sábado, 18 de abril de 2009

De 12 a 17 de Abril de 2009

Depois de mais uma Páscoa, de muitas celebrações religiosas, em família, com os amigos, e depois de termos assistido a inúmeros espectáculos levados a cabo por linhas de militância católica mais aguerrida é o momento de nos virarmos novamente para este mundo e sentir o seu pulsar. Sentir os seus movimentos.
Segundo o Dr. Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, em declarações nesta semana que agora finda, entramos mesmo em recessão. O que já era esperado. O que não se sabe é se foi agora ou já tinha acontecido no passado. Daqui a cinquenta anos sabemos. Porém, o que eu acho significativo é que entramos em recessão e ninguém diz nada, ninguém comenta. Tudo passa impune. Afinal onde é que anda o Povo deste país? Continuo sem perceber o porquê de tanta inércia, de tanta alienação que continua e irá continuar. Até um dia... (mas poderá ser tarde)
Falando de factos, porque contra factos não há argumentos.
Na semana em que todos nós estivemos no rescaldo das festas pascais, no Golfo de Aden, junto à Somália, muita pirataria andou por ali a desafiar a NATO. Sinceramente, todos estes episódios fizeram-me lembrar outros tempos idos. Um sinal dos tempos. É de dizer que a Fragata Corte-Real esteve no teatro das operações. Porém, quero deixar em comentário, que a NATO começa, in factum, a vestir a farda de polícia do mundo. Os EUA governam, juntamente com uma ONU apagada e a NATO faz o patrulhamento. Tudo isto é sinal de instituições e sistemas descontextualizados e desactualizados. Na verdade, ou procuram uma redefinição na sua identidade institucional ou então mais vale dar o último suspiro.
Como se não bastasse, lá vem na semana que precede a Páscoa Cristã, mais uns estudos que não adiantam muito acerca daquilo que já se sabia sobre Jesus Cristo. Segundo o jornal "Público" é dito que ele era judeu na forma de rezar e de viver e que era visto como um profeta. Na verdade, quem for um cristão bem formado sabe logo à partida que isto não adianta nada acerca do que já se sabia. Uma tentativa de colocar mais lenha no fogo. Vem mesmo a calhar num tempo em que os cristãos são convidados a voltar-se para a sua fé. Só não entende, quem não quer entender.
No entanto, é no inicio desta semana que se joga para Praça Pública a criação de um CSI Atómico, prenúncio de alguma coisa. É uma tentativa de dissuasão às armas nucleares, utilizando para isso as ciências forenses no combate à sua proliferação. Sinceramente, tenho dúvidas se é este CSI Atómico que irá dissuadir um Irão, uma China, um Paquistão, uma Índia, ou até os nossos EUA na não criação de armas nucleares, quando ainda à dias a Coreia do Norte testava um míssil com capacidade para 20 ogivas nucleares. No entanto, eles armam-se...
No país, a semana iniciou com a especulação de dentro do PSD sobre o candidato às eleições europeias entre o Dr. Marques Mendes e o Dr. Paulo Rangel. Depois de tanto suspense feito pela Dra. Manuela Ferreira Leite, ficamos a saber que o candidato seria o Dr. Paulo Rangel. Na minha perspectiva, é um excelente parlamentar, um homem de bancada, alguém que está agora a começar as suas lides políticas, no entanto tem atrás de si um partido que não se levanta depois do efeito Sócrates. E isso, poderá ser nefasto para o Dr. Paulo Rangel e para o partido.
A reforma do mapa judiciário que teve o seu inicio nesta semana deixou 60 vagas por preencher nos tribunais com a falta de magistrados do Ministério Público a sentir-se sobretudo no interior do país. Esta reforma do mapa judiciário não passa de uma reforma economicista e com uma grande falta de visão política pelos problemas judiciais do país. Mas mais que isso uma falta de visão dos verdadeiros problemas das pessoas. Depois desta reforma provavelmente haverá pessoas a verem os seus casos a serem julgados a 100 e a 200 km de distância. Com juízes que terão ainda mais processos dos que tinham. Mais uma pseudo-reforma governamental. Se a justiça vai mal, como irá a democracia...?
Na Tailândia, foram dezenas de milhares de pessoas que desafiaram o estado de emergência imposto pelo Governo. Algo vai mal entre a monarquia tailandesa e os governos que vão sendo colocados e que depois caem. Já vi isto noutros países e que levaram à implantação de Repúblicas. A ver vamos o que vai dar esta situação.
A semana prossegue com a Ordem dos Engenheiros, a fazerem uma avaliação aos cursos de engenharia. Sinceramente, é merecido quando olhamos para algumas obras que são aprovadas em autarquias e órgãos governamentais. Na verdade, os engenheiros não se fazem sozinhos e há instituições que terão de ser responsabilizadas, como as universidades e a qualidade do Ensino Superior em Portugal. Meus caros, não existe falta de dinheiro no Ensino Superior, existe má gestão financeira e isso é um dilema que irá sempre acompanhar o Ensino Superior em Portugal.
Porém, a queda de preços que ameaça agravar a crise. Mais um sinal do inicio do grande turbilhão que agora começou. Será tempo de nos começarmos a preparar para tal e não enfiarmos a cabeça na areia.
Mas, a polémica da semana irá recair sobre a nova canção dos Xutos e Pontapés que foi transformada num manifesto anti-Sócrates. O que resta saber é se estamos diante de uma campanha de marketing, por parte da editora, ou da banda, lançada nos jornais, ou se de facto estaremos a caminho de uma forma de censura muito estranha. Não sabemos com o que contamos.
