quinta-feira, 10 de maio de 2012

Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, bispo

Um só morreu por todos; e é Ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho, imolado nos alimenta, acreditado nos vivifica, consagrado santifica os que O consagram.

Esta é a Carne e o Sangue do Cordeiro: É o mesmo pão descido do Céu que diz: O pão que eu hei-de dar é a minha Carne pela vida do mundo. Também o seu Sangue está significado sob a espécie do vinho. Disse-o Ele mesmo ao afirmar no Evangbelho: Eu sou a verdadeira videira, manifestando com suficiente clareza que é seu Sangue todo o vinho oferecido como sacramento da sua paixão. Por isso, já o santo patriarca Jacob tinha profetizado acerca de Cristo, dizendo: Lavará em vinho a sua veste e no sangue das uvas a sua túnica. De facto, havia de lavar no seu próprio Sangue a túnica do nosso corpo que tinha tomado sobre Si como um vestido.

O Criador e Senhor da natureza, que produz o pão da terra, também transforma o pão no seu próprio Corpo (porque pode fazê-lo e assim o tinha prometido); do mesmo modo, Aquele que transformou a água em vinho, transforma o vinho no seu Sangue.

É a Páscoa do Senhor, diz a Escritura, isto é, a passagem do Senhor. Por isso não julguemos terrestres os elementos que se tornam celestes, porque o Senhor “passou” para estas realidades terrestres e transformou-as no seu Corpo e no seu Sangue.

O que recebes é o Corpo daquele pão do Céu e o Sangue daquela videira sagrada. Com efeito, ao entregar aos discípulos o pão e o vinho consagrados, diz: Este é o meu Corpo; este é o meu Sangue. Acreditemos, portanto, n’ Aquele em quem pusemos a nossa confiança: a Verdade não sabe mentir.

Por isso, quando Ele falava sobre a necessidade de comer o seu Corpo e de beber o seu Sangue, a multidão, desconcertada, murmurou dizendo: São duras estas palavras; quem poderá escutá-las? Querendo purificar pelo fogo do Céu tais pensamentos – que deveis evitar, como já vos disse – o Senhor acrescentou: O espírito é que vivifica, a carne não serve para nada. As palavras que Eu vos disse são  espírito e vida.

(Tract. 2: CSEL 68, 26.29-30) (Séc. IV)
in Liturgia das Horas