quarta-feira, 30 de julho de 2008

Será uma morte anunciada...?

No último fim-de-semana deparei-me com uma realidade que gostaria de partilhar.
Estive em Coruche, (na minha terra-metade) sede do meu concelho como faço habitualmente.
Resolvi colocar a conversa em dia com alguém que conhece bem aquelas gentes.
Ora, durante este período de Verão é tempo de festas religiosas e populares e qual não é o meu espanto que vim a saber que são algumas terras que não irão ter a realização de algumas festas que já se realizavam há alguns anos.
Perguntei porquê?...
A resposta foi imediata: " Não há pessoas" (...) "As pessoas não se querem responsabilizar"
A estas palavras só pergunto:

Onde estão as pessoas?

O que está a acontecer ao associativismo?

Duas perguntas que quero deixar aos cientistas sociais da nossa sociedade.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

A dificuldade da Igreja no mundo actual

Tudo começa com um equívoco. Hoje, quando se fala da Igreja, é numa gigantesca instituição e nos seus altos e médios hierarcas que de facto se pensa: Papa, bispos, padres. Já se esqueceu que, no princípio, não era assim, pois Igreja significava a reunião das Igrejas, entendidas como assembleias dos cristãos congregados em nome de Jesus.

Foi com Constantino e Teodósio que tudo se modificou, quando o cristianismo se tornou religião oficial do Estado e a Igreja acabou por transformar-se numa instituição de poder. Desde então, de um modo ou outro, espreitou o perigo de esquecer a Igreja enquanto comunidade dos fiéis a Cristo, que caminha na fé e na tentativa de actualizar no mundo o reinado de Deus a favor de todos os homens e mulheres, sobretudo dos mais pobres e abandonados, para sublinhar sobretudo uma Igreja-instituição, hierarquizada e poderosa. Quem congrega é menos Jesus do que a hierarquia, e a fé está mais dirigida ao dogma do que à pessoa de Jesus e ao Deus salvador.

Depois, tenta-se o diálogo da Igreja com o mundo. Mas que pode entender-se por isso? Também a Igreja não é de facto mundo, embora mundo a partir de uma determinada visão? Pertencemos todos ao mesmo mundo, ainda que a partir de visões múltiplas e diversas. Mas, mesmo no pressuposto do diálogo, ele torna-se difícil, já que houve rupturas quase insanáveis. Pense-se, por exemplo, que até à década de 60 do século passado se manteve o Índex, isto é, o catálogo dos livros cuja leitura era proibida aos católicos. Aí figuravam não só muitos teólogos, mas também os pais da ciência e da filosofia modernas, figuras eminentes da história, da literatura e do direito: Copérnico e Galileu, Descartes e Pascal, Bayle, Malebranche e Espinosa, Hobbes, Locke e Hume, também Kant, evidentemente Rousseau e Voltaire, mais tarde, John Stuart Mill, Comte, os historiadores Condorcet, Ranke, Taine, igualmente Diderot e D'Alembert com a Encyclopédie e até o Dictionnaire Larousse, os juristas e filósofos do Direito Grotius, Von Pufendorf, Montesquieu, a nata da literatura moderna, de Heine, Vítor Hugo, Lamartine, Dumas pai e filho, Balzac, Flaubert, Zola, a Leopardi e D'Annunzio, entre os mais recentes, Bergson, Sartre e Simone de Beauvoir, Unamuno, Gide. Com o fim do Índex, não terminaram as censuras a dezenas de teólogos, entre os quais Hans Küng, Leonardo Boff, J. Masiá, Jon Sobrino. Como se a Igreja vivesse sob o reflexo do medo de quem ousa pensar.

