de ter sido esmagado pela Paixão, o Seu fruto
produziu sabor suficiente para dar o Seu bom gosto e o Seu aroma a todos os
seres vivos que n'Ele tocam. Pois, enquanto a semente de mostarda está
intacta, as suas virtudes permanecem ocultas, mas desenvolvem toda a sua
pujança quando a semente é esmagada. Da mesma forma, Cristo quis que o Seu
corpo fosse esmagado para que a sua força não ficasse oculta. [...] Cristo
é Rei, porque é a fonte de toda a autoridade. Cristo é o Reino, pois n'Ele
está toda a glória do Seu reino. 



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sábado, 16 de junho de 2012

Dos Livros de São João Eudes, presbítero, pregador, fundador de institutos religiosos

De entre as festas dedicadas a Virgem Maria, a que celebra o seu coração é
como o coração e a rainha das outras, pois o coração é a sede do amor e da
caridade. Qual a razão desta solenidade? O coração desta singular e
amadíssima Filha do Pai Eterno; o coração da Mãe de Deus; o coração da
Esposa do Santo Espírito; o coração da excelente Mãe de todos os fiéis. É
um coração ardente de amor para com Deus, totalmente inflamado de caridade
por nós.


Todo ele é amor por Deus, porque nada mais amou a não ser Deus, e o que
Deus queria que amasse n'Ele e por Ele. Todo ele é amor, porque a
bem-aventurada Virgem Maria sempre amou a Deus com todo o coração, toda a
sua alma e todas as suas forças (Mc 12,30). Todo ele é amor porque, para
além de Maria sempre ter querido tudo o que Deus queria e nunca o que Ele
não queria, foi sempre com grande júbilo que voluntariamente cumpriu a
amável vontade do Senhor.


Este coração é amor puro por nós todos. Ela ama-nos com o mesmo amor com
que ama a Deus, porque é Deus que Ela vê em nós e que em nós ama. E ama-nos
com o mesmo amor com que ama o Homem Deus, seu filho Jesus. Porque Ela sabe
que Ele é o nosso chefe, a nossa cabeça, e que nós somos os Seus membros
(Col 2,19) e, consequentemente, que somos um só com Ele.


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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Dos Comentários de São Columbano, monge, fundador de mosteiros
 
 Irmãos, sigamos o nosso chamamento: somos chamados pela Vida à fonte da
vida; esta fonte não é apenas fonte «de água viva» (Jo 4,10), mas da vida
eterna, fonte de luz e de claridade. Com efeito, dela vêm todas as coisas:
sabedoria, vida e luz eterna. [...] Senhor, és Tu mesmo esta fonte, sempre
e para sempre desejável, e da qual nos é sempre permitido e sempre
necessário aurir. «Dá-nos sempre, Senhor Jesus, desta água» para que,
também em nós, ela se torne uma fonte de água «a jorrar para a vida eterna»
(Jo 4,15.14). É verdade: peço-Te demasiado, como negá-lo? Mas Tu, Rei da
glória, sabes dar grandes coisas e Tu mesmo as prometeste. Nada é maior do
que Tu e é a Ti próprio que nos dás, foste Tu que Te deste por nós.


É por isso que é a Ti que pedimos [...] porque não queremos receber senão a
Ti mesmo. Tu és o nosso tudo: a nossa vida, a nossa luz e a nossa salvação,
a nossa comida e a nossa bebida, o nosso Deus. Inspira os nossos corações,
suplico-Te, ó Jesus nosso; pelo sopro do Teu Espírito, abençoa as nossas
almas com o Teu amor, para que cada um de nós possa dizer com verdade:
«Vistes Aquele que o meu coração ama?» (Ct 3,3), porque foi com o Teu amor
que fui ferido.


Desejo que essas feridas estejam em mim Senhor. Feliz da alma a quem o amor
assim fere ─ a alma que procura a fonte, a que bebe e que, no
entanto, não cessa de ter sempre sede, mesmo bebendo, nem de ir sempre em
busca dela pelo seu desejo, nem de sempre beber, na sua sede. É assim que
ela sempre busca amando, pois encontra a cura na sua própria ferida.


in evangelhoquotidiano.org

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Da Primeira Regra de S. Francisco de Assis, fundador dos Frades Menores

Todos os irmãos terão o cuidado de não caluniar ninguém, de evitar palavras
de discussão. Pelo contrário, tentem guardar silêncio enquanto o Senhor
lhes der a graça para isso. Não discutirão entre si nem com outras pessoas
mas esforçar-se-ão por responder humildemente: «Somos servos inúteis» (Lc
17,10). Não se irritarão: «Quem se irritar contra o seu irmão será réu
perante o tribunal; quem lhe chamar 'imbecil' será réu diante do Conselho;
e quem lhe chamar 'louco' será réu da Geena do fogo». Amar-se-ão uns aos
outros, conforme a palavra do Senhor: «O que vos mando é que vos ameis uns
aos outros como Eu vos amei» (Jo 15,12). Por actos testemunharão o amor que
devem ter uns pelos outros, conforme as palavras do apóstolo João: «Não
amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» (1Jo
3,18).


