sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

De São Gregório Magno, papa

Ao comer do fruto da árvore proibida, Adão transgrediu os preceitos da vida (Gn 3,6). Quanto a nós, é reduzindo, na medida do possível, o que comemos que nos reergueremos e reencontraremos a alegria do Paraíso.


No entanto, que ninguém fique a pensar que basta essa abstinência. Com efeito, diz Deus pelo Seu profeta: «O jejum que Me agrada é este: [...] repartir o teu pão com os esfo¬meados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não des¬prezar o teu irmão» (Is 58,6-7). Aí está o jejum que Deus aprova: aquele que é apresentado com as mãos cheias de esmolas e o coração cheio de amor, um jejum todo preenchido de bondade. Dá a outrem aquilo de que te privas pessoalmente e a tua penitência corporal contribuirá para o bem-estar físico dos que passam necessidades.


Assim poderás compreender a censura do Senhor pela boca do profeta: «Quando jejuastes e chorastes [...], foi realmente em Minha honra que multiplicastes os vossos jejuns? E quando comíeis e bebíeis, não éreis vós os comedores e os bebedores?» (Zc 7,5-6) Ser comedor e bebedor é consumir alimentos destinados ao sustento do corpo sem os partilhar com ninguém, já que eles foram destinados pelo Criador a toda a comunidade humana. Jejuar em proveito próprio é privar-se temporariamente de alimento, mas reservar esse fruto da auto-restrição para o consumir mais tarde. «Ordenai um jejum», diz o profeta (Jl 1,14). [...] Que a cólera cesse e as querelas desapareçam! É vã a mortificação do corpo que não impõe ao coração a disciplina para refrear desejos desordenados. [...] Diz ainda o profeta: «No dia do vosso jejum só cuidais dos vossos negócios, e oprimis todos os vossos empregados. Jejuais entre rixas e disputas, dando bofetadas sem dó nem piedade» (Is 58,3-4). [...] Com efeito, só perdoando aos nossos irmãos é que Deus não nos imputará a nossa injustiça.

in evangelhoquotidiano.org