Depois do anúncio de recessão económica nacional, por parte do Dr. Vítor Constâncio, não quero deixar passar em branco as palavras deste senhor, que afirmou que "Portugal só recupera quando a crise acabar nos EUA e na Europa". Bem podemos esperar... Mais uma vez Portugal a ser o macaco de imitação dos outros. É o nosso fado... Estas declarações demonstram bem o estado de pobreza de valores políticos, económicos e sociais em que o país se encontra mergulhado.
Depois do anúncio do candidato às eleições europeias pelo PSD, o Dr. Paulo Rangel lançou as suas primeiras farpas ao candidato do PS afirmando que quer discutir o país nas eleições europeias, ao que o Dr. Vital Moreira, candidato do PS, respondeu que são palavras infantis. No entanto, nem um, nem outro convencem. Enquanto permanecermos nestas lutas intestinas entre esquerda e direita, que mais parecem, briguinhas de Jardim-Escola, a política sai descredibilizada e os problemas do país mantém-se e agravam-se. É necessário devolver à política portuguesa dignidade e isso só se conseguirá quando estas briguinhas de Jardim-Escola, entre a esquerda e a direita se dissiparem na mente de quem faz e de quem quer fazer política em Portugal. E os exemplos terão de vir de cima. Porque não a criação de um Bloco Central? Hoje a diferença entre PS e PSD, ideologicamente falando, é quase nula.
No seguimento da semana, mais uma jogada eleitoral em ano de eleições, entre PS e Bloco de Esquerda com a viabilização do Projecto-Lei do BE que põe fim ao sigilo bancário. Sempre fui apologista do sigilo bancário. Quem não deve não teme. Agora o que resta saber é a sua aplicabilidade e se de facto é exequível ou não. Porém, esta nova lei poderá abrir caminhos ao controlo dos cidadãos por parte dos órgãos de poder, estando em causa os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Tudo em nome da luta contra a corrupção, off-shores e afins.
Na verdade, são as declarações do presidente do BES, que me suscitam uma pergunta. O Dr. Salgado disse que "a banca está sã e recomenda-se". A pergunta que me suscita é esta: Se estamos em recessão, como disse o Dr. Vitor Constâncio, então porque é que o sr. presidente do BES, um dos maiores bancos nacionais vem com esta afirmação para os jornais? Afinal, estamos em recessão, ou a recessão é só para alguns?
Uma semana depois, do empate em Inglaterra, o FC Porto é derrotado em casa por um português, contra o Manchester United e deixa assim a Liga dos Campeões. Menos uns milhares de euros que não entram nos cofres do clube da cidade Invicta.
No final da semana fomos sobressaltados com o cancelamento de 2400 voos da TAP até ao final de Junho por falta de passageiros. Na verdade, serão 30 serviços por dia que a companhia aérea irá deixar de fazer. Crise, ou não, este cancelamento de voos por parte da TAP por falta de passageiros não deixa de ser um sinal que algo vai mal tanto na companhia como no mundo.
Além disso, o INAG (Instituto Nacional da Água) está em pé de guerra depois de ver um bem imóvel penhorado pelo fisco. Afinal o que se passa neste instituto para que o fisco tome uma posição destas?
Deste modo e mesmo para findar a semana, é a notícia de que a cultura procura novos caminhos. Com menos dinheiro e uma nova relação com os públicos ditada pelas novas tecnologias levam a uma reinvenção da proximidade da cultura com o grande público. Nesta matéria o que me faz ter dúvidas é se a utilização das novas tecnologias ao serviço da cultura poderão ser benéficos ou prejudiciais à preservação do património e da nossa memória cultural e identitária. Não quero parecer reaccionário à mudança, mas deixo a dúvida no ar.
Neste sentido, é necessário que neste momento, nós, geração mais jovem, tomemos o nosso futuro, o futuro do nosso país, de uma forma credível e competente, para que possamos partir rumo a um país renovado e melhor para os nossos sucessores. O futuro está nas nossas mãos.
Na verdade, temos as instituições, as associações, as colectividades a envelhecer. Sabemos criticar, mas o que já fizemos para melhorar? É necessário que nós jovens tomemos a sociedade do nosso tempo e façamos dela a nossa sociedade, com defeitos e virtudes.
A revolução acontecerá, quando cada um de nós pegar na sociedade e nos seus problemas e possamos dar-lhe o nosso molde pessoal. E não são grandes gestos, são os pequenos gestos que têm importância. São estes pequenos gestos que fazem a história e a memória de um povo.
Quando muitas vezes desvalorizamos o colectivismo e o associativismo, e pensamos que isso é coisa para velhos, porque não dinamizá-lo à nossa maneira, em vez de colocarmos a cabeça na areia?
Porque havemos de desvalorizar a política, quando a política só poderá ser melhor e de qualidade quando a fizermos como algo nosso? Como uma responsabilidade nossa?
"Não perguntem o que o país pode fazer por vós. Perguntem antes, o que podem fazer pelo vosso país". Uma frase célebre e que já cruza quarenta de anos de história e que hoje mais que nunca deverá ser aplicada.

Sinais do tempo





Títulos do jornal "Público" de 12 de Abril a 17 de Abril de 2009