Não ultrajarão ninguém; não difamarão, não denegrirão ninguém; porque está
escrito que o Senhor odeia os «bisbilhoteiros e os maldizentes»; devem ser
modestos, «mostrando sempre amabilidade para com todos os homens,» (Tt 3,2;
Rm 1,29-30). Não devem julgar nem condenar, como diz o Senhor (Lc 6,37).
Não julgarão nem os mais pequenos pecados dos outros, mas reflectirão sobre
os seus próprios pecados na amargura do seu coração (cf. Is 38,15).
Esforçar-se-ão por entrar pela «porta estreita», pois, diz o Senhor:
«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos
tentarão entrar sem o conseguir» (Lc 13,24; Mt 7,13-14).


in evangelhoquotidiano.org

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dos Sermões de Santo António, presbítero e doutor da Igreja

Quem está cheio do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, como a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamo-las, quando mostramos aos outros estas virtudes na nossa vida. A linguagem é viva, quando falam as obras. Cessem, portanto, as palavras e falem as obras. De palavras estamos cheios, mas de obras vazios; por este motivo nos amaldiçoa o Senhor, como amaldiçoou a figueira em que não encontrou fruto, mas somente folhas. Diz São Gregório: «Há uma norma para o pregador: que faça aquilo que prega». Em vão pregará os ensinamentos da lei, se destrói a doutrina com as obras.
Mas os Apóstolos falavam conforme a linguagem que o Espírito Santo lhes concedia. Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme o que lhe parece!
Há alguns que falam movidos pelo próprio espírito e, usando as palavras dos outros, apresentam-nas como próprias, atribuindo-as a si mesmos. Desses e de outros como eles, fala o Senhor pelo profeta Jeremias: Eis-Me contra os profetas que roubam uns aos outros as minhas palavras. Eis-Me contra os profetas, oráculo do Senhor, que forjam a sua linguagem para proferir oráculos. Eis-Me contra os profetas que profetizam sonhos mentirosos – oráculo do Senhor – e, contando-os, seduzem o povo com mentiras e jactância, não os tendo Eu enviado nem dado ordem alguma a esses que não são de nenhuma utilidade para este povo – oráculo do Senhor.
Falemos, por conseguinte, conforme a linguagem que o Espírito Santo nos conceder; e peçamos-lhe, humilde e devotamente, que derrame sobre nós a sua graça, para que possamos celebrar o dia de Pentecostes com a perfeição dos cinco sentidos e a observância do decálogo, nos reanimemos com o forte vento da contrição e nos inflamemos com essas línguas de fogo que são os louvores de Deus, a fim de que, inflamados e iluminados nos esplendores da santidade, mereçamos ver a Deus trino e uno.




(I, 226) (Sec. XIII)
in Liturgia das Horas

terça-feira, 12 de junho de 2012

Do Sermão atribuído a S. Máximo de Turim, bispo

O Senhor disse aos Seus apóstolos: «Vós sois a luz do mundo». Como são
justas as comparações que o Senhor emprega para designar os nossos pais na
fé! Chama-lhes «sal», a eles que nos ensinam a sabedoria de Deus, e «luz»,
a eles que afastam dos nossos corações a cegueira e as trevas da nossa
incredulidade. Mas é justo que os apóstolos recebam o nome de luz: eles
anunciam, na obscuridade do mundo, a claridade do céu e o esplendor da
eternidade. Não se tornou Pedro uma luz para o mundo inteiro e para todos
os fiéis quando disse ao Senhor: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo»? (Mt
16,16) Que maior claridade teria o género humano podido receber do que
ficar a saber por Pedro que o Filho de Deus vivo era o criador da sua luz?