As dificuldades são diversas, tanto ao nível da doutrina como da própria organização. O mundo moderno pôs em causa o princípio da simples autoridade vertical, mas a Igreja tem dificuldade em aceitar a dúvida e argumentar. Ao princípio da democracia a Igreja contrapõe uma monarquia absoluta. Na sociedade civil, aos dirigentes aplicam-se denominações funcionais: ministros, reitores, directores, mas, na Igreja, o Código de Direito Canónico continua com categorias quase ontológicas: são "superiores" e até "superiores maiores", o que implica que os outros são "inferiores". Jesus tinha dito: "sois todos irmãos". Mal um padre é nomeado bispo fica o seu nome próprio precedido de "Dom", abreviatura de "Dominus" (senhor), título senhorial antiquado. Dificuldade maior é a reconciliação com o corpo, com a sexualidade e com as mulheres na sua igualdade com os homens. Do ponto de vista doutrinal ainda hoje causa espanto que o padre Teilhard de Chardin, o cientista que tentou conciliar a fé com uma concepção evolucionista do mundo, continue sob suspeita. Mas como se pode proclamar ainda, no quadro da evolução, a visão tradicional de Adão e Eva e do pecado original? Como é concebível que dois seres apenas semiconscientes tenham cometido um pecado que estaria na origem de todo o mal do mundo? Como é possível continuar a transmitir a ideia perversa de que Deus descarregou sobre o seu Filho na cruz toda a sua cólera, reconciliando-se desse modo com a Humanidade? Este é o nervo da questão: acredita-se, sinceramente, por palavras e obras, que Deus é Amor?


Artigo do Pe. Anselmo Borges, professor de Filosofia, in Diário de Notícias, 2007


quarta-feira, 16 de julho de 2008

A ignóbil porcaria

Se há semanas sobre o estado das coisas da República esta que passou foi uma delas.

Discutiu-se na Assembleia da República antes das férias parlamentares o Estado da Nação.

Não vou comentar o debate em si próprio pois para mim não passou de mais um debate parlamentar que outra coisa. Muita propaganda governativa de um Governo que está mais que descredibilizado perante a opinião pública. Não só se descredibiliza como descredibiliza a política e todos os políticos (que já estão descredibilizados).

Um debate onde se tratou de tudo menos dos verdadeiros problemas do país.

O PSD lá parece que ressuscitou para fazer oposição. Mas ainda continua muito aquém daquilo que pretende (vencer as eleições de 2009)

Mas, política politiqueira à parte, será mesmo importante neste momento fazer um apanhado global de alguns sectores do nosso Portugal.

Começo pela Educação onde reina o facilitismo, tanto ao nível disciplinar como na transmissão de conhecimentos. Nada que choque, num país em que o Ensino Superior já se sabe como anda. E o ciclo vicioso continua...

Na Saúde é a dicotomia público/privado que leva à ruptura do SNS, já para não falar da anarquia que existe entre a classe médica.

Nas Finanças só se pensa no déficit, déficit, déficit, déficit... com as taxas de juro a aumentar e o custo de vida cada vez mais caro.

Na Segurança Social há um ataque às instituições de solidariedade social, sobretudo nas instituições religiosas. O que se espera de Governos de esquerda? Na verdade até terão alguma razão para o fazer se analisarmos no terreno algumas instituições e o que se pratica por lá. Não esquecendo as pensões que daqui a 50 anos serão inexistentes para as gerações mais novas.

A Agricultura e as Pescas são os parentes pobres. Não se cultiva as terras, não se incentiva a cultivar e poucas pessoas já por lá querem trabalhar. Todos querem ser doutores. O problema é que um país não se faz com doutores e ciência somente.

A Economia está baseada na economia privada, com alguns investimentos de empresas estrangeiras (as nossas empresas até são o parente pobre). Enquanto que o Estado é mais um accionista que outra coisa. Não percebo para que existe Estado senão intervem? Além disso são créditos e mais créditos que deixam as famílias endividadas até à medula. Os salários são baixos e não acompanham, nem a média europeia, nem o custo de vida (cada vez mais caro). A par disto o BCE continua os seus aumentos nos juros (com razão?). Os combustíveis são cada vez mais caros (aumentam quase todos os dias). A semana passada o petróleo estava cotado a 147 dólares. A semana que vem será que chega aos 150 dólares? A ver vamos...

