segunda-feira, 14 de maio de 2012

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo, sobre os Actos dos Apóstolos

Mostrai-nos, Senhor, quem escolhestes
Naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos discípulos, disse. Pedro, a quem Cristo tinha confiado o rebanho, movido pelo fervor do seu zelo e dado que era o primeiro dentro do grupo, foi o primeiro a tomar a palavra: Irmãos, é necessário escolher de entre nós. Aceita a opinião de todos, a fim de que o escolhido seja recebido com agrado, evitando a odiosidade que se podia insinuar, já que estas coisas, com frequência, são origem de grandes males.
Mas não tinha Pedro autoridade para escolher por si só? É claro que tinha; mas absteve-se, para não mostrar favoritismo. Além disso, ainda não tinha recebido o Espírito Santo. E apresentaram dois, diz a Escritura, José, chamado Bársabas e que tinha o sobrenome de Justo, e Matias. Não foi Pedro que os apresentou, mas todos. O que ele fez foi aconselhar esta eleição, fazendo ver que a iniciativa não era sua, mas anunciada já anteriormente pela profecia. A sua intervenção neste caso foi interpretar a profecia e não impôr um preceito.
E continua: É necessário que de entre os homens que andaram connosco. Reparai como se empenha em que tenham sido testemunhas oculares; embora o Espírito Santo, houvesse de vir depois sobre eles, dá a isso grande importância.
De entre os homens que andaram connosco, todo o tempo que o Senhor Jesus passou no meio de nós. Refere-se àqueles que viveram com Jesus e não aos que eram apenas discípulos. De facto, eram muitos os que O seguiam desde o princípio. Vede como diz o Evangelho: Era um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João e seguiram Jesus.
Todo o tempo que o Senhor Jesus passou no meio de nós, desde que foi baptizado por João. Com razão assinala este ponto de partida, já que ninguém conhecia por experiência o que antes se passara, mas foram ensinados pelo Espírito Santo.
Até ao dia em que nos foi levado para o alto; é necessário, pois, que um deles se torne connosco testemunha da sua ressurreição. Não disse: «Testemunha de tudo o mais»; mas só: Testemunha da ressurreição. Na verdade, seria mais digno de fé quem pudesse testemunhar: «Aquele que vimos comer e beber e que foi crucificado, foi esse que ressuscitou». Não interessava ser testemunha do tempo anterior nem do seguinte nem dos milagres, mas simplesmente da ressurreição. Porque todos os outros factos eram manifestos e públicos; só a ressurreição se tinha realizado secretamente e só eles a conheciam.
E todos juntos rezaram, dizendo: Vós, Senhor, que conheceis o coração de todos, mostrai-nos. Vós, não nós. Com razão O invocam como Aquele que conhece os corações, porque a Ele, e a ninguém mais, competia fazer a eleição. Assim falavam com toda a confiança, porque a eleição era absolutamente necessária. E não disseram: Escolhei; mas: Mostrai-nos quem escolhestes. Bem sabiam que tudo está preestabelecido por Deus. E deitaram sortes sobres eles. Ainda não se julgavam dignos de fazer a eleição por si mesmos; por isso desejaram ser esclarecidos por algum sinal.
 
(Hom. 3, 1.2.3: PG 60, 33-36.38) (Sec. IV)
in Liturgia da Horas