E São Paulo não é uma luz menor para o mundo: enquanto toda a terra estava
cega pelas trevas da maldade, ele subiu ao céu (2Co 12,2) e, no seu
regresso, revelou os mistérios do esplendor eterno. Foi por isso que não
pôde, nem esconder-se, tal como uma cidade fundada no alto duma montanha,
nem deixar que o escondessem, pois Cristo, pela luz da Sua majestade,
tinha-o incendiado como uma candeia cheia do óleo do Espírito Santo. Por
isso, bem-amados, se, renunciando às ilusões deste mundo, queremos procurar
o sabor da sabedoria de Deus, provemos o sal dos apóstolos.



in evangelhoquotidiano.org

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Dos Tratados de São Cromácio, bispo, sobre o Evangelho de São Mateus

Vós sois a luz do mundo. Não se pode ocultar uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, e assim brilhe para todos os que estão em casa. O Senhor chamou aos seus discípulos sal da terra, porque eles deviam condimentar, por meio da sabedoria celeste, os corações dos homens que o demónio tornara insensatos. E também lhes chama luz do mundo, porque, iluminados por Ele, que é a luz verdadeira e eterna, se tornaram também eles uma luz que brilha nas trevas.
O Senhor é o Sol de justiça; é com toda a razão, portanto, que chama aos seus discípulos luz do mundo, porque é por meio deles que irradia sobre o mundo inteiro a luz da sua própria ciência; com efeito, eles afugentaram do coração dos homens as trevas do erro, manifestando a luz da verdade.
Iluminados por eles, também nós passámos das trevas à luz, como diz o Apóstolo: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; vivei como filhos da luz. E noutro passo: Não sois filhos da noite nem das trevas, mas sois filhos da luz e filhos do dia.
Com razão diz também São João numa sua Epístola: Deus é luz; e quem permanece em Deus está na luz, como também Ele próprio está na luz. Portanto, uma vez que temos a felicidade de estar libertos das trevas do erro, devemos andar sempre na luz, como filhos da luz que somos. Por isso diz o Apóstolo: Vós brilhais entre eles como estrelas no mundo, ostentando a palavra da vida.
Se assim não fizermos, ocultaremos e obscureceremos com o véu da nossa infidelidade, para prejuízo tanto nosso como dos outros, uma luz tão útil e necessária. Eis a razão porque incorreu em castigo aquele servo que, recebendo o talento para o fazer dar juros no Céu, preferiu escondê-lo a colocá-lo no banco.
Por conseguinte, aquela lâmpada resplandecente, que foi acesa para nossa salvação, deve brilhar sempre em nós. Temos a lâmpada dos mandamentos de Deus e da graça espiritual, da qual afirmou David: O vosso mandamento é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos. E dela disse também Salomão: O preceito da lei é uma lâmpada.
Por isso é nosso dever não ocultar esta lâmpada da lei e da fé, mas colocá-la sempre no candelabro da Igreja para salvação de todos, a fim de gozarmos nós da luz da própria verdade e de serem iluminados todos os crentes.

 (Tract. 5, 1.3-4: CCL 9, 405-407) (Sec. IV)
in Liturgia das Horas

domingo, 10 de junho de 2012

No Domingo X do Tempo Comum

Do Bem-Aventurado João Paulo II
Encíclica «Dominum et vivificantem», § 46


Por que razão é a«blasfémia» contra o Espírito Santo imperdoável? Em que
sentido devemosentender esta «blasfémia»? São Tomás de Aquino responde que
se trata deum pecado «imperdoável pela sua própria natureza, porque exclui
aqueleselementos graças aos quais é concedida a remissão dos pecados».
Segundotal exegese, a «blasfémia» não consiste propriamente em ofender o
Espírito Santo com palavras; consiste, antes, na recusa de aceitar a
salvação que Deus oferece ao homem mediante o mesmo Espírito Santo, queage
em virtude do sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita estedeixar-se
«convencer quanto ao pecado», que provém do Espírito Santo etem carácter
salvífico, rejeita contemporaneamente a «vinda» doConsolador: aquela
«vinda» que se efectuou no mistério da Páscoa, emunião com o poder
redentor do Sangue de Cristo, o Sangue que «purifica aconsciência das
obras mortas».


Sabemos que o fruto destapurificação é a remissão dos pecados. Por
conseguinte, quem rejeita oEspírito e o Sangue permanece nas «obras
mortas», no pecado. E a«blasfémia contra o Espírito Santo» consiste
exactamente na recusaradical desta remissão de que Ele é o dispensador
íntimo, e que pressupõea conversão verdadeira, por Ele operada na
consciência. Se Jesus diz queo pecado contra o Espírito Santo não pode ser
perdoado, nem nesta vidanem na futura, é porque esta «não-remissão» está
ligada, como à suacausa, à «não-penitência», isto é, à recusa radical da
conversão.