Nas Obras Públicas, volta novamente a dicotomia público/privado que se degladiam pelas obras do TGV, Aeroporto, auto-estradas e barragens. Sinceramente num país tão pequeno não perecebo como se fala em tanta obra. Um dia o país será betão e alcatrão (em nome do desenvolvimento). No entanto, tudo fica na mesma. Para além da megalomania que aí anda da candidatura ibérica para o Mundial 2013 de futebol.

Na Cultura, nem se fala. O que ainda vai salvando o nosso património ainda são algumas organizações internacionais e algum mecenato (senão alguns monumentos já estavam pedra sobre pedra). Noutros sectores (música, pintura, teatro, dança) haja Gulbenkian e mecenato.

Na Ciência, os nossos investigadores emigram.

Na malfadada Justiça são casos e casos pendentes onde reina a política de interesses.

Na Administração Interna os polícias não têm autoridade (nem lhes é dada), e quando é dada são comparados aos bufos e aos PIDE’s (que frustração política que aqui anda). Formação na polícia não há (isso é para intelectuais) e reina a anarquia.

Afinal, para que serve o Governo e as suas instituições?

Só mais dois apontamentos. Primeiro, vive-se num país em que as corporações reinam (tenham nome de sindicatos ou não). Parece que o Oliveirinha tinha razão (neste aspecto). Segundo a soberania europeia parece comprometer a nossa soberania nacional e identitária e isso não podemos ficar inertes. Cada vez mais vivemos sob a dependência de Bruxelas ou de outros que queiram mandar em nós (ao que parece a nossa história está repleta de casos semelhantes).

Além disso, a dicotomia Esquerda/Direita parece que cada vez mais é um entrave ao nosso desenvolvimento político, económico e social. Isto tem de acabar... Se somos um regime democrático, tudo está em discussão e tudo deve ser solucionado com o máximo de respeito democrático em nome do país e dos seus cidadãos.

A rotatividade terá também de acabar. Até porque desde 1974 ainda não houve partidos em Portugal que não foram Governo...

Ai Portugal, Portugal... do que é que estás à espera...? D’ el-Rey D. Sebastião?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Realismo: o que se precisa

Meus caros:

Depois de outros blogs já publicados na net, pensei que alguns deles já não faziam sentido existir.

Neste momento é tempo para redefinir posições...

Agora a responsabilidade é mais forte, mas sempre com uma determinação: não me resignar ao actual estado da situação.

Será tempo de continuar a partir pedra. Num país e num mundo que vive cada vez mais alienado dos verdadeiros problemas que é preciso combater.

Neste sentido irei tentar novamente voltar à carga.

A culpa é nossa. Chegamos ao que chegamos por nossa culpa...

Não temos que viver frustrados por um falhado 25 de Abril de 1974, ou 25 de Novembro de 1975... (anda muita gente frustrada com estes acontecimentos).

Neste momento somos obrigados a deixar o passado para trás e aprender com ele.

Os discursos de "ditadura de proletariado", "privado/público", "fascismo/comunismo" têm de acabar de uma vez por todas. E todos estamos a ser coniventes com isto...

Às vezes tenho a sensação que parámos no tempo, talvez em 1974 ou em 1975.

Falta realismo a este país. Mas mais vale "os parvos" continuarem na ignorância enquanto uns tubarões (e umas rémoras) continuarem a comerem os cardumes das sardinhas e dos carapaus (mais pequenos).

Não percebo, como é que se consegue ter um discurso optimista com os portugueses cada vez mais endividados...

Não percebo, como é que os jovens se contentam com 200€ de ordenado...

Não percebo, como é que este governo ainda não caiu...

Não percebo, como é que os partidos da oposição não têm alternativas...

Não percebo, como é que os cidadãos vivem na inércia (o que vale é que não são todos). Infelizmente os que não estão na inércia são os pessimistas...

Sejamos realistas, sejamos realistas...