A blasfémia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelohomem, que
reivindica o seu pretenso «direito» de perseverar no mal — emqualquer
pecado — e recusa por isso mesmo a Redenção. O homem ficafechado no
pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão etambém,
consequentemente, a remissão dos pecados, que considera nãoessencial ou
não importante para a sua vida. É uma situação de ruínaespiritual, porque
a blasfémia contra o Espírito Santo não permite aohomem sair da prisão em
que ele próprio se fechou.

in evangelho quotidiano.org

sábado, 9 de junho de 2012

Dos Sermões de Santo Efrém, diácono e doutor da Igreja

Fazei resplandecer, Senhor, o dia luminoso da vossa ciência e dissipai as trevas nocturnas da nossa alma, para que seja iluminada e Vos sirva renovada e pura. O nascer do sol assinala aos mortais o começo das suas labutas: adornai, Senhor, a morada da nossa alma, para que nela permaneça o esplendor daquele dia que não tem fim. Fazei, Senhor, que cheguemos a contemplar em nós mesmos a vida da ressurreição e que nada consiga apartar o nosso espírito das vossas alegrias. Imprimi, Senhor, em nossos corações o sinal daquele dia que não se rege pelo movimento do sol, infundindo-nos uma constante orientação para Vós.
Todos os dias Vos abraçamos nos sacramentos e Vos recebemos no nosso corpo: tornai-nos dignos de sentir em nós mesmos a ressurreição que esperamos. Com a graça do Baptismo conservamos escondido no nosso corpo o tesouro que nos destes, esse tesouro que aumenta na mesa dos vossos sacramentos: fazei-nos viver sempre na alegria da vossa graça. Possuímos, Senhor, em nós mesmos o memorial que recebemos da vossa mesa espiritual: concedei-nos a graça de possuirmos, na renovação futura, a realidade plena que ele nos recorda.
Nós Vos pedimos que, através daquela beleza espiritual que a vossa vontade imortal faz resplandecer mesmo nas criaturas mortais, nos leveis a compreender rectamente a beleza da nossa própria dignidade.
A vossa crucifixão, ó Salvador dos homens, foi o termo da vossa vida corporal: concedei-nos que, pela crucifixão do nosso espírito, alcancemos o penhor da vida espiritual. A vossa ressurreição, ó Jesus, faça crescer em nós o homem espiritual e os sinais dos vossos sacramentos no-lo revelem como num espelho, para o conhecermos cada vez melhor.
Na economia da vossa salvação, ó Salvador dos homens, está configurada a imagem do mundo espiritual: concedei que nele corramos como homens espirituais.
Não priveis, Senhor, a nossa mente da vossa revelação espiritual, nem afasteis dos nossos membros o calor da vossa suavidade. A natureza mortal, que se oculta no nosso corpo, leva-nos à corrupção da morte: infundi em nossos corações o vosso amor espiritual, para que afaste de nós os efeitos da mortalidade. Concedei, Senhor, que caminhemos velozmente para a nossa pátria celeste e, como Moisés no alto do monte, a possamos desde já contemplar através da revelação.

 (Sermão 3, Sobre o fim e a exortação, 2.4-5.
Ed. Lamy, 3, 216-222) (Sec. IV)

in Liturgia das Horas

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Dos Exercícios de Santa Gertrudes de Helfta, freira beneditina

Quem é semelhante a Ti, meu Senhor Jesus Cristo, meu doce amor, tão imenso
e grandioso, e que atende às coisas mais humildes (Sl 112,6)? Quem entre os
deuses é como Tu, ó Senhor (Ex 15,11), Tu que escolheste as coisas fracas
deste mundo (1 Co 1,27)? Quem é como Tu, que fizeste os céus e a terra
[...], e queres encontrar as Tuas delícias com os filhos dos homens (Prov
8,31)? Como é a Tua grandeza, ó Rei dos reis e Senhor dos senhores (1 Tim
6,15), Tu que comandas os astros e pões sobre o homem o Teu coração (Job
7,17)? Quem és Tu, que tens à Tua direita as riquezas e a glória (Prov
3,16)? [...] Ó amor, até onde abaixas a Tua majestade? Amor, aonde conduzes
a fonte da sabedoria (Prov 18,4)? Certamente até ao abismo da miséria.
[...]


«Vem, vem, vem»: eu venho, eu venho, eu venho a Ti, amoroso Jesus, que
tenho amado, procurado, desejado. Por causa da Tua bondade, da Tua
compaixão e do Teu amor, amando-Te com todo meu coração, com toda a minha
alma, com todas as minhas forças (Lc 10,27), eu me rendo ao Teu apelo.



in evangelhoquotidiano.org

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo

"Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco, mediante todas estas palavras." (Ex. 24, 3-8)

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Um convite à contemplação do Corpo e Sangue de Jesus presentes no pão e no vinho, que nos é proposto pela liturgia de hoje. Uma solenidade que foi introduzida pelo papa Urbano IV, no séc. XIII, a fim de dar importância à presença de Jesus Cristo na Eucaristia.

Na Liturgia da Palavra é nos feito recordar a Aliança de Deus com o Povo através dos Dez Mandamentos. Em Jesus Cristo temos esta Nova Aliança, que nos é recordada pela Eucaristia, pela presença real de Jesus Cristo, no Pão e no Vinho.

Na Primeira leitura, Moisés reúne o Povo e anuncia-lhes as palavras de Deus, levantando um altar e sacrificando animais, e posteriormente aspergindo o Povo com esse sangue.

No Evangelho, dá-nos a revelar a instituição da Eucaristia, em que Jesus Cristo nos oferece o seu Corpo e o seu Sangue no pão e no vinho. É próprio Jesus, que se imola, que vem ao nosso encontro para nos dar a Vida e a Vida em abundância.

Na Segunda leitura, São Paulo, na sua carta dirigida aos hebreus, apresenta Cristo como Sumo Sacerdote, que não oferece Sangue de animais, mas sim o próprio Sangue, para nos alcançar uma redenção eterna.

Nesta sequência, devemos como Cristãos, reflectir um pouco o modo de como estamos a viver a nossa Missa. O nosso encontro com Cristo na Eucaristia. Por vezes, vivemos fustigados e enterrados em rituais, quando uma só coisa é essencial: a oração e o diálogo de (re) encontro com o próprio Jesus, que vem ao nosso encontro pela Mesa da Eucaristia. E que muitas vezes nos passa completamente ao lado.

Cristo quer falar-nos... Escutamo-lO!

josé miguel


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Da Vida de São Norberto, bispo

Norberto foi um dos mais eficazes colaboradores na reforma gregoriana. Queria, primeiramente, que o clero fosse convenientemente preparado, dedicado a um ideal de vida genuinamente evangélica e apostólica, casto e pobre, que possuísse «ao mesmo tempo a veste e o ornamento do homem novo: aquela por meio do hábito religioso, este pela dignidade do sacerdócio», e que procurasse sempre «seguir as sagradas Escrituras e ter Cristo por guia». Três coisas costumava recomendar-lhe: «decoro no altar e nos ofícios divinos; emenda das faltas e negligências no capítulo conventual; solicitude e hospitalidade para com os pobres».
Ao lado dos sacerdotes, que no mosteiro faziam as vezes dos Apóstolos, colocou, a exemplo da Igreja primitiva, tão grande multidão de fiéis, leigos, homens e mulheres, que muitos afirmavam ninguém ter conseguido para Cristo, desde os tempos dos Apóstolos, tão grande número de imitadores na vida de perfeição e em tão breve tempo.
Tendo sido nomeado arcebispo, chamou os seus irmãos da sua Ordem para converter à fé a região dos Vénedos, e procurou reformar o clero da sua diocese, apesar da oposição e agitação do povo.
A sua maior preocupação foi consolidar e aumentar a harmonia entre a Sé Apostólica e o Império, salvaguardada porém a liberdade quanto às nomeações eclesiásticas. A este respeito escreveu-lhe o papa Inocêncio II: «A Sé Apostólica congratula-se muito sinceramente pela tua dedicação»; e o imperador nomeou-o chanceler do Império.
Tudo conseguiu movido pela fé mais intrépida. Dizia-se: «Em Norberto brilha a fé, como em Bernardo de Claraval a caridade». Distinguia-se, além disso, pela afabilidade no trato: «sendo grande entre os grandes e pequeno entre os pequenos, para com todos se mostrava amável». Enfim, era dotado de grande eloquência: contemplando e meditando assiduamente as realidades divinas, pregava com o maior desassombro «a palavra de Deus cheia de fogo, que queimava os vícios, estimulava as virtudes e enriquecia as almas bem dispostas com a sua sabedorias».

 (As palavras colocadas entre aspas são tiradas da Vida de S. Norberto, escrita por um cónego regrante Premonstratense: PL 170, 1262. 1269. 1294. 1295; Carta Apostólica de Inocêncio II dirigida a S. Norberto, de 7 de Junho de 1133, com selo de chumbo: Acta Sanctorum, 21, no Apêndice, p. 50)
in Liturgia das Horas

terça-feira, 5 de junho de 2012

Das Cartas de São Bonifácio, bispo e mártir

A Igreja é como um grande navio que navega pelo mar deste mundo. Sacudida pelas diversas ondas da adversidade nesta vida, não deve ser abandonada a si mesma, mas tem de ser governada.
Na primitiva Igreja temos o exemplo de Clemente e Cornélio e muitos outros na cidade de Roma, de Cipriano em Cartago, de Atanásio em Alexandria, os quais, sob o reinado dos imperadores pagãos, governaram a barca de Cristo, melhor, a sua dilectíssima esposa, que é a Igreja, ensinando-a, defendendo-a, passando trabalhos e sofrimentos até ao derramamento do sangue.
Ao pensar nestas figuras e noutras semelhantes, estremeço de receio; o temor e o terror apoderam-se de mim e quase me submergem as trevas dos meus pecados; e muito me agradaria abandonar de todo o leme da Igreja, se encontrasse precedentes semelhantes nos Padres ou na Sagrada Escritura.
Mas sendo assim, e dado que a verdade pode ser contestada, mas não vencida nem enganada, refugia-se a nossa alma fatigada n’Aquele que nos diz pela boca de Salomão: Tem confiança no Senhor com todo o teu coração e não confies na tua prudência. Em todos os teus caminhos pensa no Senhor e Ele dirigirá os teus passos. E noutro lugar: O nome do Senhor é uma torre fortíssima. Nela se refugia o justo e será salvo.
Permaneçamos firmes na justiça e preparemos as nossas almas para a provação; suportemos a dilação de Deus e digamos-lhe: Senhor, Vós Vos tornastes o nosso refúgio de geração em geração.
Confiemos n’Aquele que colocou sobre nós este fardo. Como o não podemos levar sozinhos, levemo-lo com o auxílio d’Aquele que é omnipotente e nos diz: O meu jugo é suave e a minha carga é leve.
Mantenhamo-nos firmes no combate no dia do Senhor, porque vieram sobre nós dias de angústia e de tribulação. Se Deus quiser, morramos pelas santas leis dos nossos antepassados, a fim de merecermos alcançar com eles a herança eterna.
Não sejamos cães mudos, não sejamos sentinelas silenciosas, não sejamos mercenários que fogem do lobo, mas pastores solícitos que velam pelo rebanho de Cristo, pregando toda a doutrina de Deus ao grande e ao pequeno, ao rico e ao pobre, a todas as classes e idades, enquanto Deus nos der forças, oportuna e importunamente, tal como São Gregório escreveu na sua Regra Pastoral.

 (Carta 78: MGH, Epistolae, 3, 352-354) (Sec. VIII)
in Liturgia das Horas

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo, presbítero em Antioquia, depois bispo de Constantinopla, doutor da Igreja

«Cristo confiou-nos o mistério da reconciliação» (2Co 5,18). São Paulo
realça a grandeza dos apóstolos ao mostrar-nos que mistério lhes foi
confiado, ao mesmo tempo que manifesta com que amor Deus nos amou. Depois
de os homens se terem recusado a ouvir Aquele que Ele lhes tinha enviado,
Deus não fez soar a Sua cólera, nem os rejeitou, mas persiste em chamá-los,
por Si próprio e através dos Apóstolos. [...]


«Deus pôs na nossa boca a palavra da reconciliação» (v. 19). Viemos
portanto, não para uma obra penosa, mas para fazer de todos os homens
amigos de Deus. Como não nos escutaram, diz-nos o Senhor, continuai a
exortá-los até que encontrem a fé. Eis por que razão São Paulo acrescenta:
«Nós somos embaixadores de Cristo; é o Próprio Deus que vos chama através
de nós. Suplicamos-vos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus». [...]


A que poderemos comparar tão grande amor? Depois de termos pagado estes
benefícios com insultos, longe de nos punir, Ele deu-nos o Seu Filho bem
amado, para nos reconciliar conSigo. No entanto, longe de quererem
reconciliar-se, os homens deram-Lhe a morte. Deus enviou outros
embaixadores para os exortar e, depois disso, torna-se Ele próprio
suplicante por eles. Continua a ser Ele que pede: «Reconciliai-vos com
Deus». Ele não diz: «Reconciliai Deus convosco», pois não é Ele que nos
rejeita; sois vós que recusais ser amigos d'Ele. Poderá Deus ter
sentimentos de ódio?»


in evangelhoquotidiano.org

sábado, 2 de junho de 2012

Na Solenidade da Santíssima Trindade

 «Recebestes o Espírito de adopção filial, pelo qual exclamamos: ‘Abbá, Pai’» (Rom 8, 14-17)

Somos convidados neste Domingo a contemplar o mistério da Santíssima Trindade. Enquanto crentes somos confrontados com este admirável e magnânime mistério da nossa Fé, que na oração do "Credo" professamos acreditar. O que é a Santíssima Trindade? Na verdade, uma comunidade de amor no Pai, no Filho e no Espírito Santo. E em bom rigor, é pelo amor que podemos procurar entender este mistério que reune o Amor do Pai, o Amor do Filho e o Amor do Espírito Santo.

A leitura do livro do Deuteronómio é uma retrospectiva pela História de como Deus não abandona o seu Povo, nesta história que é de Salvação e de Vida. Porque Ele é amor e porque nos ama, Ele quer-nos para si. Porém, dá-nos a liberdade, porque o amor é liberdade. Por isso as sombras da nossa vida são opções que fazemos, porque somos livres. Procuramos uma liberdade, sem Deus, quando este Deus é a Liberdade. Mas que Liberdade buscamos?

Diz-nos o Evangelho de hoje: Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos (Mt 28, 16-20). Um convite a ser testemunho de Jesus Cristo. Ser neste mundo, neste tempo, sinal de Deus juntos de todos os irmãos, crentes e não-crentes! Sem medo, de falar de Jesus Cristo! Os Cristãos não podem continuar encerrados em quatro paredes. É na Praça Pública que se fala de Jesus Cristo. Para isso temos de lhe abrir o coração! 

Quantas vezes Jesus Cristo não passa na nossa vida e nós, simplesmente, o rejeitamos? Quantas vezes está ao nosso lado e nós teimamos em lhe fechar o coração? Há dias ouvia esta frase: "A Igreja abriu-se ao Mundo, mas o Mundo fechou-se à Igreja!" A Igreja (ainda com as suas sombras, e as suas luzes) é a voz de Cristo que clama neste Mundo, mas teimamos em querer calar esta voz. Porquê? Porque teimamos fechar o coração à realidade de Deus, quando no fundo do nosso ser precisamos de Deus, como do pão para a boca...? Fechamos-Lhe a porta, mas gritamos por Deus! Porquê? Porém, a garantia é nos dada pelo próprio Jesus: Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos (Mt 28, 16-20). Não tenhamos medo!

O apóstolo São Paulo, confronta-nos neste dia: Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adopção filial, pelo qual exclamamos: «Abbá, Pai» (Rom 8, 14-17) Qual é o pai que abandona o seu filho? Assistimos, hoje, ao derrube da instituição familiar, à desarticulação desta comunidade basilar da Sociedade! Tudo se faz para o derrube  institucional da Família. E os efeitos aí estão traduzidos pela perda desse património imaterial da Humanidade que é o Amor. Temos medo, até, de falar do Amor. A crise de que tanto falamos, não está na economia ou na política. A crise de que tanto falamos está no déficit de Amor. Uma sociedade que tem déficit de Amor, como pode subsistir? É tempo de proclamar o Amor como Património Imaterial da Humanidade.

Deixar Jesus Cristo falar é determinante na vida do Homem. Vivemos com muita histeria à nossa volta... Seria tempo de fazer silêncio e deixar que Jesus Cristo fale-nos. O que nos tem Ele para nos dizer? Fica no ar, um certo abafar a voz de Cristo, que quer falar ao Homem... Afinal, quem anda com medo que Jesus Cristo fale ao Homem de hoje? Deixai Jesus Cristo falar...

josé miguel

Da Exortação ao martírio, de Orígenes, presbítero

Se da morte passámos para a vida ao passarmos da infidelidade para a fé, não nos admiremos de que o mundo nos odeie. Com efeito, quem não tiver passado da morte para a vida, mas permanece na morte, não pode amar aqueles que abandonaram a tenebrosa morada da morte, para entrar na morada feita de pedras vivas, onde brilha a luz da vida.
Jesus deu a sua vida por nós; portanto também nós devemos dar a vida, não digo por Ele, mas por nós, quero dizer, por aqueles que hão-de ser construídos, edificados, com o nosso martírio.
É chegado o tempo, ó cristão, de nos gloriarmos. Está escrito: Não só isso, mas gloriamo-nos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a constância, a constância uma virtude sólida, a virtude sólida a esperança; e a esperança não nos engana. Porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo.
Se do mesmo modo que abundam os sofrimentos de Cristo, assim também por Cristo abunda a consolação, recebamos com entusiasmo os sofrimentos de Cristo; e oxalá eles abundem em nós, se desejamos a consolação abundante, reservada a todos os que choram, embora não se possa dizer que seja em medida igual; porque se a consolação fosse em medida igual para todos, não estaria escrito: Do mesmo modo que abundam em nós os sofrimentos de Cristo, assim também abunda a nossa consolação.
Os que participam dos sofrimentos participarão também da consolação que Cristo dará em proporção com os sofrimentos suportados por amor d’Ele. É isto o que nos ensina aquele que afirmava cheio de confiança: Assim como participais nos sofrimentos, também participareis na consolação.
Diz também Deus por boca do Profeta: No tempo favorável Eu te ouvi e no dia da salvação Eu te ajudei. E que tempo mais favorável do que a hora em que, por causa do nosso amor a Deus em Cristo, somos publicamente levados sob custódia neste mundo, mais porém como triunfadores, do que como vencidos?
Na verdade, os mártires de Cristo, a Ele unidos, destroçam os principados e as potestades, com Cristo triunfam sobre eles; e, deste modo, tendo participado nos seus sofrimentos, tomam parte também nos merecimentos que Ele alcançou com a sua heróica fortaleza. Que outro dia de salvação haverá tão verdadeiro como aquele em que deste modo deixais a terra?
Suplico-vos que não deis a ninguém ocasião de escândalo, para que não seja desacreditado o nosso ministério; mas comportai-vos em tudo como ministros de Deus, com grande paciência. E dizei: E agora, que posso eu esperar? A minha esperança está no Senhor.

(Nn. 41-42: PG 11, 618-619) (Sec. III)
in Liturgia das Horas

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Das Actas do martírio de São Justino e dos seus companheiros

Aqueles homens santos foram presos e levados ao prefeito de Roma, chamado Rústico. Estando eles diante do tribunal, o prefeito Rústico disse a Justino: «Primeiramente, manifesta a tua fé nos deuses e obedece aos imperadores». Justino respondeu: «Não podemos ser acusados nem presos por obedecer aos mandamentos de Jesus Cristo, nosso Salvador».
Rústico perguntou: «Que doutrinas professas?». Justino disse: «Procurei conhecer todas as doutrinas, mas acabei por abraçar a doutrina verdadeira dos cristãos, embora ela não agrade àqueles que vivem no erro».
O prefeito Rústico inquiriu: «Que verdade é essa?». Justino explicou: «Adoramos o Deus dos cristãos, a quem consideramos como o único criador, desde o princípio, e artífice de toda a criação, das coisas visíveis e invisíveis; e adoramos o Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, de quem foi anunciado pelos Profetas que viria ao género humano como mensageiro da salvação e mestre da boa doutrina. E eu, porque sou homem e nada mais, considero insignificante tudo o que digo para exprimir a sua divindade infinita, mas reconheço o valor das profecias, que previamente anunciaram Aquele que afirmei ser o Filho de Deus. Sei que eram inspirados por Deus os Profetas que vaticinaram a sua vinda para o meio dos homens».
Rústico perguntou: «Portanto, tu és cristão?». Justino confirmou: «Sim, sou cristão».
O prefeito disse a Justino: «Ouve, tu que és tido por sábio e julgas conhecer a verdadeira doutrina: se fores flagelado e decapitado estás convencido de que subirás ao Céu?». Justino respondeu: «Espero entrar naquela morada, se tiver de sofrer o que dizes, pois sei que a todos os que viverem santamente lhes está reservada a recompensa de Deus até ao fim dos séculos».
O prefeito Rústico perguntou: «Então, tu supões que hás-de subir ao Céu, para receber algum prémio em retribuição?». Justino disse: «Não suponho, sei-o com toda a certeza».
O prefeito Rústico retorquiu: «Bem, deixemos isso e vamos à questão de que se trata, à qual não podemos fugir e é urgente. Aproximai-vos e todos juntos sacrificai aos deuses». Justino respondeu-lhe: «Não há ninguém que, sem perder a razão, abandone a piedade para cair na impiedade».
O prefeito Rústico continuou: «Se não fizerdes o que vos é mandado, sereis torturados sem compaixão». Justino disse: «Desejamos e esperamos chegar à salvação através dos tormentos que sofremos por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. O sofrimento garante-nos a salvação e dá-nos confiança perante o tribunal de nosso Senhor e Salvador, que é universal e mais terrível que o teu».
E os outros mártires disseram o mesmo: «Faz o que quiseres; porque nós somos cristãos e não sacrificamos aos ídolos».
O prefeito Rústico pronunciou então a sentença, dizendo: «Os que não quiseram sacrificar aos deuses e obedecer à ordem do imperador, sejam flagelados e conduzidos ao suplício, segundo as leis, para sofrerem a pena capital». Glorificando a Deus, os santos mártires saíram para o lugar do costume; e ali foram decapitados e consumaram o seu martírio, dando testemunho da fé no Salvador. 

(Cap. 1-5: cf. PG 6, 1566-1571) (Sec. II)
in Liturgia das Horas